As Melhores Noites de Veroni
Divulgação | Liz Riscado
Os filmes que passarão pelas telas do 50º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foram sendo divulgados aos poucos. Primeiro a competição de longas e curtas-metragens, depois os filmes da Mostra Futuro Brasil, em seguida os curtas universitários e por fim as sessões especiais e mostras paralelas. Em todas elas há filmes baianos selecionados.
Entre curtas e longas, serão mais de dez produções baianas exibidas no festival. O longa “Café com Canela”, de Ary Rosa e Glenda Nicácio, e o curta “Mamata”, de Marcus Curvelo, do coletivo Cual – Coletivo Urgente de Audiovisual, fazem parte da prestigiosa mostra competitiva.
Um dos destaques desta edição é o aguardado “Abaixo a Gravidade”, do veterano cineasta Edgard Navarro, filme que encerra o festival. Ele retorna a Brasília depois de ter se consagrado com sete prêmios Candangos em 2005 com seu primeiro e tardio longa primaveril “Eu Me Lembro”.
Já “Abaixo a Gravidade”, nas suas próprias palavras, é um “filme de outono”. O título, aliás, remete a uma frase icônica do clássico média-metragem de Navarro, “SuperOutro” (1989). Mas ele mesmo acentua as diferenças: “a loucura não está na personagem central, mas na realidade que o circunda e o empurra para o lugar da escolha entre a extrema compaixão e o transe”, revelou o diretor.
Segundo Navarro, a ideia para o filme surgiu quando ele finalizava “O Homem Que Não Dormia” – seu longa anterior, que também competiu em Brasília. Ele define seu novo trabalho como “um filme da maturidade, quando as correntes impacientes e revoltas das cascatas já procuram a calma do remanso antes de se fundir ao mar”.
E ainda para falar dos veteranos, não é possível esquecer que a diretora e atriz baiana Helena Ignez segue firme na carreira de direção que assumiu há poucos anos e lança no festival seu mais novo filme, “A Moça do Calendário”.
Arriscando com o curta
Uma novidade na edição deste ano é a criação do FestUniBrasília, mostra alternativa que seleciona filmes de estudantes de cinema e audiovisual de todo o Brasil. Dos 20 selecionados, cinco são baianos.
“O Festival de Brasília é uma grande janela do cinema brasileiro que possibilita que a gente aumente e desenvolva um diálogo, colocando o cinema do interior da Bahia em foco”, disse a diretora Camila Gregório do curta “Fervendo”, um dos selecionados. Os demais são “O Arco do Medo”, de Juan Rodrigues; “Latossolo”, de Michel Santos; “Com os Pés no Chão”, de Marise Urbano.
E tem também o curta “As Melhores Noites de Veroni”, de Ulisses Arthur. Ele é alagoano, realizou o filme em Maceió, mas é aluno do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Recôncavo (UFRB), que fica em Cachoeira. O filme, portanto, é representante de um curso de cinema baiano. E, além disso, concorre na mostra competitiva oficial de curtas.
A UFRB, aliás, vive ótima fase de visibilidade pelos filmes feitos por pessoas ligadas à instituição, o que se reflete nesta seleção em Brasília. O longa “Café com Canela” é fruto da parceria entre dois alunos que já terminaram a graduação por lá e montaram, no Recôncavo baiano, produtora Rosza Filmes Produções. Dos cinco curtas universitários baianos, quatro são de alunos ligados ao Curso de Cinema de Cachoeira.
“Esses casos recentes devem ser vistos inicialmente como resultado de um trabalho a longo prazo”, contou o coordenador do curso, Adriano Oliveira. “Tanto pelo local em que nos encontramos, quanto pelos atores sociais que integramos, o Curso de Cinema da UFRB é potencializado por um produtivo choque de experiências, sensibilidades e identidades”, complementou.
Adriano ainda acentuou o fato de que, dentro da UFRB, o curso de cinema é o que mais atrai jovens de outros Estados do Brasil. Ele citou outras atividades de formação que contam com a intensa participação dos alunos, como os encontros de cineclubes e também o CachoeiraDoc – que começa hoje sua oitava edição –, “um festival de caráter nacional que atrai para a cidade filmes, realizadores e debates comprometidos com um cinema inconformado, atuante, militante”, afirmou.
Bahia, futuro e presente
As novidades não param por aí. O festival também criou este ano a Mostra Futuro Brasil, dedicada a filmes ainda não finalizados, em fase de pós-produção. Um dos seis selecionados é “Guerra de Algodão”, da dupla Marília Hughes e Cláudio Marques.
Os filmes dessa mostra terão sessões fechadas para curadores e representantes de grandes festivais internacionais convidados. “Estes são espaços que potencializam os filmes antes mesmo deles estarem prontos. Quem assiste são pessoas que buscam conhecer os filmes o quanto antes para que possam lançar em festivais ou mesmo auxiliar na distribuição”, explicaram os diretores.
A dupla já havia participado do Festival de Brasília com seu longa de estreia, “Depois da Chuva”, que venceu três prêmio Candangos. O filme também participou de festivais em caráter de “work in progress”, passando por Buenos Aires e pelo Festival de Cannes. Depois seguiu carreira que o levou a diversos festivais no mundo e no Brasil, o que demonstra a importância desse tipo de experiência.
O filme anterior da dupla, “Cidade do Futuro”, está prestes e a ser lançado, mas deve ainda passar por alguns festivais internacionais antes de ganhar as salas comerciais de cinema.
Outras mostras
Dentre as mostras paralelas do Festival de Brasília, mais uma estreia baiana: o longa “Diários de Classe”, de Maria Carolina da Silva e Igor Souza, será exibido dentro da mostra Esses Corpos Indóceis.
O filme toca em importante questão social ao abordar a vida de jovens e adultos que voltaram à escola para aprender a ler e escrever. “Foi frequentando três salas de aulas que encontramos a história de três mulheres: uma jovem trans, Tifany Moura; uma empregada doméstica, Maria José; e uma encarcerada por tráfico de drogas, Vânia Costa. E através delas falar sobre um sistema de desigualdades de classe, raça e gênero”, revelou a diretora Maria Carol.
Completam ainda a caravana baiana o cineasta Henrique Dantas, que reapresenta seu curta “Ser Tão Cinzento”, sobre o esquecido diretor baiano Olney São Paulo, filme que venceu três prêmios quando competiu no festival em 2011; e o diretor Paulo Hermida com o longa “O Cinema Foi à Feira”, filme memorialístico que remonta às filmagens do clássico “A Grande Feira”, do pioneiro cineasta baiano Roberto Pires.
A 50ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro acontece de 15 a 24 de setembro. O A Tarde fará a cobertura do evento.
Abaixo a Gravidade (Foto: Divulgação)
Diário de Classe (Foto: Divulgação | Igor Souza)