Valorizemos nosso batismo
Pereira de Sousa
Parecerei um que surge como o saltimbanco que ri ou faz rir diante dos seus concidadãos. Adiante verão por que me aventuro a pedir que valorizemos nosso batismo. Todos sabem que o valor do batismo reside em que foi mandado por Jesus. Segundo S. Mateus, foram estas palavras de Jesus, ide por todo o mundo e fazei que todos se tornem discípulos, batizando em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt. 28, 19). E. S. Marcos, no finzinho do seu evangelho, diz: Ide por todo o mundo, proclamai o evangelho a toda a criatura.
Aquele que crer e for batizado será salvo: o que não crer, será condenado (Mc. 16, 15 e 16). S. Paulo desenvolve o significado do batismo na sua carta aos Romanos, nos seguintes termos: Ou não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Pois, pelo batismo, nós fomos sepultados com ele na morte para que como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova (Rom. 6, 4 e ss). Repete o mesmo diapasão em Colossenses, 2, 12: Fostes sepultados (consepulti) com ele no batismo no qual também com ele ressuscitastes, pela fé no poder de Deus.
Na vida apostólica vemos milagres ao batizarem-se os que aderiam à fé cristã. Na idade da igreja posterior lembremos o que Santo Agostinho diz do batismo, ser bispo entre vós é um perigo, mas ser cristão é uma honra. Este princípio é citado pelo Concílio do Vaticano II. E é neste concílio que mais se valoriza o batismo ao falar do sacerdócio comum dos fiéis. Não alongarei o comentário pois que teoricamente ninguém discute o valor do santo batismo, porta do céu e fulcro de todos os outros sacramentos.
Quero, sim, vincar o valor do batismo na vivência diária. E então lembrei-me da passagem da Bíblia em que Moisés, elevando as mãos ao céu, enquanto os judeus lutavam contra os amalecitas, os seus levavam de vencida os amalecitas. Cansado, baixava as mãos e os inimigos avançavam sobre os israelitas. O episódio vem descrito em Êxodo, 17, 8 a 11.
Josué foi mandado combater os Amalec. Moisés prometeu-lhe ficar na monta, isto é, no cimo da colina com a vara de Deus na mão. Dito e feito. Josué saiu a combater e Moisés, Aarão e Hur subiram ao cimo da colina. E enquanto Moisés ficava com as mãos levantadas, Israel prevalecia; quando, porém, abaixava as mãos, prevalecia Amalec. Parece história infantil o que Aarão e
Hur, mas o texto primitivo não permite dúvidas.
Aarão e Hur pegaram uma pedra e assentaram Moisés e eles de um lado e do outro seguravam as mãos de Moisés. Assim suas mãos ficaram firmes até o pôr-do-sol. Josué venceu, mas o livro sagrado escreve: Então Javé disse a Moisés: Escreve isto para memorial num livro (Ex. 17, 14).
Nas dificuldades tremendas em que vive nosso mundo, já o disse milhentas de vezes, a solução só pode vir do alto, da graça de Deus. Por isso é que todos os sábados compareço nesta coluna pedindo que o pequenino rebanho (pusillus grex, de que falam os profetas do velho testamento) reze o quanto puder pela salvação do mundo. Que venha a paz de Cristo por sobre todos nós. Não é preciso muito orar. Basta o terço ou até um pai-nosso ao Pai do céu nessa intenção.
Livro homenageia 90 anos do padre Sadoc
Um dos maiores oradores sacros da Bahia, o monsenhor Gaspar Sadoc da Natividade, está completando 90 anos nesta segunda-feira, 20, e o ponto alto das comemorações será o lançamento do livro Pe. Sadoc, pároco, orador e amigo, dia 24, às 18 horas no Palácio da Aclamação.
A idéia da publicação surgiu do grupo de amigos que se reúne na casa de padre Sadoc às terças-feiras. Foi pensada a publicação de um livro que marcasse essa data. Foi convidado o padre e professor Sebastião Heber para ser o organizador, que pensou em não fazer uma biografia tradicional, mas quem relata é o próprio homenageado. O padre Sadoc relatou fatos que foram importantes para ele, com temas e personagens que vinham à sua memória.
O livro é uma publicação da Uneb, e a idéia teve início na gestão da reitora professora Ivete Sacramento, através da Pró-Reitoria de Extensão, dirigida pelo professor Lourivaldo Valentim, atual reitor. No prefácio a professora Ivete sublinha que o padre Sadoc é o homem ecumênico da Bahia, pois é um símbolo vivo entre as pessoas: Pobres, ricos, brancos, negros, católicos, espíritas, protestantes, integrantes do candomblé, todos encontram guarida no seu coração de pai.
