O novo arcebispo de Ribeirão Preto, d. Joviano de Lima Júnior, disse ontem que a Igreja deve encorajar os eleitores a ir às urnas em outubro, apesar da decepção causada pelas denúncias de escândalos e corrupção nos últimos meses. "Não será uma tarefa fácil, mas é a nossa missão", alertou d. Joviano, ao comentar a Análise de Conjuntura apresentada por assessores na Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Embora não seja oficial, o texto servirá de base para uma declaração política a ser divulgada até quarta-feira, quando se encerra a reunião.
Sob a coordenação do sociólogo Pedro Ribeiro de Oliveira e com a contribuição de sete peritos, entre os quais o assessor político do episcopado, padre Ernane Pinheiro, o texto apresenta um quadro que, na opinião de d. Eduardo Koaik, bispo emérito de Piracicaba, desperta muito interesse pelo fato de 2006 ser um ano eleitoral.
"Ao falar de escândalos como o caixa 2, é preciso observar que uns (políticos) denunciam os outros, quando também eles fizeram a mesma coisa", alertou o bispo. D. Manuel João Francisco, da diocese de Chapecó, ressaltou a necessidade de incentivar a participação eleitoral consciente e disse que a liberdade de imprensa é importante para a divulgação das denúncias.
Uma afirmação do texto de que novamente entra em cena na cultura política brasileira o pseudomoralismo, um "mecanismo que impede a mudança real e profunda na sociedade", esquentou os debates no plenário. "Quando as camadas populares começam a se organizar e se fazerem senhoras do destino, o pseudomoralismo se afirma procurando justificar-se pela defesa da ordem, da família, do direito ou tradição", observa a Análise de Conjuntura.
Para d. Joviano, o pseudomoralismo "é uma atitude que se repete na história, quando forças populares fazem conquistas". Os movimentos sociais, observou d. Eduardo, não devem ser nem demonizados nem canonizados. "Eles têm valor, pois fazem pressão e, sem pressão, as mudanças não acontecem", disse o bispo, apressando-se a acrescentar que "quando agem contra a lei, esses movimentos devem ser punidos".
D. Demétrio Valentini, bispo de Jales e membro da Comissão Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz, acredita que, apesar do impacto das denúncias, que inicialmente provocou um sentimento de descrença, o eleitor vai às urnas.