Dois meses depois de iniciada, greve da unidade de saúde Maria Mãe de Salvador ainda não tem previsão de acabar
JANE FERNANDES
A greve da unidade de saúde Maria Mãe de Salvador, que fica no subúrbio ferroviário, começou em meados de janeiro, já completou dois meses e não tem hora para acabar. Os funcionários decidiram parar por falta de pagamento dos salários. A suspensão dos serviços oferecidos aos moradores do Jardim Lobato e localidades mais próximas prejudica a população e atrapalha os planos de gente como a dona-de-casa Nadjane Gomes, 28 anos, que se programou para ter seu segundo filho na maternidade mais perto de sua residência.
Mantida pela entidade filantrópica Associação Apoio e Solidariedade, a maternidade realizava cerca de 230 partos por mês. De acordo com informações das grevistas e da entidade filantrópica gestora da maternidade, a irregularidade na remuneração teve início em outubro do ano passado, quando cada funcionário recebeu apenas 65% do seu salário. A informação é confirmada pela coordenadora da entidade mantenedora e diretora da maternidade, irmã Murielle Fultin, que atribui o problema à crise geral na qual a maternidade está mergulhada. Estou assumindo a maternidade com uma grande dívida acumulada, argumentou.
PROMESSA A administração só nos faz promessa e não resolve nada, acusa Joelma de Jesus, 30 anos, técnica de laboratório. Na sua opinião, a troca da mantenedora antes era a Associação Imaculada Conceição foi apenas uma forma de confundir os trabalhadores. A própria irmã Murielle admite a interligação entre as entidades, mas não explica exatamente essa relação. O certo é que a Apoio e Solidariedade assumiu a maternidade, enquanto a Imaculada Conceição continuou sendo a responsável pelas escolas mantidas pelo grupo na região. A religiosa já fazia parte da gestão do local antes.
Para tentar reverter a situação, irmã Murielle declarou estar buscando ajuda nos órgãos públicos e em ONGs internacionais. Técnicos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) estiveram no local na última semana para conhecer as instalações. Não há previsão de ajuda financeira, mas a equipe da SMS pretende desenvolver um projeto para auxiliar a gestão da maternidade.
Moradores sentem falta do serviço
Diante da faixa que sinaliza a greve, Aulene Cardeal, 25 anos, técnica em enfermagem, se mostra desconfiada quanto à falta de verba para cumprir a folha de pagamento, que, segundo a diretora, é de R$ 40 mil mensais, sem contar os médicos. Como é que eles estão ampliando e não têm dinheiro para pagar quem trabalha e está passando necessidade?, questiona, enquanto aponta os tijolos empilhados na área ao lado. A religiosa, que é canadense, garante que o anexo em construção está sendo custeado por amigos da Itália, que auxiliam entidades filantrópicas de diversas partes do mundo.
Apontando o cilindro de oxigênio colocado em local de risco e o ponto de descarte de lixo hospitalar, as funcionárias criticaram as condições de atendimento oferecidas pela maternidade. Ultra-sonografias e mamografias seriam realizadas nesse novo espaço, que ainda não tem previsão para inauguração.Já a comerciante Jucimara Oliveira, 25 anos, que teve seus dois filhos na Maria Mãe de Salvador, não tem queixas do atendimento. Era ótimo, reforça Nadjane, que está no sétimo mês de gravidez.
SESAB Romenilda dos Santos, 28 anos, no entanto, garante que ao menos quanto à relação com os funcionários, os problemas são antigos. Tem uns seis meses que pararam de entregar nossos contracheques, denunciou. Na tentativa de justificar a situação na qual a maternidade se encontra, irmã Murielle disse que as dificuldades começaram quando a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) reduziu o número de partos que poderiam realizar pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
A superintendente de regulação da Sesab, Márcia Rejane Montenegro, confirma a limitação, mas afirma que ela está adequada a dimensão da unidade. O que fizemos foi ajustar o fluxo direcionado para lá aos parâmetros do Ministério da Saúde, condicionando-os à estrutura oferecida, explicou. Apesar de reconhecer a importância desse serviço para a comunidade de Lobato e arredores, Márcia esclarece que o local deve atender apenas a partos normais, pois não está equipado para dar suporte a bebês prematuros ou procedimentos de alto risco.
Irmã Murielle estima que a entidade precise de R$ 400 mil para pagar os salários atrasados e manter a folha de pagamento dos médicos - R$ 35 mil/mês.