Um trabalhador rural baleado, com risco de ficar paraplégico, e novas fazendas invadidas aumentaram o clima de tensão no sul da Bahia, devido à ação de índios tupinambás na ocupação de propriedades rurais da região, que começou no mês passado. Eles reivindicam as terras da área conhecida como Serra do Padeiro, entre os municípios de Buerarema, Una e Ilhéus, cujos fazendeiros possuem os títulos de posse há décadas.
Os governos federal e estadual já deslocaram agentes da Força Nacional, Polícia Federal (PF) e soldados da Polícia Militar (PM). Os produtores rurais dizem que pelo menos 90 fazendas já foram invadidas e o risco de conflito armado é iminente.
Na madrugada desta segunda-feira, 2, Adailton do Carmo Santos, de 55 anos, que mora com a família na Fazenda São Pedro, no município de Ilhéus, foi baleado nas costas por um grupo armado que se dizia tupinambá. Ele está internado no Hospital de Base da cidade de Itabuna e corre o risco de ficar paraplégico. A Superintendência da Polícia Federal de Ilhéus abriu inquérito para apurar o caso.
Inaceres - No domingo, 1º, uma área do Grupo Inaceres, em Ilhéus, também foi ocupada por 50 pessoas. Com 130 hectares, a fazenda reserva 80 para o plantio de pupunha, dos quais colhe por mês 60 mil hastes de palmito.
Ela emprega 24 funcionários, mas somente um estava no local quando os invasores chegaram. Os proprietários prestaram queixa na PF e entraram com pedido de reintegração de posse na Justiça.
A professora Sandra Chaves e o advogado Osvaldo Chaves, donos da Fazenda Conjunto São José, também invadida, já não sabem a quem apelar. A fazenda tem 303 hectares e produz cacau.
No dia 10 de agosto, 60 homens armados chegaram ao local em motos, caminhões e em um ônibus escolar e expulsaram os 12 trabalhadores que moravam na área.
Depois, mataram o boi reprodutor e uma vaca para "comemorar" a ocupação. Além disso, teriam levado todo o cacau seco pronto para venda com os quais os donos pagariam os funcionários.
"Tínhamos um interdito proibitório, que proíbe ocupações, mas nada foi respeitado. Pagamos todos os impostos. Essas terras foram adubadas com o suor dos nossos rostos e agora foram ocupadas e nenhuma autoridade toma qualquer providência", reclama Sandra Chaves.
O presidente do Sindicato dos Pequenos Produtores de Buerarema, Luiz Henrique Uaquim, teme pelo pior se o Estado não contiver as invasões, pois os proprietários terão de proteger suas terras.