A “enturmação” - junção de turmas diferentes de alunos em uma super-turma -, adotada pelo diretor do Colégio Estadual da Bahia (Central), Jorge Nunes, gera conflito entre a comunidade acadêmica. Inseguros com o que pode acontecer com o ano letivo e com os professores que se tornariam excedentes com a reestruturação pedagógica, alunos e corpo docente condenam a atitude de adotar a enturmação no final do período escolar de 2007 – faltam três meses para acabar o ano letivo.
A professora de biologia Ângela Dantas, que trabalha na escola há 17 anos, diz que a reestruturação é uma boa idéia, mas que não é pedagogicamente apropriada para ser implantada em meados da terceira unidade. “Estamos terminando uma unidade e tem aluno que até hoje não teve aula de algumas matérias. Em que condições ele vai consegui acompanhar uma turma que esteja adiantada?”, questiona a professora.
Indignado com a situação de conflito, o professor de história, Miguel Antônio Dantas, que também leciona na casa há 17 anos, declara que os professores não estão sendo respeitados quanto a decisão do novo diretor. “Nossa opinião não está sendo levada em consideração. Somos nós professores que entendemos sobre o dia a dia da educação dos nossos alunos. Não somos contra a reestruturação, só não concordamos com a forma como ela está sendo implantada. O momento é inapropriado, e ela está sendo imposta”, declara.
A situação é de divergência entre o corpo docente, alunado e direção da instituição. Os professores se queixam que os alunos os procuram com medo de perderem o ano, e que ao contrário do que alega o diretor Jorge Nunes, que o objetivo da iniciativa é solucionar os problemas do Central, o clima é de conflito. Os professores acreditam ainda que esse embate pode provocar um agravamento da evasão escolar, que já foi elevada devido à greve na rede estadual, que durou mais de 60 dias no inicio deste ano.
O aluno Robson Pereira, que cursa o terceiro ano do ensino médio no turno noturno, diz que a escola está em péssimas condições. “Nossa professora de geografia tirou licença para fazer um doutorado, e desde que a greve acabou não foi colocado um professor substituto. Juntar as turmas não vai fazer a gente recuperar os assuntos perdidos”.
“Estudamos a matéria desde o início com um professor, se tiver a mudança vai misturar os assuntos, desta forma a “enturmação” vai acabar piorando as coisas. Porque não ouviram nosso pedido de professor substituto depois da greve?”, questiona a aluna Rosimeire Nunes, também aluna do terceiro ano noturno.
O professor de matemática Joel Barros, que leciona no Central há quatro anos, acredita que o governo estadual trata a educação como um faz de conta e não olha para as dificuldades das instituições. “Não temos piloto na escola, se escrevemos é porque trazemos de outra escola ou porque compramos. Não temos apagador, a xerox está quebrada, os quadros estão estragados, o banheiro não tem quem entre de tanta sujeira, muitas vezes não tem nem água para a gente beber. Isso tudo é uma vergonha”, declara o professor, citando as péssimas condições de trabalho e a falta de intra-estrutura da instituição.