Amanchete de primeira página da Tribuna da Bahia no dia 6 de julho remete a matéria detalhando como a prefeitura de Mata de São João e a Concessionária Litoral Norte (CLN) se acumpliciam para asfaltar a pista de acesso à vila, atualmente de pedra. Já o Ministério Público Estadual, através da promotora Rita Tourinho, hoje entendida urbanista, manifesta-se com estranheza sobre as atribuições dos órgãos gestores e seus contratos. E nós, articulistas, para o bem ou para o mal, gritamos surdamente sobre o despreparo de uma democracia incapaz de discutir honestamente com os seus cidadãos os destinos de seu habitat.
Polo turístico comparável aos melhores do mundo, Praia do Forte (PdF) foi um saque de atualidade empresarial de Klaus Peters (alemão faz coisas bem feitas, como o Porsche e o 7x1, mas também começa guerras mundiais), proprietário dos terrenos em torno de um resto de mata atlântica, que transformou na reserva de Saapiranga, contratando um francês meio doido para policiar a área, retirar orquídeas e vendê-las aos hóspedes do resort, hoje chamado Tivoli. Ninguém é perfeito, que Deus o tenha, ao alemão: tim, tim. Mas foi também o feitio do seu projeto imobiliário que agora começa a ameaçar também o vilarejo.
Esperei para escrever sobre isso depois de ouvir alguns comerciantes locais, como Simona Ranzani, dona do Il Cantuccio, adorável cantina italiana, cuja opinião, um tanto breve para o meu gosto prolixo, sintetiza a percepção dos habitantes, acostumados a um local diferenciado, onde "não" reina o automóvel e estão no mínimo desconfiados da intenção municipal. Houve uma audiência pública no Castelo Garcia D'Ávila, mas não encontrei morador que tivesse participado.
O que me desaponta e quase irrita, se já não estivesse vacinado contra esses desmandos autoritários do Executivo em todas as esferas, é o descaso que fazem da opinião dos usuários e como conseguem adaptar os resultados destas "audiências" aos seus interesses autocráticos; denuncio como articulista, mas resmungo também como frequentador e temo que a aldeia, razoavelmente preservada e tendo até driblado tendências à breguice típica de outras áreas turísticas dessa natureza, venha perdendo seus atributos elogiáveis para a sanha rodoviarista, sem falar no perigo da pavimentação dos dois quilômetros do acesso imediato, um freio natural a "pilotos" frustrados e muitas vezes "tomados"...
PdF é um exemplo de como deveriam ser os vilarejos de praia, com as surpresas de paisagismo e arquitetura vernácula, acessibilidade fácil sem as malditas carruagens de lata, concentração de artesanato e comércio de bom gosto, mix de moradias e lojas, bons restaurantes e pousadas, pracinha com igreja desenhada por Carlos Bastos, preservação do meio ambiente representado pelas tartarugas do Tamar, cheia de visitantes e uma alegria no ar, ao contrário da vizinha Guarajuba, tristemente vazia o ano inteiro e sem atrativos.
Por que boas ideias não são copiadas em vez de destruídas?