Luciana alugou seu apartamento e com o dinheiro da locação paga o financiamento
Assim que se conclui a graduação, o sonho de quase todos os jovens é ter o próprio cantinho e ganhar independência dos pais. Mas em uma fase da vida em que a carreira ainda está se definindo e há inúmeras possibilidades, como fazer pós-graduação ou uma viagem ao exterior, qual a melhor opção? Alugar ou financiar o primeiro imóvel?
Especialistas ouvidos por A TARDE indicam que, em geral, o aluguel é uma melhor opção para quem está começando a carreira. Para quem tem um padrão de vida alto, pode compensar mais ainda pagar aluguel, enquanto nos casos de imóveis mais baratos pode ser mais vantajoso financiar.
Noivos, o administrador de empresas Vítor Nunes, 37, e a bioquímica Débora Laranjeira, 32, optaram por comprar um apartamento. "A casa própria é mais que um patrimônio. É algo que você quer ter por estabilidade, para deixar do seu jeito, imprimir sua personalidade", afirma Nunes.
"
Pode haver uma emergência, e, em caso de desemprego, a recolocação pode demorar seis meses
Myrian Lund, professora da FGV
"Eu sou um financista por formação acadêmica, logo, minha visão é que comprar não é vantajoso financeiramente", afirma Nunes, que mora com a noiva, a bioquímica Débora Laranjeira, 32 anos.
Para adquirir o apartamento, o casal usou os seus saldos no FGTS, aproveitando que são recursos que rendem muito pouco, e financiou o restante pela Caixa Econômica Federal. "É melhor pagar juros em torno de 9% ao ano e manter as reservas em aplicações que rendem mais do que isso", ensina o administrador.
Segundo ele, a decisão de comprar o imóvel em vez de alugar também teve a ver com o contexto econômico do país. "É melhor manter as reservas para atravessar a situação atual do Brasil com mais segurança", disse Nunes, para quem comprar um outro imóvel como investimento está fora de cogitação. "Jamais faria isso", declara.
"
Se não der para ficar com parentes, o ideal é morar com a namorada ou namorado
Rafael Paschoarelli, professor
Sobre as reservas, a professora de finanças pessoais da Fundação Getúlio Vargas, Myrian Lund, estipula que o ideal é acumular o equivalente a um semestre de salários. "Pode haver uma emergência, e, em caso de desemprego, a recolocação de um profissional especializado pode demorar seis meses", avalia.
Formada aos 21 anos, a jornalista Luciana Amâncio tornou-se uma empreendedora desde cedo e, quando surgiu a oportunidade, decidiu comprar um apartamento em Lauro de Freitas.
A unidade ficou pronta em março deste ano e, quando ela se preparava para morar sozinha, um caso de adoecimento na família a manteve na casa dos pais no bairro de Matatu, em Salvador.
Vantagens da locação
Preço - Antes de assinar um papel, o interessado deve calcular quanto vai desembolsar em cada uma das alternativas. O dinheiro do aluguel dá uma sensação de ser jogado fora, mas é preciso levar em conta que o contrato dura, em média, um ano, enquanto um financiamento leva décadas, com taxas e despesas que elevam em muito o gasto mensal.
Mobilidade - Se aparecer uma oportunidade de trabalho em outra cidade ou a chance de fazer um intercâmbio no exterior, é muito mais fácil devolver um apartamento alugado do que desistir de um financiamento.
Riscos - Em caso de desemprego, durante a crise, é muito mais fácil lidar com uma negociação de aluguel do que com um contrato de financiamento que, em caso de inadimplência, pode levar à perda do imóvel.
Vantagens da compra
Autonomia - Ao contrário de um aluguel, em que o dono do imóvel impõe regras e pode atrapalhar a vida do locatário, na compra da unidade o morador pode decidir à vontade por reformas que deixem os ambientes ao seu gosto.
Endereço fixo - Se o imóvel satisfizer plenamente às expectativas do morador, ao comprá-lo ele evita o risco de não ter o contrato de aluguel renovado porque o dono tem outros planos para a propriedade. E se o dono quiser vender o imóvel, o morador é obrigado a permitir a visita de interessados.
Aumentos - O contrato de aluguel estipula o valor fixo mensal por um ano. Após esse período, o proprietário tem o direito de elevá-lo com o percentual que desejar para o novo período, desde que encontre alguém interessado em pagar esse novo valor.
"Eu aluguei o apartamento e com esse dinheiro pago as parcelas do financiamento", declara a jornalista, que espera quitar o imóvel por volta de 2046, quando terá 57 anos. Atualmente, ela está com 28. De qualquer forma, a renda do aluguel responde por 32% de seu orçamento mensal.
Avaliar localização
A professora Myrian Lund, da FGV, destaca que a compra de um imóvel é um passo definitivo e que para quem está começando a carreira é mais interessante ir com calma, avaliar o local onde se quer morar através da experiência de um aluguel. "Com o financiamento, o jovem vai comprometer 30% de sua renda. Os aluguéis estão mais baratos neste momento", argumenta Myrian.
A diferença entre o valor do aluguel e o que seria pago no financiamento deve ser guardado, ensina a professora, para o futuro pagamento de uma entrada para a compra do apartamento, quando o jovem profissional estiver mais certo sobre o local em que quer morar e sobre os rumos da sua carreira.
O professor Rafael Paschoarelli é mais radical e considera que o ideal, para quem pode, é não sair da casa dos pais nesse momento de crise e seguir economizando dinheiro.
"Se não der para ficar com parentes, o ideal é morar com a namorada ou namorado", afirma Paschoarelli, que ensina Valuation na Saint Paul Escola de Negócios.
Para ele, entretanto, a escolha entre comprar e alugar um imóvel depende do padrão de vida. "É mais caro alugar um barraco na favela do que financiar uma cobertura no Corredor da Vitória", afirma o professor.
A lógica é que, devido à alta demanda por aluguel de casas populares, o preço relativo de um apartamento para alugar nessa faixa fica muito alto.
Vítor e Débora optaram pela compra para personalizar o apartamento (Foto: Mila Cordeiro | Ag. A TARDE)