Prédio histórico foi reformado para receber o Museu do Carnaval
Muita coisa já foi dita sobre o Carnaval de Salvador: maior festa de rua do mundo; folia que arrasta multidões. Muita coisa já foi mostrada sobre o Carnaval de Salvador, em fotos, vídeos, documentários e filmes. Mas pouca coisa tem sido preservada da história desta grande festa que transformou o cenário musical baiano e brasileiro. Pelo menos, até agora.
Esta ausência de um espaço próprio sobre a memória de uma festa que mobiliza milhões de pessoas – que movimenta e economia e já virou tese de inúmeras pesquisas – está com os dias contados. Dia 5 de fevereiro será inaugurado o Museu do Carnaval.
O espaço vai funcionar na Casa do Frontispício, ao fundo da Catedral Basílica e bem ao lado do Plano Inclinado Gonçalves, no Centro Histórico.
O prédio de quatro andares foi totalmente restaurado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para abrigar o acervo de vídeos, fotos, instrumentos, indumentárias e pesquisas relacionadas ao Carnaval.
"É uma dívida que a cidade tem com essa grande festa e que agora começa a ser paga", avalia o professor Paulo Miguez, doutor em cultura contemporânea pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e um dos maiores estudiosos do assunto.
Uma equipe com cerca de 300 pessoas trabalha nos ajustes antes da inauguração. "Queremos que seja um espaço de convivência de tudo o que o Carnaval e a música podem representar", afirma o secretário municipal de Cultura e Turismo, Claudio Tinoco. Segundo ele, o museu servirá, ainda, para impulsionar a requalificação urbana da área.
Curadoria
O Museu do Carnaval tem curadoria do artista, designer, cenógrafo e diretor de arte Gringo Cardia, que não esconde o entusiasmo. "Vamos contar a história do Carnaval por uma linha do tempo mostrando a transformação da música. O conceito é mostrar a criatividade e diversidade desta festa única no Brasil. O Carnaval como palco da liberdade individual. Isso é mágico", afirma.
No hall de entrada do prédio, o visitante vai se deparar com dois painéis feitos pelo artista J.Cunha. O da parede tem mais de cinco metros de altura e retrata os foliões de rua. Outro, no teto, tem 9,5 x 6m, com a temática dos blocos de índio, e vai ser bordado de paetês. No térreo funcionará a Sala Origens do Carnaval, onde o visitante poderá escolher entre 18 vídeos com temas diferentes sobre a festa e acompanhar as narrativas em português ou inglês.
Um espaço de leitura está sendo montado com apoio do professor Paulo Miguez e da Ufba. "O objetivo é tornar o museu um centro de referência para quem estuda a festa", afirma Cardia. O espaço vai guardar teses, livros e documentos relativos à festa. "A ideia é que este acervo seja ampliado permanentemente, inclusive com a contribuição de coleções particulares", define Miguez.
Interatividade
O segundo andar vai abrigar duas salas de projeção, com capacidade para receber 30 pessoas, cada No local serão exibidos 11 vídeos, de 10 a 15 minutos, que falam sobre os ritmos e artistas que embalam a festa.
O ator Lázaro Ramos explica sobre o Filhos de Gandhy, Caetano Veloso fala das cantoras baianas, Carlinhos Brown, de Luiz Caldas, considerado o "pai da axé-music". Além desses, há depoimentos de Márcia Short, Gerônimo, Orlando Tapajós e outros artistas. A engenharia e organização também são abordadas.
Mas tudo termina em festa. As exibições são acompanhadas por dançarinos-atores que, ao final, convidam todos a aprender e dançar alguma coreografia que fez ou faz parte do Carnaval, como a icônica Fricote, de Luiz Caldas. "Depois de conhecer sobre os Filhos de Gandhy, as pessoas ouvem a música Patuscada de Gandhy, de Gilberto Gil. Cada um vai receber um xequerê e ser convidado a entrar no ritmo do afoxé. No vídeo sobre o Chiclete com Banana vão ser distribuídas mamães-sacode", conta Gringo Cardia.
O subsolo vai abrigar a administração e no último andar vai funcionar o Terraço do Samba, um café-bar todo decorado no estilo das antigas festas de largo, com mesinhas de madeira, banquinhos e bandeirolas coloridas, além de outro painel de J.Cunha com a imagem de pontos turísticos de Salvador, como Elevador Lacerda e Farol da Barra.
O local tem estonteante vista da Baía de Todos-os-Santos e servirá para abrigar lançamentos diversos e para a realização de shows acústicos.