Washington - Os EUA consideraram nesta quinta-feira, 31, que o objetivo político da operação na Líbia pode ser cumprido e a pressão fazer com que o regime de Muammar Kadafi caia, embora a frente militar ainda esteja longe de desistir e Washington descarta o envio de tropas terrestres.
No mesmo dia em que a Otan assumiu o comando completo das operações militares na Líbia, os responsáveis pelo Pentágono e o "número dois" do Departamento de Estado defenderam perante o Congresso a intervenção americana.
O Governo de Barack Obama se mostra satisfeito com os resultados conseguidos em ambas as frentes, embora com algumas ressalvas.
O subsecretário de Estado, James Steinberg, considerou perante o Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Representantes que a deserção do ministro líbio de Relações Exteriores, Mussa Kussa, representa "uma indicação" de que as medidas de pressão impostas sobre o regime de Kadafi "podem ter sucesso".
Quando "alguém que esteve durante tanto tempo com Kadafi abandona é um forte sinal de que já não há mais futuro", sustentou.
A Casa Branca indicou que o abandono de Kussa representa "um golpe significativo para o regime" e demonstra que as pessoas que rodeiam Kadafi "entendem que o sistema está desmoronando".
Já o secretário de Defesa, Robert Gates, e o chefe do Estado-Maior Conjunto, almirante Mike Mullen, se mostraram menos eufóricos e, embora concordem na avaliação de que Kadafi acabará abandonando o poder, não se aventuraram a prever quando será esse momento.
O titular do Pentágono reiterou que a operação militar na Líbia "não inclui a derrocada do regime de Kadafi", mas que do seu ponto de vista esse objetivo final será alcançado "com o tempo", com medidas políticas e econômicas.
Além disso, a missão liderada pela Otan continuará destruindo a capacidade militar do regime até que o líder líbio e aqueles que o rodeiam precisarão tomar uma decisão diferente, sustentou Gates.
Isso "pode fazer com que o próprio exército rompa com o regime e impulsione sua queda", opinou. Mas, acrescentou, "ninguém pode prever quanto tempo isso levará".
Até agora, a coalizão internacional reduziu para 20% ou 25% a capacidade militar das forças de Kadafi, segundo Mullen.
No entanto, o poder militar das tropas do regime em terra é ainda dez vezes maior que o dos rebeldes, advertiu.
Por isso, o regime líbio "ainda não vai se desmoronar do ponto de vista militar", assegurou.
É nesta questão que entra em jogo o objetivo político mais amplo da operação na Líbia: o de conseguir que Kadafi deixe o poder.
Segundo o jornal "The New York Times", a CIA (agência de inteligência americana) inseriu funcionários na Líbia que buscam colher dados que facilitem os ataques militares aéreos e criar contato com a oposição líbia, da qual os Estados Unidos sabem pouco.
O maior problema dos rebeldes é a falta de organização e a falta de conhecimento de combate. Somente mil rebeldes contam com treinamento militar, segundo Mullen.
Parece que, para os EUA, a oposição líbia precisa de treino e ajuda, mas Gates deixou claro que "outros deveriam se encarregar" desse trabalho.
Na quarta-feira, foi divulgado que Obama assinou uma ordem secreta que autoriza o desenvolvimento de operações encobertas na Líbia.
Mullen reconheceu que os Estados Unidos estudam a possibilidade de oferecer armas à oposição, mas deixou entrever que o país preferiria outras opções.
Gates, que disse que, até o momento, a intervenção custou aos EUA US$ 550 milhões e, que a partir de agora, custará US$ 40 milhões por mês, também prometeu que não haverá tropas de seu país em terra.