Como pároco, ele relata as atividades na primeira paróquia, que foi a dos santos Cosme e Damião. Depois, na segunda paróquia, a de S. Judas Tadeu, e, por fim, a da Vitória, onde está há quase 35 anos.
Também mostra que serviu a cinco cardeais, desde D. Augusto, que o ordenou, D. Eugênio, que se tornou seu mestre e grande amigo, passando por D. Avelar, que ele chama de o bom, vem D. Lucas, seguido de D. Geraldo Majella, que o nomeou como vigário-geral do clero.
Ele fala sobre alguns vultos baianos, como o senador ACM, Ernesto Simões Filho, Juracy Magalhães, Josaphat Marinho, José Silveira, Otávio Mangabeira e Pedro Calmon.
Na seção orador, são republicados os seus mais clássicos sermões, homilias e discursos. Na morte de D. Augusto, é ele quem sublinha a perda do grande pastor: Falta ao trono o seu pontífice, falta ao público o seu profeta. As grandes datas, de alegria ou de tristeza, são marcadas pela voz do orador sacro da Bahia: posse de D. Eugênio, Sesquicentenário da Independência, morte de Tancredo Neves.
Também sua voz não poderia se calar nos momentos de títulos e comendas que recebeu, como na ocasião da Medalha Thomé de Souza e no jubileu áureo de sacerdote. A última homilia clássica do livro é o elogio fúnebre no 7º dia de Luís Eduardo Magalhães.
Na seção Sadoc, o amigo, os depoimentos são variados, como múltiplos são os seus amigos: o primeiro, é o do cardeal da Bahia, D. Geraldo Majella, seguido do de D. Eugênio, que tem como título: Ao amigo Mons. Sadoc. A presidente do Instituto Geográfico e Histórico, a Casa da Bahia, Consuelo Pondé de Sena, associa-o de forma quase definitiva, à igreja da Vitória, D. Canô se lembra dele jogando bola na Praça da Purificação, ainda adolescente e de batina.
As irmãs da Boa Morte de Cachoeira, pela voz de Ilá Deleci, são gratas a ele pela interferência na querela com o arcebispado. Muitos paroquianos abrem seus corações para homenagear o seu pastor. É Dr. Jorge Calmon quem o qualifica como o modelo do orador sacro é quase o último do gênero. Há ainda uma pequena seção com três homenagens que são reproduções de artigos já publicados de Dr. Pedro Calmon, de Mabel Velloso e do monsenhor Luna.
Padre Sadoc conclui a narração, lembrando-se de suas bodas de ouro de ordenação sacerdotal: Voltaria a ser sacerdote mil vezes que fosse. Com uma só diferença: queria ser em tudo melhor do que fui.
De Santo Amaro à Vitória
O padre Sadoc nasceu em Santo Amaro da Purificação em 20 de março de 1916. Sua ordenação sacerdotal ocorreu em 30 de novembro de 1941 e, no ano seguinte, recebeu sua primeira paróquia, a de São Cosme e Damião, na Liberdade. Em 1951, como pároco de Cristo Rei e São Judas Tadeu, ergueu a matriz, em Quintas. Em 1968, o cardeal Eugênio Sales o transferiu para a Vitória.
Exerceu o alto cargo de vigário-geral da Arquidiocese de São Salvador da Bahia e tornou-se monsenhor protonotário apostólico. Também desenvolveu a carreira do magistério, ensinando no seminário Central da Bahia, na Faculdade de Filosofia da Universidade Católica do Salvador e na Escola Técnica Federal da Bahia.
Em artigo nos 80 anos do padre Sadoc, afirmou o diretor-geral de A TARDE, professor Edivaldo Boaventura: Como pároco, continua o ministério sacerdotal; como homem da palavra, integra-se cada vez mais no processo da comunicação verbal. Constrói com palavras, como se fossem estrelas, as constelações dos seus sermões. E tudo que se manifesta deste modo torna-se luz!
Programa das celebrações
Dia 20/3 Missa solene na Conceição da Praia, às 19h
Dia 21/03 Missa em Santo Amaro
Dia 22/03 Homenagem na Câmara dos Vereadores requerimento do vereador Silvoney Sales, 19h.
Dia 23/03 Missa e homenagem no Instituto Feminino, 17h
Dia 23/03 Homenagem na Assembléia Legislativa requerimento do deputado Artur Maia (pela manhã).
Dia 24/05 Lançamento do livro: Pe. Sadoc, pároco, orador e amigo no Palácio da Aclamação às 18h (Org.: Sebastião Heber Vieira Costa).