A primeira-dama da Argentina, Cristina Fernández, lançou hoje sua candidatura à Presidência do país com a promessa de "seguir na mesma direção" que o Governo atual e de consolidar os modelos de inclusão social e reconstrução do Estado.
Em um teatro de La Plata, sua cidade natal, a candidata demonstrou seus dotes oratórios ao falar por 45 minutos para cerca de 2.000 pessoas, entre elas seu marido, o presidente Néstor Kirchner, que acompanhou da primeira fila o discurso, mais racional do que emocional.
"Esta Argentina que tem novas esperanças precisa que este modelo em andamento seja institucionalizado. As eleições presidenciais não podem ser mais uma roleta russa para os argentinos, onde se ganha um, vamos para lá, e se ganha outro, vamos para outro lado", disse a senadora, de 54 anos.
Com um impecável tailleur branco, Cristina, como é chamada pelos argentinos, ressaltou as "conquistas" do Governo Kirchner, que, segundo disse, desde que chegou ao poder, em maio de 2003, se dedicou à "reconstrução do país", afetado por uma grave crise econômica no fim de 2001.
A agora candidata também disse que o modelo implementado por seu marido precisa ser aprofundado e institucionalizado, para que se consolide como uma estratégia de longo prazo.
Crisitna afirmou ainda que isso só vai ser possível a partir de três eixos: a reconstrução de um "Estado democrático e constitucional", a consolidação de um modelo econômico "acumulativo e de inclusão social", e a recuperação da confiança dos próprios argentinos.
Sobre o primeiro ponto, ela lembrou que a crise de seis anos atrás foi causada pela "deterioração insuportável" da função presidencial, enquanto o Legislativo votava sob "pressão do Fundo" Monetário Internacional e a Suprema Corte convalidava "a depredação do Estado".
A candidata governista, advogada de profissão, disse ainda que a institucionalidade dos três poderes foi recuperada. Porém, prosseguiu, agora o Estado deve voltar-se totalmente para um "planejamento estratégico de médio e longo prazo".
Em seu discurso, Crisitna também defendeu o "modelo de construção econômica e social, de acumulação e de inclusão social", ao qual se referiu como "a contraface" da "economia neoliberal de transferência de riquezas" adotada nos anos 90.
A mulher de Kirchner afirmou que o atual modelo tem um "claro perfil industrialista", mas "com uma matriz de acumulação diversificada" que permite o desenvolvimento de outras áreas produtivas, como a agricultura, e, ao mesmo tempo, protege a economia de instabilidades em outras áreas.
"A novidade da mudança é, precisamente, seguir na mesma direção, evitando trancos de um lado para o outro, que nosso país teve nas últimas décadas e que nos deixaram à beira da falência social", declarou.
A primeira-dama também pediu aos argentinos que recuperem "a auto-estima perdida" e abandonem "a cultura do fracasso".
Aquela que quer se tornar a primeira presidente do país eleita diretamente pelo voto popular dedicou algumas palavras às mulheres, que, segundo disse, têm "algumas aptidões diferentes".
As mulheres, afirmou, estão "preparadas biologicamente para enfrentar a dor" e "funcionalmente para desempenhar atividades simultâneas".
Já no último trecho do discurso, Cristina falou sobre Kirchner, seu marido desde 1975 e com quem tem dois filhos, Máximo e Florencia.
Ela disse que "não é comum" uma pessoa "com mais de 70% de aprovação e 50% de intenções de voto" decidir não tentar a reeleição.
"Ninguém teria feito o que o senhor fez e isto é o que torna este um gesto distinto. Embora seja difícil de acreditar, você não é um herói. Mas também não é um homem qualquer: é um homem fora do comum, e agora me confirma isso mais uma vez", destacou.
Fora do Teatro Argentino de La Plata - 60 quilômetros ao sul de Buenos Aires -, milhares de pessoas se amontoaram para expressar seu apoio à candidatura de Cristina, uma legisladora peronista com uma longa trajetória e de peso político próprio.
Segundo as últimas pesquisas, a primeira-dama tem 48% das intenções de voto. Porém, ainda não é possível avaliar como os recentes escândalos de corrupção envolvendo funcionários do Governo Kirchner podem afetar sua campanha.