Por causa da cobrança abusiva turistas estrangeiros chegam a desembolsar R$ 20 pelo uso de espreguiçadeiras
Rodrigo Vilas Bôas
A ida à praia neste verão pode causar um impacto no bolso dos desavisados. Na de Piatã, na orla de Salvador, há barraqueiros cobrando ilegalmente pela utilização do espaço da areia da praia, exigindo pagamento pelo uso de mesas, cadeiras, sombreiros e até espreguiçadeiras. E não é só isso.
Os preços elevados dos produtos e a cobrança antecipada de estacionamento tornam o passeio um privilégio de poucos. Como se não bastasse, ladrões disfarçados de ambulantes tomam os pertences dos banhistas, que se sentem cada vez mais inseguros.
Tudo começa na entrada de um estacionamento privado que dá acesso à praia, onde é notório o assédio de garçons, que encaminham os freqüentadores para as barracas. As principais vítimas são turistas estrangeiros, que desconhecem o modo de prestação dos serviços. Os próprios garçons seriam os responsáveis pelo cardápio duplo, como é conhecida a prática da cobrança ilegal.
Barraqueiros temem falar sobre o assunto. O grupo que denuncia as irregularidades prefere manter o anonimato. Se nos identificarmos, poderemos sofrer ameaças. Podem até incendiar as nossas barracas, comentou o proprietário de uma delas. O vice-presidente da Associação dos Comerciários de Barraca de Praia da Orla Marítima de Salvador - ACBPOMS, Renato Mota, admite que barraqueiros já o procuraram para relatar o que estaria acontecendo na região.
Os garçons vestem camisas nas quais está estampado o nome dos estabelecimentos, o que possibilita identificá-los como supostos envolvidos. Segundo os barraqueiros, a prática aconteceria, por exemplo, na barraca Dalas, além de outras duas na mesma área. O proprietário da barraca Dalas não estava e ninguém além dele poderia comentar.
Um dos funcionários, porém, disparou a frase: Ninguém entra no nosso território. Deitada em uma espreguiçadeira na Praia de Piatã, a italiana Angélica Entronchi, 51 anos, teria pago R$20 pelo aluguel de 3 horas. Ela afirmou não saber que o equipamento poderia ter sido disponibilizado gratuitamente pela barraca e disse que, na Praia do Corsário, também já pagou aluguel, inclusive para poder colocar toalhas no chão da areia.
Seguranças são contratados
Piatã enfrenta outros problemas, como os furtos a banhistas. Não por acaso, desde outubro, barraqueiros contrataram os serviços de uma empresa especializada em segurança. Ambulantes considerados suspeitos são aqueles que vendem amendoim, queijo coalho e algodão doce, considerou Jair dos Santos, chefe da segurança na região.
Os objetos mais furtados, diz Santos, são aparelhos de celular, bolsas e carteiras de dinheiro. Desde a ação da equipe de segurança, composta por 12 homens, a ação dos marginais na praia teria diminuído em torno de 90%, conforme o chefe da segurança. Os profissionais fazem a segurança de 30 das 80 barracas de Piatã.
O secretário de Serviços Públicos, Amando Lessa, afirmou que não pode diminuir a presença de ambulantes na praia. O direito de ir e vir é constitucional. Fiscalizamos e chamamos a atenção deles, mas não podemos impedir que vendam suas mercadorias, considera.
Além de pagar caro para estacionar os veículos, quem vai à praia se depara com os altos preços dos produtos. Quanto mais distante do centro da cidade a praia, ficam mais caros a cerveja e o tira-gosto, brincou o advogado Guilherme Nunes, 39 anos, que freqüentava pela primeira vez a barraca do Lôro, na Praia do Flamengo.
Na barraca do Lôro, uma das mais freqüentadas da cidade, o preço da cerveja varia de R$ 2,60 (long neck) a R$ 7,20 (garrafa de 600 ml). Os tira-gostos custam de R$ 2,50 a R$ 35.
O gerente do estabelecimento, Carlos Magno da Silva, discorda da opinião do advogado. Para ele, o fato de oferecer um serviço de qualidade aos clientes não implica em aumento do valor dos produtos. O espaço da areia da praia pertence à União. Em praias do litoral de São Paulo, por exemplo, a Justiça proibiu recentemente que quiosques mantivessem mesas, cadeiras e sombreiros na areia.
Para o secretário Armando Lessa, as praias paulistas possuem características próprias e a medida judicial não poderia ser aplicada na Bahia. O secretário acrescentou que as 570 barracas cadastradas pela prefeitura serão padronizadas em toda a capital, a exemplo do que está acontecendo na Praia do Flamengo e na Ribeira.