Este foi o terceiro crime passional na Grande Salvador desde domingo
Em estado de choque, a recepcionista Viviane Miranda Almeida, de 30 anos, expressava na face o quanto seria difícil esquecer os momentos de terror. "Não vi ele entrando. Só me lembro de ter ouvido ela gritando, pedindo socorro. Ouvi uns seis tiros. Com medo, me tranquei no banheiro e liguei para o meu marido". Viviane é funcionária da Galleria Corpore Fisioterapia & Pilates, localizada na Avenida Praia de Itapuã, bairro Vilas do Atlântico, cidade de Lauro de Freitas.
A dona da empresa, a fisioterapeuta Clarissa Vieira Nunes, 34, foi assassinada a tiros pelo ex-marido, Anderson Coelho Nunes, 37, gerente-geral da rede de lojas Magazine Luiza na Bahia e filho da ex-vereadora de Salvador Ana Coelho. Anderson cometeu suicídio logo após assassinar Clarissa. Ele se matou com um tiro na boca dentro do próprio carro, um VW Gol, branco, geração 4, que pertencia à empresa, no Condomínio Albatroz, na localidade de Jauá, na cidade de Camaçari.
O casal morava nesse condomínio, mas Anderson saiu de casa após a separação e estava morando com os pais, em Lauro de Freitas. Os fatos ocorreram por volta das 14h desta terça-feira, 18. O delegado Joelson Reis, titular da delegacia de Lauro de Freitas, afirma que, conforme as investigações iniciais, as mortes tiveram motivações passionais, pois Anderson não aceitava o fim da relação. Eles estavam separados há cerca de 15 dias.
Segundo o delegado Joelson Reis, a arma utilizada por Anderson foi uma pistola 380. "A arma aparenta ser nova. Mas, ainda não sabemos no nome de quem ela está registrada". Por volta das 21h desta terça, o delegado informou que só havia conversado com um familiar do casal: um primo de Anderson. Ele o descreveu como 'tranquilo'.O mesmo foi dito pela recepcionista Viviane e por pessoas que conheciam o casal. Viviane diz que nunca presenciou brigas entre eles. Conforme o delegado, não há na polícia registros de queixas de agressão de Anderson contra Clarissa.
"Eles haviam se separado há algum tempo, depois voltaram, fizeram uma outra lua-de-mel, mas parece que não deu certo e se separaram", informa o delegado. Em frente à Galleria Corpore, surgiu o boato de que Anderson iria ao Condomínio Albatroz para matar as três filhas. Porém, uma pessoa conseguiu telefonar para a babá, que teria fugido com as crianças. O casal deixa três filhas, de 4, 5 e 12 anos. O carro de Clarissa, um Nissan Livina, prata (JS-7622), estava estacionado na porta da empresa dela.
Segundo o perito criminal Ríbio Januário, que comandou o levantamento cadavérico na Galleria Corpore, o corpo de Clarissa apresentava dez perfurações resultantes de tiros, principalmente na cabeça, tórax e nuca. Pelo que foi apurado, o perito informa que Clarissa estava na recepção quando o assassino chegou. Ela tentou se defender e correu para a sala de massoterapia. "O corpo dela estava nessa sala de massoterapia, embaixo de uma mesa de vidro", diz o perito, acrescentando que provavelmente ela tentou se esconder no local, sem sucesso.
A dona de casa Elaine da Silva, 33, tem um filho de 4 anos que sofre de hidrocefalia e fazia tratamento fisioterápico na clínica de Clarissa. "Ela era um amor de pessoa. De bem com a vida, era maravilhosa. Meu Deus, não acredito que aconteceu isso. Ela faz um bazar para ajudar o meu filho. Nem acreditei que uma mulher de classe como ela pudesse me ajudar". Nos últimos três dias, é o terceiro caso de homem que mata a companheira: na Graça, o segurança Guilherme Almeida matou Sônia Souza; em Águas Claras, Cosme Souza assassinou Maria Silva.
Bahia na CPMI - O assassinato de Clarissa é o terceiro crime passional na Grande Salvador desde domingo. O primeiro foi em Águas Claras. Por ciúme, Cosme Souza matou a esposa Maria Mandes a facadas. Já na segunda-feira, o vigilante Guilherme Maroto matou a tiros a sua ex-mulher, Sônia Bárbara. O crime ocorreu em um restaurante na Graça.
Os assassinatos corroboram a reportagem publicada por A TARDE na última segunda-feira, mostrando que a Bahia é o oitavo Estado do País em número de assassinatos contra as mulheres, por grupo de 100 mil habitantes. A estatística é de uma pesquisa do Instituto Sangari.
A violência e os homicídios contra mulheres na Bahia já são uma preocupação do Congresso Nacional. Esse cenário pôs o Estado na condição de um dos dez investigados pela Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da violência contra a mulher.
*Colaborou Helga Cirino