Estipular um limite de gastos e reduzir tempo de TV ajudam
Para disciplinar o consumismo dos filhos, pais encontraram na discussão em grupo estratégias de ação. São medidas como um limite para gasto mensal, regras para diminuir o tempo diante da TV, escolha por programas que não tenham comerciais na internet, além de ações para mostrar a realidade de pessoas com baixa renda.
Criado este ano em Salvador, o coletivo "Infância Livre de Consumismo" promove, além das discussões, campanhas, compartilha notícias e textos de pesquisadores. Atualmente, a rede tem 17.978 integrantes no mundo. "Compartilhamos experiências e entendemos que isso é uma questão pública", diz a publicitária Mariana Machado, representante do movimento em Salvador.
Percepção - Segundo o psicólogo Alessandro Maripietri, os pais devem educar os filhos no sentido de que para ter algo é necessário desenvolver consciência sobre sua identidade. "Isso evitaria a necessidade de consumir para existir, especialmente aos olhos dos outros", acrescenta.
De acordo com ele, a criação de uma felicidade plena a partir de um produto, alimenta o consumo sem limites. "O culto ao hedonismo e a busca incessante da felicidade convocam a uma vida superficial e célere. Um bom termômetro é perceber a ocupação desse consumo nas vivências das crianças e adolescentes".
Susto - Ver a filha, de 14 anos, trancada no quarto por três dias assustou a enfermeira Lúcia Almeida, 45 anos. "As amigas dela tinham tablet e eu não podia comprar", disse Lúcia que passou a agir diferente. "Tive culpa por sempre atendê-la. Por dois meses fomos em abrigos, barracos e ela viu outra realidade. Chorou, no início, depois entendeu".
Ela conta que compreendeu o ciclo que pode levar à perda dos limites. "Em geral, os pais, para que seus filhos não fiquem em desvantagem, legitimam posturas ruins pelo argumento de que se todo mundo faz não é o seu filho que ficará de fora".
Já a funcionária pública Rosana Guerra Viana, 41, vive situação diferente. "Meu filho, de 14 anos, sempre soube o que não podia e o que não convinha. Na viagem a Disney, ele foi o único que voltou com dinheiro. Disse que não precisava gastar tudo".
Segundo a psicopedagoga Leila da Franca Soares, a ação dos pais define o comportamento dos filhos. "O sim não dá parâmetro. O não dá referência, garante o amadurecimento e a construção da estrutura psicológica".
A servidora pública Ivana Luchesi, 36, começou a orientar os três filhos - de 3, 5 e 8 anos- desde os 2 anos. Fazer doações dos brinquedos mais antigos faz parte da rotina da família.
"No início eles diziam que brincavam, mas eu explicava que isso ia deixar outras crianças felizes. Tem que ter muita conversa", afirmou. Uma situação com a filha mais velha deixou isso evidente. "Ela queria uma espécie de pião todo final de semana e ficava triste quando não ganhava. Disse que coleção se faz com o tempo e ela foi entendendo".
A construção de brinquedos com material reciclável foi uma das saídas. "Só compro brinquedo em data comemorativa. Minha filha de 5 anos ficou decepcionada quando viu a propaganda de uma boneca que voava", disse Ivana que aproveita as propagandas para conversar com os filhos.
A economista Mirtes Aquino, 37, percebeu que um canal, em todos os intervalos de outubro, anunciava uma boneca e a filha Letícia, na época com 3 anos, pediu. "No ano seguinte, passei a ocupá-la com outras coisas e deu certo. Às vezes ela pede, mas fica mais tempo criando com sucatas e outros elementos".
O maior desafio é fora de casa. "Certa vez a escola deu um DVD de uma montadora com fantoches dando dicas de segurança no trânsito. O problema é que o DVD tinha publicidade", conta Mirtes.