Artigo
Carlos marcílio de souza (*)
A Sociedade Internacional de Nefrologia, com o apoio da Sociedade Brasileira de Nefrologia, lançou, no último dia 9, o primeiro Dia Mundial dos Rins, tendo como tema central Detecção precoce e prevenção de doenças renais. Isto decorre do fato de as doenças renais terem se constituído em um dos maiores problemas de saúde pública mundial, especialmente devido à sua forte associação com hipertensão arterial, doenças cardiovasculares e diabetes.
Estas doenças, freqüentemente associadas, tornaram-se uma pandemia situação na qual uma doença dissemina-se de modo global e crescente em diversas regiões do planeta. Porém, deve-se observar que a disseminação das doenças renais tem características muito especiais, pois se trata de uma doença que se inter-relaciona grandemente com outras condições clínicas, também graves e prevalentes.
Nos Estados Unidos da América, em 1998, 320 mil pacientes estavam em programa de diálise. A expectativa é que este número atinja 650 mil em 2010, ao custo de 65 mil dólares per capita, anual. Estes números indicam que muito dificilmente os diversos sistemas de saúde que os países adotam poderão dar conta do ônus financeiro da diálise. O caminho é, sem dúvida, o da detecção precoce e prevenção das complicações das doenças renais e das condições associadas: hipertensão, doenças cardiovasculares e diabetes.
As doenças renais crônicas tendem a ter um curso irreversível, evoluindo durante meses e anos. É importante observar que a doença renal pode ser detectada facilmente por meio de testes simples e rotineiros, como a medida da albumina na urina e da creatinina no sangue. Desta forma, tanto as doenças renais e as potenciais complicações cardiovasculares podem ser prevenidas e eficientemente tratadas com o controle sistemático da pressão arterial, controle efetivo da glicemia em diabéticos, controle do colesterol elevado.
Já existem diversas experiências de que este controle é factível e a custos compensadores se a questão é prevenir doenças graves (isquemia do coração, derrame cerebral, doenças vasculares periféricas, retinopatia, necessidade de hemodiálise, etc.) e reduzir custos cada dia mais onerosos, é necessário que os gestores da saúde pública, especialmente do SUS, reconheçam e adotem medidas efetivas para detectar, prevenir e retardar o mais possível a doença renal crônica terminal, que requer diálise e ou transplante, e as complicações cardiovasculares associadas. A instituição do Dia Mundial dos Rins é um convite dos nefrologistas aos gestores de saúde, aos profissionais e à população em geral para a prevenção das doenças renais.
(*) Diretor médico/nefrologista e responsável pelo Setor de Nefrologia do Hospital Espanhol