Joel Santana, pedreiro: 'A rede elétrica tem que ficar mais distante das residências'
Segundo a pesquisa da Abracopel, o número de mortes por choque elétrico de pedreiros, pintores e ajudantes supera o de eletricistas: 31 contra 29. Em Salvador, basta passar por alguns bairros para encontrar trabalhadores atuando em construções próximo à rede elétrica.
Em Sussuarana, por exemplo, na construção de uma laje, o pedreiro Pedro Ferreira, 58, enfrenta situações de risco constantemente. No entanto, diz não ter medo. "Já presenciei muitos acidentes, mas não posso trabalhar com medo. Temos sempre que nos prevenir, evitando contato com a fiação", afirma.
O também pedreiro Joel Pereira Santana, 49, também atuando em Sussuarana, conta que já viu um colega morrer ao seu lado. "Ele carregava um vergalhão, que atingiu a rede elétrica", revela. "Acredito que os fios ficam muito próximos das residências, o que é um risco para o nosso trabalho e para os moradores", critica.
A situação também preocupa pessoas que moram em casas (principalmente aquelas com lajes) próximas à fiação elétrica. Em bairros como São Marcos e Sussuarana, é comum encontrar casas próximas aos fios. Além disso, há casos de pessoas que se arriscam a subir em postes sem equipamentos de proteção necessários.
Em São Marcos, a autônoma Leonice de Jesus afirmou que também já presenciou a morte de um vizinho por conta de choque elétrico.
Na casa dela, que tem dois andares, a fiação fica a cerca de um metro do segundo pavimento. "Evitamos ficar perto, principalmente quando está chovendo. Acidentes ocorrem constantemente", frisa ela.
Crianças
Vizinha de Leonice, a aposentada Iraci da Cruz, 72, questiona: "E se tiver medo, faz o quê? Tenho um neto pequeno e isso me preocupa, porque a criança está mais exposta aos riscos", acredita a aposentada.
O levantamento da Abracopel mostra que é preciso ter mesmo cuidado com as crianças. Em todo o Brasil, do total de óbitos, 69 foram na faixa etária de 0 a 15 anos. A faixa etária mais atingida é de pessoas com idade entre 31 e 40 anos, com 166 ocorrências.
Uma das principais queixas de pessoas ouvidas por A TARDE é a proximidade da rede elétrica com as casas (principalmente aquelas com lajes), o que, na opinião de moradores, potencializa os riscos. "Isso tem que ser revisto, porque vidas estão em jogo. A rede elétrica tem que ficar mais distante das residências", afirma Joel Pereira Santana.