“Não temos dinheiro nem vontade de comprar o bairro inteiro”, brinca o empresário Armando Correa Ribeiro. Ele esclarece que a intenção é facilitar a instalação de galerias de arte, casas comerciais e culturais e dificultar o acesso de investidores passageiros porque quer criar um movimento duradouro. A inspiração desse modelo de apropriação veio dos armazéns e cafés do Chiado e Bairro Alto, de Lisboa.
O empresário esteve em Cuba e quer trazer de lá o know-how de reformar centro antigo com poucos recursos. “O historiador designado pelo próprio Fidel Castro, responsável pela requalificação de Havana Vieja (Patrimônio da Humanidade) vai trabalhar nisso”, avisa Armando, que este mês trouxe de lá o fotógrafo Mário Diaz, para expor na Galeria do Olhar, na Avenida Contorno.
“Acho que a grande coisa é não expulsar os moradores. Se a gente sair das nossas bolhas de ar-condicionado, vamos encontrar um povo maravilhoso nas ruas. E mais, aqui você tem uma boa padaria, farmácia e botecos servindo comidas ótimas”, derrama-se o dono do Trapiche Adelaide.
INVESTIDORES – Os donos do Txai já compraram, ao todo, 25 imóveis e querem mais. A baiana Eurofort Patrimonial, de Armando Correa Ribeiro, adquiriu quatro e é a firma que faz a identificação e seleção de prédios a serem agregados ao projeto. Embora diga que, se depender dele não haverá comerciantes temporários instalados na área, Armando C. Ribeiro não ignora que haja outros núcleos de investidores interessados nas ladeiras e vista do Sodré.
A antiga Boate Clock, por exemplo, foi amealhada e deverá ser transformada em apartamentos pela construtora Garcez associada ao grupo espanhol Nova Dimensão. A antiga casa de Jesus Sangalo, comprada do arquiteto André Sá, foi revendida para estrangeiros. A casa da cantora Maria Bethânia continua dela e a do arquiteto Luiz Umberto, também.
Quem está comprando muitos imóveis no Sodré é o ex-jogador de futebol, atualmente técnico em Dubai, Toninho Cerezzo. Seu representante, Deusemar Guimarães, dono de uma imobiliária no Caminho de Areia, com filial na Av. Tancredo Neves, não diz quantos. Por seu intermédio, Toninho adquiriu a ruína da Visconde de Mauá, na mão de Armando Correa Ribeiro há quatro anos e a vendeu, junto com um terreno de 4 mil m². Ali será o Txai Residence.
“Tem investidores de maior porte como o Txai e o Hilton (Praça Cayru). A partir deles é que vamos começar a investir”, despista. “Precisamos saber a destinação que vai ser dada para a área”, defende-se. E orgulha-se de construir “o primeiro village ecológico”, na Boa Viagem. Considera-se pioneiro no Sodré: “Comprei na época em que ninguém acreditava. Com a agregação de investidores, pode-se até implantar um segundo Pelourinho. É uma área esquecida, como o Pelourinho era, e foi revitalizado. É uma extensão do Pelourinho com vista para o mar”.