Daniel Dorea | danieldorea@grupoatarde.com.br | Foto: Felipe Oliveira | EC Bahia
Zé recebeu a classificação de “atleta diferente” na análise de Maurício Maltez, fisiologista do clube
Olha como o maluco do futebol faz tudo mudar em dois meses! Estávamos no final de julho e o Bahia vivia a única boa sequência invicta neste Campeonato Brasileiro. Com a goleada por 4 a 1 no Ba-Vi – o quarto na série de oito jogos consecutivos sem perder na competição – o time chegava ao auge na temporada.
No embalo, vinha o principal jogador, o camisa 10, Zé Rafael. Logo após o clássico, matérias encheram sua bola: “Homem de aço”, escreveram. E fazia sentido. Afinal, ele comemorava mais de 100 partidas sem sofrer uma só lesão e, até aquele momento, havia sido desfalque em um mísero jogo na Série A, por suspensão.
Zé recebeu a classificação de “atleta diferente” na análise de Maurício Maltez, fisiologista do clube, que dizia ter preocupação “minimizada” quanto a incluí-lo no rodízio do elenco para evitar desgaste. Era o jogador de linha que mais havia entrado em campo entre todos que disputavam a elite do futebol nacional, e isso não parecia ser um problema.
Virou! Depois daquele Ba-Vi, no qual marcou seu 10º gol na temporada (até então em 51 jogos), o cansaço foi chegando e, com ele, uma queda sensível de rendimento que afetou toda a equipe. Passado o clássico, o meia fez 15 partidas e balançou a rede apenas uma vez, em duelo com o frágil Cerro, pela Sul-Americana. E foi desfalque no Brasileirão em duas oportunidades por problemas físicos (contra Atlético-PR e Vasco). “Não sou de ferro”, contestou, após ser vaiado durante duelo com o Palmeiras.
A mudança de condição se mostra nos números de fundamentos em que Zé Rafael se destaca na Série A – e não são poucos. O jogador é líder do time em dribles, faltas sofridas e finalizações, além de ser o segundo que mais faz desarmes completos. Em contrapartida, também é, disparadamente, aquele que mais perde a posse de bola. Só que, nos 10 jogos que fez pelo Brasileiro, depois do Ba-Vi, Zé acusou queda nos números de produção para o time. Naqueles que ressaltam a tendência em apostar quase sempre nas arrancadas e jogadas individuais, apresentou estabilidade ou crescimento.
Ou seja, com o desgaste físico, aumentou o vácuo de ideias. A média de 3 finalizações por jogo nos confrontos anteriores ao clássico caiu para 2,3; houve decréscimo também em desarmes (de 2,4 a 2) e passes (29,7 a 25,4). Por outro lado, subiu o número de dribles (0,6 a 1,9), faltas sofridas (3,2 a 3,6) e perdas de posse de bola (7,6 a 7,7) – nesses dois últimos quesitos, Zé não é superado por nenhum atleta entre todas as equipes do campeonato.
Movimentação diminui
A amplitude da movimentação, talvez a maior qualidade do seu jogo, também diminuiu, o que pode ser comprovado no infográfico, nos mapas de calor disponibilizados pelo site Footstats (base utilizada para todos os outros números analisados nesta coluna). À esquerda, está sua participação no Ba-Vi, com uma ampla ocupação do campo de ataque. A atuação discreta do último sábado, no 0 a 0 com o Flamengo, pode ser vista à direita.
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Uma das maiores forças que o Bahia tem é iniciar jogadas perigosas a partir de bolas roubadas no campo de ataque. E Zé Rafael aparece como o protagonista nessa postura agressiva de pressão na saída de jogo do adversário. No primeiro tempo diante do Fla, o time construiu três de seus cinco lances mais agudos desta forma, com recuperações feitas por Flávio, Gregore e Zé. Na etapa complementar, surgiu mais uma evidência do cansaço do time e de seu principal jogador: nenhuma das três melhores tramas da equipe começou assim.
Aos 42 minutos, Zé Rafael, que havia reclamado de dores musculares durante a semana, foi substituído. Em pleno processo de oxidação, o ‘homem de aço’ terá de voltar a campo amanhã, para o jogo de volta das oitavas de final da Sul-Americana, contra o Botafogo. E sábado já tem o Grêmio, pelo Brasileirão.
Do alto de minha ousadia leiga, sinto-me obrigado a desconfiar de um erro de cálculo do departamento físico do Bahia, que podia ter poupado o atleta em partidas anteriores para tê-lo mais inteiro agora, na reta final da temporada. Caso tenha havido o equívoco, pergunto-me: ainda dá tempo de corrigir?