Um influente dirigente da comunidade judaica americana, que havia rejeitado o primeiro pedido de desculpas do ator e diretor americano Mel Gibson pelas declarações anti-semitas que fez na sexta-feira, aceitou o novo perdão do astro, apresentado nesta terça-feira, mas a ira ainda prevalece entre vários executivos de Hollywood.
O diretor da Liga Nacional Antidifamação, Abraham H. Foxman, declarou nesta terça-feira que "esta é a desculpa que esperávamos e que pedimos. Comemoramos que Mel Gibson finalmente tenha assumido o fato de que deu declarações anti-semitas, e suas desculpas parecem sinceras". "Não existe nenhuma desculpa, nem deve existir qualquer tipo de tolerância para alguém que pensa ou expressa qualquer tipo de afirmação anti-semita. Quero pedir perdão a todos na comunidade judaica pelas palavras ácidas e prejudiciais que eu disse a um oficial da polícia", admitiu mais cedo o ator em um comunicado enviado pelo porta-voz.
Gibson, um católico fervoroso de 50 anos, pai de sete filhos, acrescentou: "sou uma pessoa pública e, quando digo algo articulado, elaborado ou falado num momento de raiva, minhas palavras têm um peso no espaço público. Por isso, devo assumir a responsabilidade pessoal de minhas palavras e pedir perdão diretamente a todos aqueles que ficaram magoados ou ofendidos por essas palavras".
"Os fundamentos de minhas convicções fazem com que demonstre caridade e tolerância em minha vida. Todo ser humano é um filho de Deus, e se desejo honrar meu Deus, devo honrar Seus filhos. Mas, por favor, saibam que não sou um anti-semita", acrescentou o astro da trilogia "Máquina Mortífera", ganhador de dois Oscar com o filme "Coração Valente".
"Não sou intolerante. O ódio, seja qual for, vai contra a minha fé", concluiu.
Foxman se mostrou aberto a ter uma ponte de diálogo com Gibson, como solicitou o astro em seu pedido de desculpas.
Uma vez que o ator "complete sua reabilitação por abuso de álcool, estaremos disponíveis para ajudá-lo com sua segunda reabilitação para combater sua danosa doença", prometeu o líder da comunidade judaica de Los Angeles.
O dirigente havia rejeitado as desculpas anteriores do ator, apresentadas no sábado, nas quais ele não mencionou as declarações anti-semitas, machistas e irônicas que fez no momento de sua prisão, na sexta-feira, e que foram divulgadas pelo site especializado na vida das celebridades "tmz.com".
"Os judeus são responsáveis por todas as guerras do mundo", teria dito Gibson, segundo o site, que noticiou a prisão em primeira mão. De acordo com a fonte, o ator e diretor ainda teria dito "judeus de merda" para se referir a um policial após ter sido detido por dirigir embriagado.
Segundo especialistas em mídia, embora o público talvez seja condescendente com o ator, o mesmo não ocorrerá com a indústria do entretenimento, "onde trabalham muitos judeus".
Como primeira sanção, a importante emissora ABC anunciou em um comunicado o cancelamento de uma minissérie sobre o Holocausto que estava sendo preparada pela produtora de Gibson, a Icon Productions, embora nem o comunicado, nem os porta-vozes do ator mencionem a polêmica.
"Considerando que levamos quase dois anos (trabalhando) e que ainda veremos o primeiro esboço do roteiro, decidimos não continuar mais este projeto com a (produtora) Icon", informou a ABC em um comunicado.
Para dezembro está prevista a estréia de um filme sob direção de Gibson, "Apocalyto", fita de grande orçamento rodada no México e cuja distribuição ficará a cargo da Disney, mas ainda está em aberto saber se este incidente não comprometerá seus planos.
Vários executivos de Hollywood fizeram duras críticas na imprensa local contra a atitude do ator.
"Fazer todo o dinheiro com os judeus de Hollywood e depois dizer após alguns poucos drinques que se tem ódio dos judeus é chocante. Se não gosta dos judeus, não trabalhe com eles", declarou ao jornal Los Angeles Times o israelense Arnon Milchan, produtor do filme "Sr. e Sra. Smith", com Brad Pitt e Angelina Jolie.
Rejeitando o pedido de desculpas de Gibson, Milchan acrescentou: "é como jogar uma bomba nuclear e dizer - "Não sabia o dano que causaria, lamento de verdade"".
A alta executiva da Sony Pictures, Amy Pascal, disse por sua vez que "é incrivelmente surpreendente que alguém de sua posição se expresse desta forma, especialmente em um momento sensível".
Este não é o primeiro incidente entre a comunidade judaica e Gibson, considerada uma das pessoas mais influentes e requisitadas de Hollywood. Há dois anos, o ator já havia sido criticado por seu filme, "A Paixão de Cristo", que conta as últimas horas de vida de Jesus segundo uma interpretação literal da Bíblia. A fita, que rendeu a Gibson 611 milhões de dólares de bilheteria, gerou protestos por referências consideradas anti-semitas.