Os calouros da Universidade Federal da Bahia (Ufba) receberam, nesta semana, ao se matricularem nos bacharelados interdisciplinares (BI) e cursos tecnológicos, folhetos informativos sobre a segurança da instituição. O material reconhece que “os campi da Ufba (..) não podem ser considerados áreas totalmente seguras”, cita as ações que estão sendo implementadas e dá recomendações de segurança para os alunos.
O documento é visto com estranheza por Eduardo Ribeiro, diretor do Diretório Central Estudantil (DCE). “A reitoria já vinha com essa política de se desresponsabilizar da segurança na universidade, alegando o que acontece no entorno. Também é estranho que 50% do folheto trata de como o estudante pode se precaver, ou seja, a responsabilidade passa a ser do aluno”, critica Ribeiro.
O vice-reitor da Ufba, Francisco Mesquita, justifica a iniciativa dizendo que a segurança não pode ser apenas de um e, sim, do coletivo. “Segurança se faz com a participação de todos. Se o estudante ou professor ficar em local que facilite a agressão, então ele também tem responsabilidade”, diz. Questionado sobre se os campi não deveriam ser locais seguros, Mesquita disse que “não existe segurança 100%”.
Ribeiro recorda que, na época da
agressão sexual contra uma aluna de Dança, em agosto do ano passado, a reitoria “tentou responsabilizar a menina, alegando que o local que ela estava era deserto e pela roupa que ela usava. Mas, depois, teve que voltar atrás e pedir desculpa”.
AÇÕES – A reitoria garante implementar as ações de melhorias na segurança da Ufba até o início das aulas em março. Entre as ações, está o cercamento das unidades do Canela, Ondina e Federação, além da iluminação, limpeza, poda e capinagem em todos os campi.
Mas o folheto divulgado pela Ufba assume, ao orientar que os alunos evitem esses espaços, que ainda há “locais desertos e pouco iluminados”. Os universitários também reclamam deste problema. “Tem áreas que estão abandonadas, sem sinalização, iluminação deficiente, cheias de capim”, diz Rafael Santos, estudante de administração.
Ribeiro confirma que algumas ações já foram realizadas, mas que ainda há locais de risco como o campi de Filosofia, em São Lázaro, pontos do campi de Ondina, que estão com pouca iluminação e a área do Vale do Canela.
Mesquita explica que o serviço de urbanização da instituição deve ser iniciado na próxima semana, mas que ficará pronto para o início das aulas. Ele também aponta que a universidade ampliou em cerca de 20% o número de seguranças terceirizados, passando a contar com 500 homens. “Já está acertado que eles também vão trabalhar com motocicletas e bicicletas e vão agir não só no interior da instituição, como nos pontos de ônibus do entorno”, diz.
Mesquita garantiu que vai solicitar que a Polícia Militar (PM) reforce o policiamento no entorno da faculdade. O coronel da PM, André Souza, disse que ainda "não houve uma provocação oficial, mas a PM já programou intensificar o rádio-patrulhamento, principalmente nos horários de saída e chegada dos alunos". O efetivo que fará essa ronda ainda não foi estabelecido.
INSEGURANÇA – O ambiente deserto e sem circulação frequente de segurança faz o calouro de BI em saúde, Alisson Jorge Dourado, temer estudar na Ufba. “Eu não me sinto nem um pouco seguro, principalmente tendo que estudar à noite. Inclusive, estou na dúvida se vou cursar aqui ou em Aracaju, onde também passei, pela insegurança”, desabafa o rapaz.
A mesma sensação é sentida por outros estudantes, como Rafael Santos, que é veterano e sabe os perigos do local. “Não me sinto seguro. Eles ampliaram os seguranças, mas não sei a capacitação deles. No resto, não fizeram nada. Acho que há um descaso do reitor”, diz o jovem.
De acordo com a instituição, entre 2007 e 2008 foram registradas 80 ocorrências nos campi. “A maioria de furtos, que acontece em qualquer local, qualquer empresa”, diz Mesquita. Ele disse que esse ano ainda não houve registro de furtos.