A enchente do Rio São Francisco, que há mais de um mês castiga Malhada, a 900 km de Salvador, não para de provocar situações inusitadas no pequeno município do sudoeste de 15 mil habitantes. Primeiro foi a perda de 95% das lavouras da parte alta da zona rural.
Parte deste percentual por causa da seca, apesar de o município estar cercado pela água. Agora é a vez de a enchente do Velho Chico criar uma área de lazer em plena BR-030, rodovia federal que liga a região ao pólo algodoeiro de Guanambi, passando pelos municípios de Iuiu e Palmas de Monte Alto.
A esburacada e empoeirada estrada foi cortada pela água que isola Malhada do distrito de Julião, a 13 km da sede. É nesse cenário, em meio a cactos e mandacarus, que um lago natural está atraindo nativos e turistas de várias regiões. Por causa da enchente a água chegou à estrada, que agora é atração turística, explica o radialista Sérgio Silva, que registrou a movimentação de pessoas.
Todo final de semana mais de duas mil pessoas se divertem aqui nesse local, que antes era um filete de água e agora é esse lago enorme, criado pela força da natureza, observou. Embora invadida pela água, a estrada é o acesso mais fácil dos moradores de Malhada ao restante do sudoeste do Estado. A área foi visitada semana passada pelo vice-governador, Edmundo Pereira, quando da elaboração de relatório sobre a cheia na região causada pelas chuvas no norte de Minas Gerais e abertura das comportas da barragem das 3 Marias.
Se o nível do rio continuar subindo, Malhada vai reviver as enchentes de 1979 e 1992, quando ficou ilhada pelo Velho Chico. Para evitar o isolamento desta vez a Prefeitura da cidade encascalhou os locais que interditavam a estrada, mas veículos pequenos só passam com dificuldade.
No Julião as cenas mais comum são as de pessoas tomando banho e bebendo, embaladas ao som de veículos, antecipando o Carnaval. A oportunidade atrai ambulantes, vendedores de comida e bebida em plena estrada. O lazer gratuito tem seu preço.
O tráfego é dificultado pela correnteza e agora, com a atração turística, a presença dos banhistas o risco é dobrado. O que os condutores de veículos mais temem é atropelar um dos turistas que preferem tomar banho no meio da estrada. Acidentes podem acontecer a qualquer momento, a exemplo do último sábado quando um homem foi atropelado por uma patrol.
Nessa terra de contrastes a poucos quilômetros do leito do rio São Francisco, na parte alta da cidade de Malhada, os agricultores se queixam da estiagem que já resultou na perda das lavouras de milho, mandioca e feijão. Não chove na região cinco meses não chove na região.
A Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente prevê perda total caso a estiagem perdure até março. As áreas alagadiças já contabilizam perdas totais, a exemplo do que aconteceu na comunidade quilombola de Tomé Nunes e nas lhas de Malhada e da Melancia, na margem direita do rio. Até o gado sofre com a situação. Nem pastagem para o gado temos mais, lamenta o secretário municipal, José Castor de Abreu.
Quando não é o problema da cheia do rio é o excesso de sol na região. Seria mais fácil resolver um problema de cada vez, mas, infelizmente, estamos lidando com os dois problemas ao mesmo tempo, finalizou. Malhada não é o único a sofrer com a cheia. Carinhanha, na margem oposta do São Francisco e Serra do Ramalho e Bom Jesus da Lapa, ambas no oeste do Estado, também estão estado de emergência por causa de inundações.
Depois de decretarmos estado de emergência por causa da enchente agora decretamos estado de emergência em toda área da caatinga ou sequeiro, devido ao excesso de sol, informou o prefeito de Malhada, Anselmo Boa Sorte (PL).
O prefeito de Malhada disse que vai encaminhar uma Avaliação de Danos causados pela seca (Avadan) à Coordenação de Defesa Civil do Estado da Bahia (Cordec), no intuito de minimizar os danos causados pelo longo período de estiagem na região.
O governo do Estado solicitou à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) o fornecimento de 5 mil cestas básicas para as famílias desabrigadas devido à enchente do rio São Francisco nas regiões de Malhada, Carinhanha, Serra do Ramalho e Bom Jesus da Lapa. Também enviou três caminhões com colchões, cobertores, filtros de água e rolos de lona plástica. "Nós estamos mobilizando técnicos e vamos doar sementes para auxiliar essas famílias no replantio das lavouras", afirmou o Secretário Estadual de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza, Valmir Assunção.