Chico Castro Jr.
Tiras de Sérgio Aragonés aparecem na revista Mad
Quem já pegou uma revista Mad para ler deve ter notado uns desenhinhos espalhados pelas margens das páginas. Criadas por Sergio Aragonés, as Marginais da Mad se tornaram uma marca da publicação.
Espanhol criado no México, Aragonés foi catapultado à fama graças a sua colaboração (que já dura 50 anos) para a revista. Agora, boa parte dessa produção ressurge reunida no livro Os Grandes Artistas da Mad: Sergio Aragonés.
Considerado "o cartunista mais rápido do mundo", o bigodudo Aragonés "desenha uma cena entupida de gente, com 200 personagens fazendo 200 piadas individuais", escreve no prefácio Patrick McDonnell, autor da tirinha Mutts.
Este cartunista, que nunca se prendeu a um personagem, parece ter escolhido a própria vida - ou melhor: tudo o que acontece ao seu redor - como a matéria-prima do seu trabalho.
"É apropriado que a maioria das joias de Sergio tenha encontrado seu caminho disseminada nas margens da Mad. Geralmente, é onde a vida acontece - nos rebordos, aqueles momentos simples que estão bem na nossa frente", percebe McDonnell.
Filho de um artista espanhol que se mandou com a família para o México quando a Guerra Civil (1936-39) estourou, Aragonés se apaixonou pela Mad em 1955. Quando chegou aos Estados Unidos em 1962, já havia estudado arquitetura e pantomima (mímica) - foi aluno do renomado cineasta/dramaturgo/escritor/ator/guru espiritual Alejandro Jodorowsky.
O conhecimento da expressividade corporal pela pantomima foi essencial nos cartuns silenciosos que o tornaram um mestre dessa arte.
As lições de Sergio
Premiado cartunista baiano residente em São Paulo há quase dez anos, Flavio Luiz é um especialista em Mad e Aragonés, tendo encontrado-o em duas ocasiões, com direito a uma preciosa lição do ídolo. "Coleciono a Mad desde os nove anos de idade, quando ela ainda saía no Brasil pela extinta Editora Vecchi", conta.
A primeira vez que Flávio encontrou Sergio foi em 1996, durante o Salão Internacional de Comics de Barcelona. "Não estava com meu portfólio, mas quando disse que era brasileiro, ele se animou. Falou de caipirinha, lembrou do Ziraldo, que é amigo dele e tal. Conversamos um pouco e disse que o estilo dele me influenciava", conta.
No mesmo ano, Flavio foi à famosa San Diego Comic Con, na Califórnia, e não demorou para achar o stand de Aragonés. "Ele lembrou de mim, me chamou de baiano e tudo ", diz.
"Ele olhou meu portfólio e o que ele me disse se tornou meu mantra: 'Você nunca será um cara do mainstream, porque seu traço é muito autoral. Seu desenho é puro cartum, então você não vai fazer o Homem-Aranha mensal'", lembra Flávio.
"Ele falou que, se eu criasse um personagem e ele caísse no gosto do público, ninguém tiraria isso de mim. 'O seu é um dos caminhos mais difíceis, mas também um dos mais bonitos', ele disse", lembra. "Desde então, todo meu trabalho tem sido essa busca, com os álbuns Aú e O Cabra", conclui.