Estudo diz que as retiradas do cordão umbilical são eficientes nos transplantes
Cristina Amorim
AGÊNCIA ESTADO
Um jovem biólogo de São Paulo descobriu por que as células-tronco do cordão umbilical são mais eficientes em transplantes do que as de medula óssea. Rodrigo Alexandre Panepucci, de 30 anos, doutorando na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), encontrou um grupo de genes que seguem um mesmo mecanismo e são mais ativos em células do cordão.
A intenção dele, em seu trabalho de doutorado, é descobrir maneiras potenciais de manipular os genes para obter melhores resultados terapêuticos ou estimular a formação artificial de tecidos. Outra conseqüência indireta de seu trabalho é o fortalecimento de bancos de cordão umbilical, públicos e privados, que já existem no País.
Por sua capacidade, as células-tronco podem ser transplantadas para tratar doenças como leucemia e outros tipos de câncer. Isso já ocorre na prática, mas entender o quebra-cabeça molecular é essencial para garantir a segurança da terapia, melhorar o processo e abrir caminhos para novas utilizações das células.
Panepucci trabalhou apenas com as células hematopoiéticas das duas fontes. Elas formam todas as outras células do sangue além de novas células-tronco, mas com diferenças sutis. Seu trabalho ganhou o terceiro lugar no Prêmio Jovem Cientista de 2005, na categoria de alunos graduados.
DIFERENÇAS As que são retiradas da medula óssea se transformam mais rapidamente nas células do sangue que o paciente precisa. Porém, as retiradas do cordão umbilical reconstituem o sistema imunológico de forma mais eficiente, especialmente o repertório de linfócitos T, além de restabelecer melhor o arsenal de novas células-tronco.
Elas também apresentam menor rejeição na hora do transplante uma vantagem e tanto por causa da dificuldade de se encontrar um doador 100% compatível. O biólogo foi atrás do motivo. Em dez mil genes, 400 se expressam mais nas células-tronco de medula óssea e de cordão umbilical, mas um conjunto de 60 genes estão especialmente ativos nas umbilicais.
Panepucci descobriu que os genes têm algo em comum: alvos dos fatores de transcrição, moléculas envolvidas no início do processo que transforma a informação genética em proteína. Havia alvos transcricionais já conhecidos e outros possivelmente novos, explica.
Neste conjunto parece estar a chave da diferença entre as células-tronco das duas fontes, e compreender completamente o mecanismo abre portas para diferentes estratégias. Conhecer a maquinaria é importante para nortear as pesquisas, afirma Panepucci.
Uma maneira seria a manipulação gênica para que as células retiradas da medula apresentem um grau de rejeição tão baixo quanto as umbilicais. Não só as pesquisas básicas seriam beneficiadas, mas aquelas em estágio mais avançado também. Um dos desafios atuais de quem testa terapias com células-tronco é manter seu estado cru, indiferenciado. Muitas vezes, quando retiradas da fonte e mantidas em laboratório, elas começam a se diferenciar e formam as células do sangue antes da hora. Eventualmente, podemos manipulá-las para acelerar ou evitar a diferenciação.