Há promoção para revisão de carros de motoristas por aplicativos | Foto: Uendel Galter | Ag. A TARDE
Salvador tem uma frota estimada de 35 mil veículos de transporte por aplicativo, segundo informações do Sindicato dos Motoristas por Aplicativo da Bahia (Simactter-BA), e há mais de 600 mil motoristas cadastrados no país, de acordo com a Uber, maior plataforma utilizada no Brasil. O serviço, que fez sua estreia no mercado brasileiro em 2014 e cresce exponencialmente, movimenta o mercado de veículos.
Nem Anfavea, a associação de fabricantes, nem Fenabrave, que representa as concessionárias, têm dados mais concretos sobre o impacto das plataformas de mobilidade, mas todos concordam que elas impulsionam as vendas de veículos novos e seminovos. Recentemente, a Anfavea divulgou um estudo que mostra que há atualmente no país 253 aplicativos de transporte.
Em Salvador, outro fato recente também deve movimentar o mercado de veículos. A Lei nº 9.488/2019, que regulamentou o transporte por aplicativo na cidade, determina que esses veículos devem ter no máximo oito anos (contados da emissão do primeiro certificado de registro e licenciamento de veículo, o CRLV).
Diante disso, os motoristas por aplicativo ficam sempre na dúvida sobre qual é a melhor maneira de trabalhar: com um carro alugado ou utilizando o próprio veículo, que atenda às normas municipais.
Locadoras x pessoa física
A reportagem do A TARDE Autos conversou com três motoristas por aplicativo de Salvador que utilizam o próprio carro. Um deles, Ricardo Silva Carvalho, que ainda paga financiamento, precisa trocá-lo este ano para atender à nova legislação. “Existem pessoas físicas que têm cinco, dez veículos e alugam esses carros para motoristas por aplicativo. O preço é alto diante do que faturam os motoristas, que pagam de R$ 400 a R$ 600 por semana. Para muitos, a manutenção ainda é dividida, então tem outros custos”, afirma.
Se o motorista escolhe uma locadora, paga uma mensalidade menor, contudo o aluguel direto da pessoa física é mais vantajoso. “O bom da locadora é que o motorista não arca com nada. Mas é relativo. Por exemplo, as locadoras não têm carros movidos a GNV e muitos desses alugados por particulares já têm o gás natural. Outra questão é a do seguro: quando tem sinistro (roubo, furto ou perda total) de carro de locadora, o motorista paga uma franquia que chega a R$ 6 mil”, conta Carvalho. “Estamos até fazendo uma vaquinha para um colega que teve o carro alugado roubado e ele agora precisa pagar essa franquia. Se o veículo for alugado de uma pessoa física, o motorista deixa um caução de R$ 1.500 a R$ 2 mil caso haja sinistro”.
Carros fora da lei
Lucas de Jesus Silva, também motorista em Salvador e atuante no Simactter-BA, calcula que de 30% a 40% dos veículos que rodam na cidade precisarão ser atualizados por terem mais de oito anos. Ele também concorda que alugar de pessoa física é mais vantajoso, principalmente se passar por um sinistro. Ele trabalha com aplicativo há um ano e meio e tem um Chevrolet Onix 2018, comprado por um amigo porque ele estava com restrições. “Se eu não tivesse a ajuda desse amigo, teria alugado. Rodo muito, cerca de 10 mil quilômetros por mês, então ter um carro mais novo não traz tanta manutenção”.
Concessionária x locadora
Clodoaldo Rinaldi da Silva, motorista há três anos, tem um JAC J3 2015 e já usou carro alugado. “Aluguei por dois anos, mas naquela época tinha de oito mil a dez mil motoristas a menos na cidade. Hoje aqui em Salvador não vale mais a pena, porque, além do aluguel, o combustível é caríssimo. Trabalhamos 12 horas por dia com uma meta de R$ 300. Tem que tirar a gasolina e o aluguel, mas nem sempre consegue chegar a esse faturamento. Para ele, a melhoria para a categoria só vai ocorrer quando a tarifa dos aplicativos aumentar. “Trabalho todos os dias, por 14 horas, só para pagar as contas”, reclama.
Mas o carro novo pode ser opção para alguns desses profissionais. “Hoje há vários perfis de motoristas por aplicativo. Existem os que não têm dinheiro, mas há muitos desempregados que aplicam o dinheiro do FGTS, compram um carro novo e vão trabalhar com aplicativo”, afirma Luiz Pimenta, diretor regional da Fenabrave Bahia. Outra opção, se ele não tiver dinheiro, é alugar. “Dificilmente ele vai comprar um usado, porque terá de financiar. Então, ele procura por um carro novo, na condição mais favorável. Várias montadoras oferecem faturamento direto, com preços especiais, como faz a Ford agora. E muitos financiam em nome de parentes”, explica Pimenta.
Para o diretor regional, hoje as locadoras ganham mais dinheiro que as montadoras e quem perde são as concessionárias. “Os descontos para eles são altos, revendem o carro depois de um ano e ganham com isso. E concorrem também com os bancos, que deixam de financiar. Este é o caminho hoje do negócio”.
Oferta para este nicho
Essa concorrência com as concessionárias, aponta Pimenta, “é perversa”. E complementa: “Quem tem que regular isso é a montadora, para que prevaleça a lei Ferrari (que rege a relação entre as fabricantes e seus distribuidores). As locadoras têm condições mais favoráveis que as concessionárias. Essas procuraram trabalhar com as armas que têm. E assim como a Ford está fazendo é uma forma de lidar com a concorrência”.
Enquanto as locadoras ganham dinheiro com a compra de veículos novos (com descontos das vendas diretas das montadoras) e a venda de seus seminovos, as concessionárias tentam reagir e ganhar esse nicho de mercado com algumas promoções. Por exemplo, neste mês, a Ford oferece condições especiais na venda e financiamento de um modelo bastante procurado por motoristas por aplicativo: o Ford Ka Sedã.
“Temos essa campanha que incentiva os motoristas de aplicativo que rodam com veículos alugados a saírem do aluguel. Ele pode adquirir o Ka Sedã SE sem entrada, em 48 prestações de R$ 1.399. Têm de preencher um termo confirmando que é motorista por aplicativo, constar na CNH que exerce atividade remunerada e não pode revender esse carro nos próximos seis meses”, explica Sérgio Domingues, gerente comercial da Revisa Ford.
Domingues também aponta para outra prática que tem observado na loja: pessoas físicas que compram o carro e terceirizam seu uso (alugam) a outros motoristas. “Esse mercado é uma oportunidade para quem pode comprar e alugar para quem precisa. Um empresário consegue ter uma renda extra pagando a prestação do financiamento e alugando esse Ka Sedã por volta de R$ 2 mil por mês”.
O gerente comercial da Indiana Ford, Rangel Guimarães, avalia que esse segmento voltado a motoristas por aplicativo cresce. “A demanda ainda é pequena, mas vendemos seis carros para um só cliente, que iria alugar para motoristas. Ele tem um cadastro bom, paga uma parcela e ao alugar ainda ganha algum dinheiro”, explica.
Procurados, concessionários Fiat, Chevrolet, Volkswagen e Renault de Salvador disseram não ter promoção ou ação especial para venda de carros para motoristas por aplicativo.