Local onde Lindalva nasceu pode abrigar uma capela em sua homenagem
Talento para a caridade desde muito cedo
Vocação para a religião surgiu na infância
Mãe de mártir perdoa assassino
“Com esta beatificação, a Igreja consagra hoje o holocausto cruel de Irmã Lindalva para que sigamos com ela os passos de Cristo”. Estas foram as palavras do representante do papa Bento XVI, cardeal José Saraiva Martins, prefeito da Sagrada Congregação para a Causa dos Santos, para as cerca de 25 mil pessoas que, de acordo com a Polícia Militar, assistiram ontem à missa de beatificação realizada no Estádio do Barradão. A cerimônia foi celebrada pelo cardeal-arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, dom Geraldo Majella Agnelo,
Desde as 13h30, apresentações musicais animavam os fiéis, que começaram a chegar logo cedo. A celebração foi aberta às 16h45, com a entrada da imagem de Senhor do Bonfim no estádio, ao som do hino dedicado ao santo, tocado ao som de berimbau. Em seguida, o andor de Nossa Senhora fez o seu desfile no gramado, enquanto era entoado o cântico Ave Maria gravado por Fafá de Belém. Pessoas portando os estandartes das paróquias da Diocese de Salvador circundaram o campo.
A missa começou com a leitura da biografia da beata e foi acompanhada por autoridades religiosas e políticas. Entre os presentes se destacava a mãe da candidata a futura santa, dona Maria Lúcia da Fé, de 85 anos. Apesar da saúde bastante frágil e com muita dificuldade de falar, ela confidenciou. “Sofri muito, mas estou feliz. Tenho um pedido especial para minha filha, mas não posso contar. Vou guardar para sempre no meu coração”, disse Maria, que participou de um dos momentos mais emocionantes da cerimônia.
Após o cardeal José Saraiva Martins ler a fórmula de beatificação, foi exibida para o público uma gigantesca foto de Irmã Lindalva que será a sua imagem oficial. Neste momento, sua mãe levou ao altar uma relíquia contendo um pedaço da costela da beata, acompanhada de religiosas da Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, da qual Irmã Lindalva fazia parte, que carregavam flores e velas. Entre os políticos estavam o governador da Bahia, Jaques Wagner, o prefeito de Salvador, João Henrique, deputados federais e estaduais, além de vereadores. No campo religioso, o frei Paolo Lombardo, postulador da causa, e a irmã Mere Evelyne Franc, da congregação das Filhas da Caridade na França, eram destaques.
PADRE PINTO – Uma figura controversa apareceu de forma discreta entre as centenas de arcebispos, bispos, padres, freis e diáconos. De batina branca e estola roxa, o polêmico religioso e artista plástico Padre José Pinto fez sua primeira aparição pública após longo período de afastamento da vida pública e da paróquia da Lapinha.
Em janeiro de 2006, após aparecer na Festa de Reis trajando roupas típicas das religiões afro-brasileiras, numa performance de Oxum, uma grande polêmica se instaurou, culminando com sua reclusão religiosa.
batucada – As caravanas começaram a chegar por volta das 13 horas. Ônibus cheios traziam fiéis animados, com direito a música e batucada. Em grupos mais pacatos, bastavam camisas de santos no corpo, bandeirolas da Irmã Lindalva na mão. Assim, o palco de grandes partidas de futebol se transformou em santuário a céu aberto – com algumas nuvens e clima ameno.
Entre os milhares de católicos, um grupo tinha motivos a mais para homenagear. Eram os internos do Abrigo D. Pedro II, onde Lindalva foi morta em 1993. Segundo Irmã Cristina, diretora da casa, os idosos ficaram emocionados em participar da beatificação. “Não a conheci, mas sei que deu um exemplo de heroísmo”, disse.