Um grupo de usuários do transporte coletivo de Vitória da Conquista, a 509 km de Salvador, resolveu boicotar o aumento de mais de 15% na tarifa, que passou de R$1,30 para R$1,50 nesse domingo, 21.
O protesto silencioso reuniu, em sua maioria, trabalhadores do comércio que moram na zona oeste da cidade. A caminhada de casa até o centro tem um percurso de até oito quilômetros, a depender do bairro, mas para os entrevistados valeu a pena.
Enquanto a gente não se acostumar com essa tarifa nova vale a pena caminhar ou pedalar um pouco, ainda mais no começo da semana. É bom para quem descansa domingo, contou a comerciaria Nádia Fontes Rios, 19 anos.
O aumento está sendo aplicado pelas empresas concessionárias, responsáveis pelo transporte de 80 mil pagantes por dia, com uma frota total de 126 ônibus. Os estudos dos custos foram acompanhados pelo Conselho Municipal de Transportes Públicos que aprovou o reajuste da passagem do transporte coletivo.
A dona de casa Maria Souza Ribeiro, 40 anos, diz que não se conforma com o aumento e vê nisso uma sucessão de novas altas por causa do repasse para outros serviços. Vai ficar ruim, principalmente para os estudantes que dependem dos pais e dos trabalhadores que tomam quatro ônibus por dia.
O vendedor de salgados, Caio Mendes, 52 anos, resume a nova tarifa com uma só palavra. Absurdo. A justificativa é a de que a maioria das linhas tem um percurso pequeno, com no máximo trinta minutos. Não me conformo porque o novo salário-mínimo só vigora em maio.
Mendes critica a decisão do conselho, afirmando que as pessoas que estão lá e cima não pensaram nisso, somente no poder deles e não nos pobres que, assim como eu, precisa de quatro viagens por dia para trabalhar. O jeito é boicotar, andar a pé, de bicicleta.
É dessa forma que o reajuste foi recebido no domingo, com muitos usuários percorrendo trechos a pé e de bicicleta. O protesto de estudantes secundaristas e universitários, previsto para a manhã de hoje, amplia o movimento.
Mesmo em férias eles prometem ir às ruas para bloquear a entrada e saída dos ônibus no terminal urbano da Avenida Lauro de Freitas, centro da cidade. O auto proclamado Movimento Contra o Aumento da Tarifa de Ônibus, surgido em janeiro do ano passado, vai distribuir panfletos conclamando a população a se juntar aos estudantes.
A coordenação do Sistema Municipal de Trânsito e Transporte Coletivo (Simtrans) informou que o reajuste de 15% na tarifa se deve aos altos custos para o bom funcionamento e a devida manutenção do serviço.
Segundo o coordenador do órgão, Luiz Alberto Selmann, os reajustes nos preços dos insumos indispensáveis para o segmento de transporte, como frota, pneus, salários e combustível tornam a tarifa cobrada atualmente desatualizada em relação aos custos.
O último reajuste aconteceu há um ano, em janeiro de 2006, quando
a passagem passou de R$1,10 para R$ 1,30. O reajuste vinha sendo anunciado havia meses, mas foi frustrado por um protesto de estudantes que suspendeu as operações do transporte coletivo durante sete dias. A intenção era reajustar o valor de R$1,00 para R$1,20.
Selmann disse que com a tarifa de R$ 1,30, o sistema de transporte de Vitória da Conquista operava com déficit desde maio de 2006 e que esse valor era inferior ao custo por passageiro transportado.
Ainda assim, diversas melhorias foram realizadas no serviço prestado à população, como o acréscimo de oito veículos na frota total, passando de 118 para 126 unidades, redução da idade média da frota em 3,38%, manutenção de 10 veículos para deficientes e previsão de aquisição de mais dois ainda no primeiro semestre de 2007.
Os ônibus urbanos rodam 10,5 milhões de quilômetros por mês nas ruas, avenidas e povoados do município. Em relação ao ano passado houve um aumento de 1,5 quilômetros a mais.
O sistema de transporte urbano ainda prevê para 2007 a implantação do Sistema de Bilhetagem Eletrônica (SBE), já em execução, reforçou.
Outra alegação em defesa da tarifa é a de que, apesar do reajuste, Conquista continuará tendo uma das tarifas mais baratas da Bahia, quando comparada com outras cidades baianas do mesmo porte.