Ao participar do painel Gênero e Eqüidade na África e na Diáspora, no primeiro dia da II Conferência de Intelectuais da África e da Diáspora (II Ciad), a filósofa Sueli Carneiro, do Instituto Mulher Negra, propôs a adoção de um feminismo anti-racista, ou seja, a luta pela superação de uma dupla desigualdade de raça e gênero que atinge a mulher negra.
Segundo Sueli, o papel da mulher negra na formação da cultura nacional é rejeitado. A expressiva massa de população mestiça, construída na relação subordinada de mulheres escravas negras e indígenas com seus senhores, tornou-se um dos pilares estruturantes da decantada democracia racial brasileira, disse a filósofa.
A filósofa ressaltou que a desigualdade enfrentada pelas mulheres negras brasileiras gerou um verdadeiro matriarcado da miséria, criado por tecnologias de poder, que por sua vez criaram uma hegemonia branca e masculina no mundo.
Vivemos em sociedades multirraciais sobre a égide de uma branquitude alçada à condição de um sistema político que impede a realização da democracia para além do gênero e da raça dominantes, afirmou.
Para Sueli, a luta das mulheres negras contra a opressão de gênero e raça cria um novo tipo de luta feminista. É preciso reconhecer a violência simbólica e a opressão que a brancura como padrão estético privilegiado e hegemônico exerce sobre as mulheres não-brancas, em especial as negras.
Após esse reconhecimento, o próximo passo, de acordo com Sueli, seria a criação de novos pactos, racial e de gênero, sustentados no princípio de igualdade, de diversidade, de participação política, de solidariedade e de liberdade.
Essa perspectiva remete a visão que orienta o protagonismo do atual feminismo anti-racista que professamos, segundo o qual os movimentos de mulheres querem radicalizar a democracia, deixando claro que ela não existirá enquanto não houver igualdade, e não haverá igualdade sem distribuição das riquezas, e não há distribuição sem o reconhecimento das desigualdades entre os homens e mulheres, brancos e negros, urbanos e rurais, fatores que hoje estruturam a pobreza. Não almejamos a mera inversão dos papéis, mas um novo marco civilizatório.