Os descendentes de Antônio Teixeira Cesimbra, que viveu entre 1815 e 1876, e de sua esposa Joanna Marques Figueiredo Cesimbra, que nasceu em 1822 e morreu em 1885, deverão ser avisados por meio de anúncios publicados durante três dias em jornais de que os restos mortais desses parentes, que hoje estão em jazigos dentro da Igreja de Nossa Senhora do Pilar, serão transferidos para o cemitério anexo. Também os de Maria Emília Barros Ferreira, que nasceu ou morreu em 1899, e de Francisco Ambrósio Ferreira, que nasceu ou morreu em 1903. Dentro dessas lápides de mármore de Carrara estão os ossos de vários integrantes dessas famílias.
A transferência vai ser feita porque o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac) está gerenciando as obras de restauração na Igreja de Nossa Senhora do Pilar, construída na primeira metade do século XVIII, e entende que os jazigos devem ser retirados para desobstruir a visão do conjunto de azulejos que revestem a parede da nave.
A assessoria de imprensa do Ipac informa que, de acordo com a legislação, será dado um prazo para que os familiares se manifestem e permitam que o translado seja feito. Expirado esse período, que deverá ser de 15 dias, a ação será executada. Os jazigos do século XIX serão transferidos no início de 2009. A Arquidiocese autorizou a operação. Os túmulos ocupam 18 m² da parede. O primeiro tem 2m de altura por 1,3m de largura. O segundo tem 2,5m por 1,50m.
Há quatro anos, o diretor do Museu Afro Brasil, de São Paulo, o artista plástico baiano Emanoel Araújo, alertou, em entrevista a A TARDE, que era um absurdo que a Igreja do Pilar estivesse tão abandonada. Nesta segunda-feira, 24, ao saber sobre a restauração financiada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e com contrapartida do governo estadual, Emanoel Araújo disse: “Restaurar a Igreja do Pilar é muito importante, por ser uma igreja do período rococó e pelo cemitério neoclássico. Mas acho que não só a igreja, mas o próprio espaço ao seu redor deveria ser recuperado. Se não se cuida do entorno, o monumento continua vulnerável. Quanto ao azulejo, acho que deve sim voltar a ser visto. Havia, mesmo, essa decisão arbitrária de cortar os azulejos, de acrescentar os elementos, essas tumbas”, disse Araújo.
“A igreja estava em situação muito precária. Houve deslizamentos na encosta. Será uma restauração completa e vai durar um ano. Toda a imaginária já foi restaurada e está no Museu de Arte Sacra. Os altares laterais e a sacristia vão ser recuperados. Será viabilizada a acessibilidade, com elevador e rampa. Isto é obrigatório”, informou o gerente de Patrimônio do Ipac, José Carlos Matta.
A Igreja do Pilar situa-se na parte baixa da cidade, perto do porto. Na sua vizinhança estão antigos armazéns e sobrados mal conservados. A igreja integra a zona de preservação rigorosa estabelecida pela Lei Municipal nº 2.403 de 1972. A encosta era considerada "non aedificandi" (não edificante) desde o Decreto Municipal nº 4.524 de 1973, até o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU). Hoje, a encosta está tomada por invasões e a reurbanização da Ladeira do Pilar foi prometida há cinco anos pela Companhia de Desenvolvimento Urbano (Conder). Seria feita em parceria com a Universidade Federal da Bahia e a Caixa Econômica Federal.
ROCOCÓ – Os azulejos são do período entre 1750 e 60, de diferentes oficinas portuguesas. De acordo com o Inventário de Proteção do Acervo Cultural da Bahia, coordenado pelo arquiteto Paulo Ormindo de Azevedo, os da nave são atribuídos à oficina do Juncal e os da capela-mor possuem cercadura rococó e fundo marmoreado azul. Existem ainda azulejos nos corredores laterais e na sacristia.
A Fonte de Santa Luzia, situada no pátio da igreja, atrai grande número de fiéis, no seu dia, 13 de dezembro. Essa devoção começou na Capela do Solar do Unhão, na Avenida Contorno.