Mães de recém-nascidos que são afetados pela alergia às proteínas do leite de vaca (APLV) reclamam da demora da Prefeitura de Salvador no processo de distribuição de um composto à base de aminoácidos usado para alimentar os bebês que não reagiram a tratamentos mais simples.
Para tratar desses pacientes, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) distribuía gratuitamente, até o mês de outubro de 2008, o medicamento Neocate (400 g), fabricado pela SHS Internacional e comercializado no Brasil pela Support. Uma lata de 400 g do produto custa cerca de R$ 400 e serve para alimentar o bebê durante apenas três dias.
Cátia de Oliveira Cabral, 33 anos, professora de educação física e mãe de um filho de seis meses, foi até o prédio da SMS, no bairro do Comércio, no dia 24 de outubro, para cadastrar o recém-nascido no programa, submeter a criança à avaliação de nutricionista e, desta forma, passar a receber o composto de aminoácidos. Porém somente foi contemplada com 13 latas de Neocate no dia 5 de dezembro, ou seja, mais de 40 dias após o início dos trâmites.
“Se não fosse a ajuda de conhecidos e a doação do medicamento que recebi de outras mães, o meu filho teria morrido de fome, pois ele não pode se alimentar de nenhuma outra coisa e também não tenho condições de comprar um remédio tão caro”, ressaltou Cátia.
A pediatra Erbene Simões Alves explicou que a APLV é uma doença ocasionada por uma imaturidade no sistema intestinal da criança, o que acarreta na incapacidade de o organismo digerir os alimentos que contenham a proteína do leite de vaca, como manteiga, iogurte, queijos e outros laticínios.
“Os principais sintomas dessa alergia são intensas erupções e manchas vermelhas na pele, vômitos, cólicas, diarréias e até mesmo fissuras anais com sangramentos, nos casos mais graves”, informou a pediatra.
Segundo ela, a fórmula com aminoácidos só é receitada para os casos mais avançados da APLV. “Primeiramente, tentamos controlar a alergia colocando as mães em uma dieta de exclusão, onde elas ficam proibidas de ingerir os derivados do leite e tentam amamentar os filhos normalmente. No entanto, a dieta não funciona em muitos casos, pois é necessário deixar o bebê em um ambiente totalmente isolado, onde ele não possa nem inalar o leite”, assinalou Erbene.
A fisioterapeuta Taiena Lima de Andrade Ramos, 28, também mãe de um bebê de seis meses, conseguiu controlar, por dieta de exclusão, a alergia do filho até o quarto mês de vida da criança.
“Depois disso, ele voltou a apresentar os sintomas”, afirmou Taiena. Ela está apreensiva, pois teve de recorrer à prefeitura em busca do medicamento especial. “Dei entrada com o pedido no último dia 15. Sei que todas as mães recebem, o problema é a demora para entregar. Enquanto esse remédio não chega, ficamos desesperadas, pois não temos como alimentar o bebê”, assinalou a fisioterapeuta.
De acordo com a pediatra, os bebês que sofrem com a alergia às proteínas do leite que não recebem o tratamento adequado correm sérios riscos. “O quadro de intolerância pode evoluir para alergias extremamente graves. No caso das crianças que estão sem receber a fórmula de aminoácidos, elas podem desenvolver, devido ao déficit de nutrientes, sérias lesões cognitivas, com diminuição da inteligência e deficiência no crescimento”, alertou Erbelene. Ela acrescenta que o tempo de cura da APLV varia em cada paciente. “Geralmente, a alergia passa quando a criança completa 1 ou 2 anos de idade. Mas pode demorar muito mais tempo ou também a pessoa ter de conviver a vida toda com o problema”, assinalou.
A assessoria de comunicação da SMS reconheceu que, no mês de novembro, houve uma suspensão na entrega dos medicamentos em decorrência de um atraso no processo licitatório para escolher a empresa que forneceria o produto. A assessoria não informou o resultado da licitação, mas garantiu que o atendimento já está normalizado, tanto para os pacientes antigos quanto para o cadastramento de novos casos. A SMS disponibilizou o telefone 3186-1098 para as mães buscarem a solução do caso.