Kleyzer Seixas
A música Eu Quero Esse Amor, que já se configurava como um dos grandes sucessos do verão baiano, agora, virou objeto de contenda por exclusividade entre o tiranossauro rex do Carnaval soteropolitano, Chiclete com Banana, e a desconhecida banda, Xulipatchu. Apesar da confusão deflagrada pela Xulipatchu, que pleiteia o direito de ser seu único executante, a canção vai continuar no repertório dos chicleteiros e ainda figurará no próximo CD da banda, sem nome definido e previsto para ser gravado no primeiro semestre deste ano.
Quem afirma isso é o empresário do grupo, Robert Cavalcanti. Somos intérpretes e não pagamos para cantar. É uma questão que os autores do hit terão de resolver. O fato é que a musica está editada e já é um sucesso, explicou. O empresário também garantiu que o Chiclete não será prejudicado por conta do impasse entre os compositores da canção e a banda Xulipatchu, que também foi autorizada a tocá-la.
A Xulipatchu afirma que pagou R$ 500 pela exclusividade de um ano e quer o reembolso do valor. Ameaça ainda entrar na justiça para garantir seus direitos. Os compositores Paulo Jorge dos Santos Prata e Reinaldo Barbosa de Jesus negam a exclusividade. Eles garantem que cederam a canção para as duas bandas.
Os compositores irão devolver a quantia quando receberem da BMG, gravadora do Chiclete, o valor sobre os direitos da canção. Não vamos nos sujar por causa de R$ 500, diz Prata. Eu Quero Esse Amor foi composta há cerca de oito meses e oferecida primeiro ao Chiclete com Banana. Depois, os autores apresentaram-na para os integrantes da Xulipatchu, que tocaram a canção durante um mês numa rádio local. Quando eles estavam com a canção no ar, soubemos que Bell (Marques, vocalista do Chiclete com Banana) havia gostado da letra, então permitimos, destacou Paulo Prata.
O compositor diz que assinou um contrato com os dois grupos e não autorizou a exclusividade em nenhum dos casos. Estão fazendo essa confusão porque é o Chiclete. Esse estardalhaço é para ganhar dinheiro e visibilidade, acusou Paulo Prata, que compõe há mais de 20 anos.
Segundo o advogado especializado em direitos autorais, Ricardo Pinho, somente o autor pode, em determinados casos, impedir a execução. Uma pessoa que compõe músicas religiosas pode vetar a sua execução em festas como o Carnaval, exemplificou.
No entanto, a banda que pagou pelo direito de exclusividade pode cobrar em nome dos autores, afirma Pinho. Eles gerenciam o recebimento do pagamento pela execução. Ao invés do autor receber, quem recebe é a banda, acrescentou, ao lembrar que é preciso analisar o contrato entre as partes para dar o parecer sobre a situação. A princípio, o ideal é saber se há, mesmo, exclusividade.
Os representantes da banda Xulipatchu não foram encontrados para comentar sobre o assunto.
Por aí...
U2 na Bahia!
É bom demais pra ser verdade, mas é: a banda irlandesa U2 vem para Salvador, como convidado de Gilberto Gil e Flora Gil para o Camarote Expresso 2222. A vinda foi confirmada pela assessoria do camarote, na tarde de ontem. Gil fez o convite a Bono quando eles estiveram juntos no último Fórum Mundial em Davos, na Suíça, e o homem topou. O U2 sobe para Salvador logo depois da turnê brasileira, que acontece nos dias 20 e 21, no Morumbi, São Paulo, e desembarcam na cidade na quarta-feira, dia 22, quando serão recebidos na casa de Flora, no Horto Florestal. Já na quinta, 23, Bono e sua banda fazem uma espécie de pré-estréia do Camarote Expresso 2222, a um dia antes da inauguração oficial do espaço. Durante o Carnaval, do janelão do espaço vip, os roqueiros vão conferir a passagem dos blocos no circuito Barra-Ondina.
