O professor Molinari, da FTC, vê futuro promissor
Pouco antes da realização da primeira Campus Party Bahia, em agosto do ano passado, André Costa, dono do provedor de internet Use Telecom, participou de uma reunião com o governo para ver como seria o evento. E se deu conta de que sua empresa poderia fornecer 10 gigabites de internet para o evento.
Pois a segunda edição baiana da maior festa de tecnologia do mundo acontece no próximo mês de maio, com dezenas de startups baianas em busca de uma grande oportunidade.
“Dividimos o serviço com a Telebrás, e o nosso link acabou sendo o principal”, declarou Costa, CEO de uma empresa cujo faturamento cresceu mais de 50% desde o evento, ganhou os contratos com as edições da CP em Pato Branco (PR), São Paulo e Buenos Aires, além de estar em negociação com o Canadá e os Estados Unidos.
“Começamos uma negociação com o governo para construir uma nova sede no Parque Tecnológico”, diz o CEO da Use, que afirma já ter recebido proposta para vender a empresa. Na última quarta-feira, a Use participou no Rio de Janeiro da Capacity Latam 2018, o maior evento de tecnologia da América Latina, que reuniu gigantes como a Microsoft e a Telefónica.
A Use é um caso bem particular de uma empresa que soube agarrar o momento. “Com a Campus Party, não tínhamos escolha. Era crescer ou ficar para trás”, afirma Costa.
Mas dentro e fora do governo aposta-se que há dezenas de startups com potencial no estado. E que esse número vai crescer.
“Se Israel é o país startup, queremos ser o estado startup”, afirma o secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, José Vivaldo Souza de Mendonça, referindo-se ao país asiático que conseguiu se tornar referência mundial em inovação, com 5.838 companhias atuando em seu pequeno território, sendo 295 multinacionais.
“Somos um povo criativo, como se vê na música e em outras artes. Temos tudo para usar a criatividade também para inovar”, afirma Mendonça.
Uma mostra dessa criatividade é o Aqualuz, um equipamento criado pela Safe Drinking Water for All, start-up socioambiental fundada em 2015 e que torna potável a água de poços artesianos através de um sistema de filtragem e exposição aos raios solares. O produto ainda está sendo aperfeiçoado e um novo filtro, com fibras flexíveis de sisal, deve estar pronto até julho.
Por enquanto, cinco aparelhos estão prontos. Dois foram instalados em uma comunidade quilombola de Feira de Santana e três devem ser levados até abril em Valente, terra do sisal. Para que a empresa se torne viável economicamente, sua fundadora e CEO, Anna Luísa Barreto, estima que sejam necessárias 40 mil unidades, que serão vendidas a prefeituras. “Estamos buscando editais ou empresas que estejam interessadas”, afirma Anna, que teve a ideia de fazer o Aqualuz em 2013, aos 15 anos, para participar do Prêmio Jovem Cientista, do CNPq. Ela não foi selecionada, mas não desistiu da ideia. Esta semana, a inventora esteve no Fórum Mundial da Água, em Brasília, em busca de contatos.
O secretário sonha não apenas com o desenvolvimento de startups baianas, mas com a vinda de especialistas em tecnologia de outros estados e países, para a formação de um ecossistema de inovação em que haja intercâmbio de ideias.
Mas para que isso se torne realidade é preciso que algumas providências sejam tomadas, pelo poder público e também pela iniciativa privada.
“Há projetos incipientes, e o governo do estado tem políticas interessantes, mas ainda falta muito para que crie um ecossistema”, analisa o presidente do Instituto Campus Party, Francesco Farrugia, um italiano que há 14 anos veio morar na Bahia “por amar esse lugar” e que é sócio em uma startup que se encarrega da correção das redações do Enem, empregando 12 pessoas.
Coordenador dos projetos apresentados pela FTC na Campus Party 2017, o professor Paschoal Molinari acredita que o panorama é promissor para o futuro. Ele considera que é necessário fortalecer a infraestrutura básica de conectividade, como os projetos de redes de alta velocidade, além de incentivar ainda mais o empreendedorismo em tecnologia. “Esta é uma semeadura que devemos fazer de forma constante. Dar continuidade aos projetos em andamento e incrementar os incentivos à ciência e tecnologia”, diz.