Casas e ruas destruídas
Lajedinho, na Chapada Diamantina, parou ontem para velar os corpos dos seus mortos, que chegavam a todo instante dos Institutos Médicos-Legais de Itaberaba e Irecê. O número de vítimas do temporal de sábado subiu para 16, e Carolina Lima, 11 anos, continua desaparecida,.
Nesta segunda-feira, 9, foram sepultados os corpos de sete pessoas. Durante os velórios, gritos ecoavam pela Igreja de N. Sra. do Carmo, usada para o reconhecimento dos corpos pelos familiares. Os cinco resgatados ontem foram encontrados a 38 km da cidade, na vizinha Ruy Barbosa, segundo o Corpo de Bombeiros.
Ontem, foram enterrados os corpos de Pedro Levi, 3 anos, Olívia Andreza de Jesus Santos, 67, Reginaldo Pereira dos Santos, 42, Adenilson Alves da Silva, 43, Valdete Maria de Jesus, 40, Sirlene Santos da Silva, 16, e Ilza Cavalcante da Silva, 68.
Os de Tharso Lima dos Santos, 4 anos, Cátia Fernanda de Jesus Santos, Valéria Cruz Lima, Luiza Santos Lima, Hilberto Araújo Macedo, Maria Pereira Lima, Eliene Ferreira Lima, Rafaela Ferreira Alves e Mário Pereira Lima não foram liberados a tempo.
Era quase noite quando os quatro primeiros corpos saíram da igreja, sob aplausos emocionados de grande parte da população de 3.930 habitantes. A jovem Milly Santana foi umas das pessoas que passaram mal. Ela foi amparada por amigos.
Calamidade e ajuda
Durante o dia de ontem, máquinas fizeram o trabalho de demolição das casas próximas ao rio Saracura, na parte baixa da cidade, a mais afetada. Ao todo, 202 imóveis (incluídos os 72 destruídos) terão de ser demolidos para evitar nova catástrofe.
O titular da Superintendência de Defesa Civil do Estado (Sudec), Salvador Brito, afirmou que está decretado estado de calamidade pública em Lajedinho: "Foi decretado pela prefeitura, homologado pelo Estado da Bahia e pelo ministro da Integração Nacional. Será publicado hoje".
Segundo ele, o reconhecimento favorece a ajuda humanitária e o recebimento de verba para a reconstrução da cidade e apoio às vítimas.
O governador Jaques Wagner e secretários estaduais estiveram ontem à tarde na cidade para dar apoio e contabilizar os prejuízos. "Fiz questão de ver de perto, em solidariedade às famílias", avaliou Wagner.
O ministro da Integração Nacional, Francisco Teixeira, também visitou a cidade e disse que o plano é liberar a várzea de inundação do riacho para recompor a antiga calha. Ele afirmou que será elaborado um plano de contenção contra as cheias, drenagem urbana e habitação para reconstruir Lajedinho.
"Nesse momento, não podemos falar em valores de recursos, porque o prejuízo ainda está sendo levantado", argumentou Teixeira, ao percorrer as ruas devastadas, com o prefeito Antônio Mário Lima Silva (PSD), também desabrigado pela chuva.
"Não temos ideia nem condições de contabilizar o estrago. Até porque temos outras preocupações, como alojar os desabrigados", disse Lima.
Desabrigados
Cerca de 200 famílias, número que equivale a aproximadamente mil pessoas, estão desabrigadas em Lajedinho, segundo informações da Secretaria de Ação Social do Município.
Aqueles que não conseguiram abrigo na casa de parentes, acabaram alojados nas escolas municipais Nossa Senhora do Carmo e Ana Lúcia de Lima Silva Macêdo, que ficam na parte alta da cidade.
Sala de aula - Sete pessoas da família da lavradora Regina Silva, 44 anos, estão abrigadas em uma sala de aula. Moradoras da rua Pinheiro de Moraes conseguiram fugir da casa com a água na altura do peito.
"Não sobrou absolutamente nada. Temos que agradecer a Deus por estarmos vivos", disse o marido de Regina, o também lavrador Antônio Ferreira, 32 anos, voluntário para ajudar outras pessoas na escola.
Ajuda
Uma força-tarefa para ajudar os moradores está na cidade de Lajedinho. São cerca de 30 bombeiros, 50 policiais civis e militares, 10 homens da Defesa Civil e 4 caminhões do Exército.
Homens do Exército partiram de Feira de Santana para montar barracas para os desabrigados.
Oito voluntários da Cruz Vermelha, mais dezenas de moradores somam forças para fornecer alimento e arrumar o estoque de donativos (roupas, colchões, remédios).
"No início, as pessoas estavam meio perdidas, mas estamos ajudando na logística e na assistência à saúde", disse a enfermeira voluntária da Cruz Vermelha, Juliana Souza.
De pé - A aposentada Rita de Oliveira, 58 anos, comemorou que a casa onde reside ficou de pé, apesar de ela ter perdido roupas, móveis e alimentos. "São sete pessoas na casa. E ainda vamos alojar mais uma", disse
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