Até o final do ano, redes de varejo como Wal-Mart e Mundo Verde vão colocar nas suas gôndolas produtos com selo de comércio justo. A FairTrade Labelling Organizations (FLO), organização internacional responsável pela certificação desse tipo de produto, acaba de chegar ao País. O conceito de comércio justo ainda é desconhecido do brasileiro, embora nos países desenvolvidos esse mercado deva movimentar perto de US$ 1 bilhão em 2006 e cresça em média 20% ao ano desde 1997.
O principal objetivo é garantir um canal de comércio eficiente ao pequeno produtor e um preço justo por sua safra. Entram também critérios de sustentabilidade, como respeito ao meio ambiente e ausência de trabalho escravo ou infantil. Hoje existem 40 países produtores e 27 compradores, que buscam produtos como café, bananas, sucos de frutas, açúcar, castanhas, vinho, cerveja, artesanato e até bolas de futebol.
No Brasil, o primeiro produto a ter esse selo será o café. A Café Bom Dia, de Varginha (MG), já vende uma marca com esse conceito nos Estados Unidos. Agora, a empresa está em fase final de negociações com a rede Wal-Mart para colocar o produto nas gôndolas. O produto deve estar nas lojas Sam"s Club até o final do ano, diz Wilson de Mello Neto, vice-presidente de assuntos corporativos do Wal-Mart Brasil.
No ano passado, o Wal-Mart traçou uma meta global para aumentar em suas gôndolas a presença de produtos sustentáveis - como orgânicos e de comércio justo - para 20% em três anos. Nos EUA, 60 milhões de consumidores já compram produtos com esse selo, segundo a TransfairUSA, organismo certificador de comércio justo no país. Em cinco anos, as vendas saltaram de US$ 50 milhões para US$ 400 milhões. O café do bem faz sucesso entre os americanos, consumidores vorazes da bebida. "O café "fair trade" deu um salto de 76% no período, enquanto o segmento de orgânicos cresceu 12%, diz Joe Alcântara, presidente da subsidiária americana da Café Bom Dia.
A expansão desse mercado se deve principalmente à entrada de grandes redes no comércio de produtos com esse perfil, o que está ajudando a democratizar o conceito. Hoje, gigantes como Starbucks, Dunkin Donuts, Wal-Mart e McDonalds já vendem o café com o selo de comércio justo. O Brasil já usa o conceito de comércio justo na produção de café. Porém, 100% da produção, estimada em 3 mil toneladas/ano, é exportada. São nove cooperativas que reúnem cinco mil pequenos produtores, em Estados como Minas Gerais, Espírito Santo e Rondônia.
A saca de 60 quilos de café de comércio justo chega a custar US$ 400 no exterior - ante os US$ 180 pagos ao produtor pela saca de café convencional. Além disso, os contratos para compra de café "fair trade" garantem ao produtor um prêmio de US$ 0,05 por libra (453,5 gramas) de café, dinheiro que deve ser revertido para projetos sociais junto à comunidade produtora, explica Beat Gruninger, sócio gerente da BSD Brasil, consultoria especializada em sustentabilidade e que auxilia os produtores nacionais nos contratos de comércio justo. Todo o processo é auditado pela FLO Certs, braço certificador da FLO.
DESAFIO - O Brasil é um mercado potencial para o comércio justo, mas será preciso que os produtos não custem muito mais caro no País para não afugentar o consumidor. "É um mercado que ainda precisa ser despertado, explica Veronica Rubio, representante da FLO no Brasil. Ela chegou ao País na semana passada e será a responsável por negociar contratos de licenciamento para que as empresas brasileiras possam usar o selo FairTrade - toda a cadeia, do produtor ao varejo, deve ser certificada. "O maior desafio é lançar produtos que não sejam muito mais caros que o produto convencional, diz.
Entre as empresas interessadas em vender os produtos estão redes varejistas, cadeias de hotéis e lojas com um perfil mais focado em bem-estar. A rede Mundo Verde, especializada em produtos naturais e orgânicos, deve começar em breve a oferecer produtos com o selo fair trade, como café e suco de frutas. Os produtos do comércio justo são a fina flor do consumo consciente. Eles serão o diferencial competitivo das empresas neste século, diz Jorge Antunes, sócio-diretor da Mundo Verde. Na opinião dele, o consumidor está cada vez mais interessado não só no conteúdo do produto, mas nas condições em que é produzido. Hoje, dos 1,2 mil fornecedores da rede de lojas, 900 são micro e pequenas empresas. É uma tendência mundial.