A Bahia é o segundo maior estado nas regiões Norte e Nordeste em número de pessoas com Aids. Foram 435 casos da doença de janeiro até junho de 2008. Apenas Pernambuco supera essa marca, com 493 notificações. Neste sábado, Dia Mundial de Luta contra a Aids, as entidades que ajudam as vítimas da doença lembram que a prevenção deve acontecer todo dia.
No último ano houve crescimento de 13% no índice de infectados no Nordeste. Em Salvador, foram 140 registros este ano. O número é inferior a 2006, com 298 pacientes. A maior preocupação hoje é com a incidência da doença entre jovens e mulheres.
Os números regionais fazem parte do Boletim Epidemiológico 2007, feito pelo Ministério da Saúde. Já as estatísticas de Salvador pertencem ao Programa Municipal de DST/Aids. Este ano, a campanha no Dia de Combate pretende atingir os mais jovens. Somente no ano passado foram 2.289 doentes entre 20 a 24 anos na Bahia.
Na faixa etária de 25 a 29 anos chegou-se a registrar 4.816 casos. “As pessoas tem deixado de lado a proteção“, alerta o presidente do Grupo de Apoio a Prevenção a AIDS, Harley Henriques.
Um dos grandes causadores desse cenário é a mudança no perfil dos soropositivos. Henriques acredita que a geração atual não tem a mesmo temor que tinham seus pais. “Antes, os portadores do vírus eram gays, magros, com cara de doente. Hoje, são pessoas fortes e que não parecem estar infectadas“, comenta.
MULHERES – Outra tendência preocupante é o fato de as mulheres engrossarem as estatísticas. Hoje existe quase uma mulher para cada homem infectado na Bahia. Na década de 80 essa relação era uma mulher para cada 25 homens. E para perceber as dificuldades de conviver com a AIDS basta sentar e ouvir as histórias de vida de soropositivos como Rosamaria Piriz, 51 anos. A contaminação aconteceu por meio do companheiro, usuário de drogas injetáveis. Era final da década de 90 e o marido preferia não fazer os exames com medo do resultado.
Rosamaria tomou coragem e fez o teste. Três dias depois seu companheiro morria. Junto com a perda vieram demonstrações de preconceito. “Minhas filhas tiraram meus netos do quarto onde dormíamos", lamenta.
Trabalhando como garçonete, Rosamaria não suportou os maus tratos da patroa. “Todos os clientes ao chegar eram avisados sobre mim. A dona pedia que não encostassem“, lembra. A solução foi pedir demissão. Hoje, trabalha no Gapa e presta serviço em comunidades carentes com esclarecimentos sobre as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).
O maior problema enfrentado pelos soropositivos é conseguir medicação para doenças comuns entre portadores do vírus HIV, como a pneumonia e a tuberculose. “As vezes é difícil conseguir até remédio para conter diarréia“, diz.
Os coquetéis anti-Aids (utilizados para conter a proliferação do vírus no organismo) são oferecidos pelo governo federal. Já as medicações para as doenças provocadas pelo HIV são de responsabilidade dos governos estadual e municipal. Tudo de graça.
Segundo a coordenadora do Programa Municipal de DST, Socorro Chaves, o problema é o estoque de remédios para doenças causadas pelo vírus. “Falta porque são medicações que todos usam e não apenas os soropositos”, explica, ao lembrar que o mesmo não costuma acontecer com o coquetel anti-Aids do governo federal.