A contaminação de peixes e mariscos na Baía de Todos os Santos está matando os urubus que se alimentam do pescado em decomposição. Pescadores, marisqueiros e demais habitantes que retiram o sustento do mar em Bom Jesus dos Passos estão preocupados com a morte das aves, consideradas espécie de grande resistência.
Próximo ao mangue, o pescador Antônio Carlos dos Santos achou dois urubus mortos. Isso está acontecendo direto. Eu já vi um que, quando acabou de comer uma carapeba, caiu no chão. A população praiana já sente os prejuízos causados pela proibição da pesca na Baía de Todos os Santos. Enquanto parte da população espera assistência do governo, que deve chegar a partir de hoje, outros se queixam com relação aos critérios da distribuição dos benefícios.
Os comerciantes que compram peixes para revenda e os pescadores que não são cadastrados em colônias ou associações da categoria temem não receber ajuda para sair da crise. Situação de desespero está vivendo o dono de pescaria Antônio José Ramos, 52 anos. Há 27 anos vivendo da revenda de peixes e mariscos, ele tem 12 freezers abarrotados de produtos, totalizando cerca de R$ 16 mil em mercadorias desde o início da mortandade.
Tenho também três barcos e sete funcionários e até agora só ouço conversa. Não pago minhas contas com palavra e sim com dinheiro. Tenho contas para pagar e ninguém vai querer saber que não estou vendendo. Todo mês gasto de R$ 7 mil a R$ 8 mil. Estou começando a ficar nervoso. Até os peixes que são do Sul do Brasil ninguém quer comprar. Sustento minha família e pago os estudos dos meus filhos daqui. Só cesta básica e um salário não vão resolver, e quem revende não tem direito, só os pescadores, disse Antônio, que chega a vender dois mil quilos de peixe por semana para São Francisco do Conde, Candeias, Salvador e Maragojipe.
A desolação toma conta de várias famílias que necessitam da comercialização de pescado para sobreviver. Na mesma situação, Evanildo dos Santos foi obrigado a jogar fora 1.190 quilos de peixes entre robalo, sambulho, carapeba e arraia que seriam comercializados na Semana Santa. Mesmo com a proibição, algumas pessoas continuam pescando, mas grande parte da mercadoria acaba no lixo.
O marisqueiro W.F.S., por exemplo, estava na praça da ilha desde o início da manhã com um balde cheio de siri e até as 10 horas não tinha achado nenhum comprador. O povo está com medo, não tenho vendido muito. Eu mesmo parei de comer, contou. No cadastro da colônia, são 420 pescadores que receberão as cestas básicas. Por outro lado, cerca de 100, embora vivam da pesca, não fazem parte de um grupo que represente a profissão e não possuem cadastro na Secretaria Especial da Agricultura e Pesca (Seap), ainda estão sem saber se serão ajudados.
Precisamos que as cestas cheguem até quarta-feira para não estragar a Semana Santa do povo daqui. E não o que aconteceu em Saubara, onde não calcularam a necessidade direito e, quando os alimentos chegaram, foi a maior confusão, porque não dava para todo mundo, disse o presidente da Colônia de Pescadores Z-03, de Bom Jesus dos Passos, Tadeu Nunes Pinheiro.