Estudo da Ufba aponta que nível de ruído está acima do recomendado pela OMS
FABIANA MASCARENHAS
A professora de educação física Cleide Leocárdio, 42 anos, caminha, todos os dias pela manhã, os 2,6 quilômetros que contornam o Dique do Tororó. Talvez ela não saiba, mas a atividade física está sendo feita em um local com alta concentração de poluição sonora provocada pelo intenso tráfego de veículos, situação que a deixa sob o risco de ter um estresse auditivo.
Às vezes, o barulho de carros, caminhões e ônibus incomoda tanto que impede a concentração, e a gente acaba não relaxando como deveria, afirma. Assim como a professora, milhares de pessoas costumam freqüentar o Dique diariamente, seja para contemplar o espaço, realizar atividades esportivas ou como opção de lazer.
Entretanto, ao invés de conseguir um melhor condicionamento físico ou o relaxamento desejado, estas pessoas podem criar sintomas como irritabilidade, fadiga, insônia ou estresse. Isso é o que mostra um estudo realizado pelo mestre em engenharia ambiental da Universidade Federal da Bahia Valdízio Santos.
Em seu trabalho, ele constatou que 90% do parque do Dique do Tororó tem nível de ruído acima de 55 decibéis (dB), considerado confortável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A média encontrada foi de 78 decibéis, valor alto, se levarmos em conta que ruídos com intensidade de até 55 dB não causam problemas graves às pessoas, mas a partir deste nível há início de estresse auditivo, explica Santos.
Segundo o presidente da Sociedade Baiana de Otorrinolaringologia, Nilvano Andrade, a partir de 70 dB a saúde começa a ser afetada, e acima de 85 dB pode haver problemas sérios na audição. Os efeitos variam com o tempo que as pessoas ficam expostas ao ruído e são cumulativos. Como a maioria das pessoas que freqüentam o local, normalmente, permanece por mais de uma hora, é preciso tomar cuidado, recomenda.
ESTUDO A pesquisa, concluída em agosto de 2004, analisou os indicadores da poluição sonora provocada pelo trânsito urbano no Dique do Tororó, por meio de um programa de simulação que considera as situações de tráfego contínuo ou interrompido para prever níveis de ruído.
Para realizar a análise, foram selecionados 95 pontos ao longo do parque e neles foram efetuadas medidas de intensidade de ruído, pela manhã e à tarde. Nós não contabilizamos as motocicletas e, com isso, se conclui que o ruído é ainda maior, ressalta.
Dos 95 pontos gerados no período da manhã entre as 7 e as 9 horas , 43 deles (45,26%) tiveram valor igual ou maior a 70 dB, 91 pontos (95,79%) ultrapassam o nível de 55 dB. Considerando os valores da hora de pico da manhã, pode-se afirmar que a maioria, 95,79%, ultrapassa o valor mínimo de conforto auditivo, apenas 4,21% dos valores estão abaixo dos valores de segurança, afirma o pesquisador.
Já no período das 17 às 19 horas, dos 95 pontos gerados, 38 deles (40%) tiveram valor igual ou maior a 70 dB. Estes dados revelam que a exposição ao ruído produzido neste parque, dependendo do tempo de exposição, é um fator de degradação da qualidade de vida do cidadão, ressalta.
Veículos são principal fonte de ruído
Os principais responsáveis pela poluição sonora nos centros urbanos são os veículos automotores. De acordo com Santos, as maiores fontes de emissão de ruído são os motores, as descargas e o atrito das rodas com o solo. No caso do Dique do Tororó, a circulação é ainda maior porque fica numa área próxima do centro da cidade e é o principal corredor de acesso ao Terminal da Lapa, a maior estação de transbordo de Salvador.
Segundo a Superintendência de Engenharia de Tráfego, 31.414 veículos circulam diariamente no sentido Dique / Lapa e 52.629 no sentido Dique / Fonte Nova
entre 7 e 20 horas.
As más condições dos veículos, sobretudo dos ônibus antigos, são citadas como um dos fatores que geram o ruído. Segundo a gerente de fiscalização da Secretaria de Transportes Públicos (STP), Nadjaira Carvalho, a frota de cada empresa tem que ser vistoriada, pelo menos, duas vezes por ano.
Quando o veículo é mais antigo, vistoriamos com mais freqüência, e há também as eventuais, feitas sempre que a população solicita ou que há necessidade, explica. Ela acrescenta que a idade mínima exigida para que a frota possa ir para a rua é de sete anos. Depois desse período, ele entra para a frota reserva e só circula esporadicamente, explica.
Para minimizar a poluição, Santos sugere que sejam eleitas algumas áreas do Dique, aquelas que agrupam mais pessoas e as mantêm por um tempo mais prolongado, que podem ser beneficiadas com possíveis ações de redução da poluição sonora.
Entre essas ações está o reordenamento do tráfego em períodos de pico. Outra opção seria a alteração do pavimento ao longo das vias que contornam o Dique por um tipo que produza menos ruído.
Barreira acústica reduziria problema
Uma sugestão dada pelo pesquisador Valdízio Santos seria a construção de barreiras acústicas com material transparente para barrar a passagem das ondas sonoras nessas áreas. Teria que ser algo que não provocasse um impacto visual muito grande. Apesar do alto custo, supõe-se que, pelo fato de serem aplicadas apenas em determinadas áreas, teria o custo da sua implantação reduzido, informa.
Durante o estudo, foram realizadas simulações de colocação destas barreiras, tendo-se obtido como resultado uma redução média do ruído nas áreas testadas em torno de 9 dB. O pesquisador afirma que a Lei Municipal 5.354/98, que trata dos limites de emissão de som no meio urbano, definindo níveis e horários para sua emissão, não faz nenhuma referência específica ao tipo de uso e ocupação do solo, salvo no caso de ambientes hospitalares, onde o limite de emissão de ruído é de 45 dB em qualquer período do dia.
Segundo a lei, o limite máximo é de 60 dB no período de 22 às 7 horas e de 70 dB entre 7 e 22 horas. Valores contraditórios, se considerarmos os valores defendidos pela OMS, que os apresenta como decibéis que definem o início do processo de prejuízo à saúde humana, diz Santos.
O gerente de fiscalização ambiental da Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (Sucom), Marcos Pimentel, confirmou que a legislação não prevê ou faz referência às possíveis atuações do órgão nos casos de poluição provocada por tráfego. Contudo, isso não nos impossibilita de fazer uma análise do trabalho e, a partir das sugestões oferecidas, realizar algumas ações, frisa.
O único dia em que ocorre a redução da poluição sonora é no domingo, quando a Superintendência de Engenharia de Tráfego (SET) interdita o trânsito das 8 às 16 horas e o Dique transforma-se numa rua de lazer, conforme explica a superintendente Cristina Aragón.
Na opinião de Aragón, a implantação da faixa exclusiva reduz significativamente os níveis de poluição. Com a faixa, eu acredito que já tenha ocorrido a diminuição desses níveis, no entanto, vamos estudar alternativas para minimizar esse problema, prometeu.