Pé-de-ouvido
Armandinho
O Carnaval virou um palco de tudo
Ceci Alves
Armando Macêdo é o Armandinho virtuose da guitarra baiana, guitarra, do cavaquinho e bandolim, e também é lenda viva do Carnaval. Herdeiro do trio elétrico, ele sabe como ninguém da história da folia soteropolitana e se posiciona com firmeza em favor dos trios independentes e contra a descaracterização do Carnaval de rua de Salvador. Em entrevista exclusiva a Sotaque Baiano, ele conta sobre seu projeto, Armandinho Convida que hoje traz os irmãos Macêdo e Margareth Menezes no Rock in Rio Café Salvador, às 22 horas sobre a volta dA Cor do Som e, claro, de Carnaval.
Como foi a volta com A Cor do Som?
A nossa base de show são as músicas mais conhecidas da gente que ficaram, porque a gente ainda não teve tempo de compor. A gente se encontrou, fez um DVD com quatro músicas inéditas, mas não é um trabalho novo. Foi feito em cima da revitalização de coisas antigas. A volta se deu porque a gente sempre foi muito amigo, muito unido, nunca se separou, sempre gravamos um no disco do outro, eu, Mu, Dadi, Ari e o Gustavo. A gente sempre teve muito ligado. E, foi só pintar uma proposta empresarial. Vamos trabalhar este DVD por dois anos, e ainda um outro disco pra final deste ano, de músicas inéditas e regravações.
E como surgiu a idéia do projeto Armandinho Convida?
Meu amigo, Dinho Bandeira, vinha com essa idéia de fazer um Armandinho Convida pré-Carnaval, já que eu já o fazia, só que instrumental. Acho legal, porque eu não tenho essa história com pré-Carnavais, apesar de participar muito dos outros. Minha base, nesses shows, é com a guitarra baiana, além de fazer alguns hinos, como Chame Gente, Vida Boa, Zanzibar... E os convidados que estão vindo, como o Afrodisíaco, acabam deixando músicas, que se incorporam ao repertório. É legal, porque vai ficando a história dos convidados no nosso show.
Você, que é considerado um integrante do Carnaval pré-axé, como vê o saldo dos 20 anos da axé music?
Quem primeiro falou de axé foi Luiz Caldas. Até nas primeiras músicas do axé, (cantarola) Axé, meu bom Alá, Axé, meu Zanzibar..., que ele cantava em 81, 82, foi ele quem falou primeiro nisso. Acho que, a partir daí, o axé ficou estabelecido musicalmente. E Luiz foi também um divisor de água na música do trio elétrico.
Ele estabeleceu o estilo dele, a música dele, e foi aí que se deu a abertura maior para tudo que se faz hoje. Aí, a música afro começou, ela que é, por sinal, superbem integrada com o elétrico. Eu costumo dizer que o frevo que a gente faz no trio elétrico, tocado na caixa, ralentando, tocado no tambor pelo Olodum, é o samba-reggae. É uma descoberta. É um grande saque do Neguinho do Samba, considero uma das grandes coisas da criação musical dentro da percussão afrobaiana.
Qual o futuro do Carnaval da Bahia?
A única coisa que eu acho é que virou um palco de tudo. Durante o Carnaval, as manifestações baianas têm que aflorar. Tem que ser uma coisa que realmente mostre a cultura baiana, o que acontece na Bahia, os artistas baianos. Ficar contratando coisas porque estão na mídia e botando em trio elétrico, eu acho que isso deturpa, vai tirando a originalidade, o que caracteriza a Bahia, a autenticidade. Tem coisas que fico olhando assim, sem acreditar. Porque já abriu muito, o trio já virou uma coisa assim, de todas as músicas, né?
Por exemplo?
Têm contratações, têm coisas que eu acho que não deviam estar.
Esse DJ inglês, por exemplo?
