O primeiro-ministro Tony Blair superou na quarta-feira uma rebelião da sua bancada e conseguiu aprovar no Parlamento, com votos da oposição, a renovação do arsenal nuclear britânico.
Por 409 a 161 votos, os parlamentares aprovaram o gasto de 15 a 20 bilhões de libras (29 a 39 bilhões de dólares) em novos submarinos com armas nucleares, para substituir os que serão aposentados em 2024.
Cerca de 85 deputados trabalhistas votaram contra, na maior rebelião contra Blair desde 2003, na votação sobre a guerra do Iraque, segundo um dos parlamentares rebelados. A maioria trabalhista na Câmara é de apenas 67 cadeiras, e por isso ele precisou de apoio da oposição.
Blair, que deve deixar o poder nos próximos meses, após uma década no governo, está convencido de que a Grã-Bretanha precisa renovar suas armas nucleares, apesar da arraigada oposição a isso dentro do seu Partido Trabalhista, que no passado fez campanha para que o país abandonasse o arsenal atômico.
Quatro políticos trabalhistas deixaram cargos no governo devido a essa questão. Essa corrente defende que a Grã-Bretanha não precisa mais de armas nucleares para se proteger de um ataque soviético, e que renovando o arsenal fica mais difícil convencer países como a Coréia do Norte a abdicar das bombas atômicas.
Esse grupo também é contra gastar dinheiro num novo sistema de armas, alegando que a verba estaria mais bem empenhada melhorando as forças convencionais e os serviços públicos.
Blair disse ao Parlamento "não haver prova absolutamente nenhuma de que abrir mão da dissuasão nuclear iria melhorar as perspectivas de obter um desarmamento nuclear, acho que o contrário seria o caso".
A chanceler Margaret Beckett argumentou que ninguém pode ter certeza de que não surgirá uma nova ameaça nuclear dentro de 50 anos.
"Enquanto tal risco existir, este governo acredita que manter uma mínima dissuasão nuclear continua sendo um preço que vale a pena pagar numa política de segurança para a nação", afirmou.
A Grã-Bretanha pretende reduzir neste ano em 20 por cento o arsenal nuclear disponível, deixando-o abaixo de 160 bombas, o que significa que o poder explosivo das armas nucleares britânicas será então três quartos inferior ao que era no final da Guerra Fria, segundo Beckett.
Nigel Griffiths, um dos quatro políticos trabalhistas demissionários, disse que a Grã-Bretanha precisa "liderar o mundo na campanha pela erradicação da ameaça nuclear, e nós precisamos dar o exemplo".
O arsenal nuclear britânico é o menor entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (junto com EUA, Rússia, China e França) que são legalmente reconhecidos como potências nucleares sob o Tratado de Não-Proliferação.