O Irã inaugurou nesta segunda-feira uma conferência para analisar o Holocausto, qualificando o evento como uma oportunidade para discutir o genocídio praticado na Segunda Guerra Mundial em uma atmosfera livre dos tabus ocidentais. A conferência foi aberta pelo polêmico presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que qualifica o Holocausto como um mito e defendeu nos últimos meses que Israel seja riscado do mapa.
Antes mesmo de seu início, a conferência já era denunciada pelos governos de Alemanha, Estados Unidos e Israel. O Instituto de Estudos Políticos e Internacionais do Ministério das Relações Exteriores do Irã, organizador do evento, informou que a conferência de dois dias reunirá 67 pesquisadores de 30 países. Rasoul Mousavi, diretor do instituto, disse em seu discurso que a conferência representa uma oportunidade para se discutir questões em torno do Holocausto livre dos tabus ocidentais e das restrições impostas pelos acadêmicos na Europa.
Em países como Alemanha, Áustria e França, negar o Holocausto é considerado crime. "Essa conferência não pretende negar nem confirmar o Holocausto, disse Mousavi. "Seu objetivo é apenas propiciar uma atmosfera científica para que acadêmicos exponham livremente suas opiniões sobre uma questão histórica, prosseguiu. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, desqualificou as críticas externas como previsíveis e disse durante seu discurso que não há razão lógica para se opor à conferência.
"O objetivo da organização dessa conferência é criar uma atmosfera na qual sejam levantadas diversas opiniões sobre uma questão histórica. Não queremos provar nem negar o Holocausto, assegurou o chanceler iraniano. "Se a versão oficial do Holocausto for colocada em dúvida, a identidade e a natureza do Holocausto serão automaticamente colocadas em dúvida. Se, durante essa revisão, ficar provado que o Holocausto foi uma realidade histórica, qual é o motivo para que os povos muçulmanos da região e os palestinos pagarem o preço pelos crimes dos nazistas?, questionou Mottaki.
Em Israel, o primeiro-ministro Ehud Olmert pediu ao mundo que denuncie a conferência, qualificada por ele como um fenômeno doentio. Yad Vashem, autoridade israelense responsável pela memória do Holocausto, criticou a conferência como uma tentativa de dar um tom acadêmico a uma agenda extremista. O escritor e pacifista israelense Amos Oz também denunciou a reunião. Eu vejo essa conferência no Irã como uma piada de mau gosto e espero que ela seja recebida com repulsa em todos os cantos do mundo, declarou.
Entre os participantes estão o francês Robert Faurisson, famoso por negar a existência do Holocausto, e seis integrantes do grupo União Judaica Contra o Sionismo, majoritariamente composta por judeus ortodoxos que rejeitam a formação do Estado de Israel pela violência. Ahmadinejad, o polêmico presidente iraniano, qualifica como um mito e um exagero a versão amplamente aceita de que 6 milhões de judeus foram mortos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Em diversas ocasiões, Ahmadinejad questionou o motivo pelo qual o Holocausto foi utilizado para justificar a criação de Israel às custas das terras palestinas, uma visão bastante popular entre os iranianos.