Eu não vi sobre isso... Vai estar no trio elétrico?
Sim. Chama-se Fatboy Slim...
(Sorri, nervoso) É isso que eu digo... Eu não sei até que ponto essas coisas têm ou não a ver... É baiano, ele?
Não, é inglês...
(Surpreso) É inglês? (Risos) Né nem brasileiro, né... (Risos) Bom, eu acho que tem que ter um momento pra ele mostrar, eu acho que não pode ser nos desfiles. Imagina se lá na Marquês de Sapucaí permitissem passar uma manifestação como essa? Quer dizer, ia mudar toda a história da Sapucaí, da escola de samba... Eu entendo porque Recife, um dia, proibiu a música baiana. Porque eles têm que se estabelecer com a cultura deles, com a orquestra de frevo, com os metais, com os blocos que eles têm. Se o trio elétrico invadisse que é uma máquina de som poderosa que, realmente, acaba com as pequenas manifestações , isso não ia acontecer. Aqui, você vê que as pequenas manifestações do Carnaval, na rua, não aparecem. Quem não aderiu ao trio elétrico, como os blocos afro fizeram, perde a força e acabam, mesmo. Entra em extinção, no Carnaval. Quem preserva sua cultura, sua história, não deixa isso acontecer. E aqui, na Bahia, quem tomou conta disso é o empresário. A coordenação do Carnaval, que é quem poderia manipular isso, entregou para eles (os empresários), por acreditar que é o Carnaval bonito, o Carnaval do turista que conta. Eu acho que o turismo, este Carnaval bonito que temos, teríamos em qualquer circunstância, porque a Bahia sempre teve isso. Sempre teve um dos maiores carnavais de rua do Brasil.
Vocês vão sair no circuito Barra-Ondina este ano?
São três dias na Barra. Acredito que vai ser no sábado, no Campo Grande, domingo, segunda e terça na Barra. Mas a gente já vai para a Barra desde antes de ter circuito. A gente ia para a Barra quando não tinha nada. Resolvia ir e juntava lá cinco, seis mil, e ia chegando gente... Até que começou a ter eventos na Barra com trios. Mas, aí, os blocos quando começaram a estabelecer uma fila, ainda nos anos 80 para os 90, que, diziam, era só para organizar a saída. Eles diziam isso para meu pai. Tudo bem, a gente nunca dependeu de fila. O Trio Elétrico Dodô & Osmar saía do Politeama, entrava onde quisesse, se quisesse ia para a Barra, e sempre disseram pra gente: Vocês saem a hora que quiserem, no lugar onde quiserem. Eu sei é que o tempo foi passando, eles foram dominando esse espaço, porque os blocos são muito fortes. Então, junto com a coordenação (do Carnaval), com tudo isso, eles acabaram instituindo que a fila é a rua inteira. Então, você chega na Barra, tem a fila e tal, a gente vai botar o nosso trio, vem um de lá e diz: Não, vocês não estão aqui na fila, não! Vai lá pra trás!. Aí, vem a polícia, todo mundo, a mando da coordenação. Os blocos estabeleceram, a coordenação aceitou e a polícia vai em cima e, se não respeitar, prende o motorista do caminhão, prende quem for Isso é uma das coisas que o poder econômico, que se estabeleceu no Carnaval, foi impondo aos trios independentes.
Quem manda no Carnaval de Salvador são os blocos?
São os blocos, tranqüilamente. Os independentes ficaram com um espaço muito pequeno, sem ter horário nobre, de grande divulgação. E os trios independentes, hoje, são muito fracos dentro desse mecanismo. A gente está aí porque tem um nome, tem tido apoio do governo esses anos todos.
A coluna Sotaque Baiano sai diariamente neste espaço, até o Carnaval. Correspondência para R. Professor MiltonCayres de Brito, 204 - Caminho das Árvores, Cep 41822-900 ou pelo fax 3340-8712