O esclarecimento do assassinato do menino Iuri Gleidson Pereira Silva, de 11 anos, ocorrido no dia 20 de maio do ano passado, chocou moradores da localidade do Bate Facho, na Boca do Rio, na manhã desta sexta-feira, 5. A polícia acredita que o menino tenha sido executado com um tiro no ouvido pelo chefe de segurança do supermercado Extra da Avenida Paralela, junto com dois encarregados. O motivo: uma represália aos freqüentes furtos que seriam praticados por meninos no estabelecimento comercial.
A operação de prisão do chefe da segurança Carlos Moreira, 36 anos, e do encarregado Dilton Nascimento, 29, começou, nesta quinta por volta das 15 horas. Com os mandados de prisões preventiva decretada pelo juiz Vilebaldo José de Freitas, titular da 2ª Vara do Júri, agentes do plantão da Delegacia de Homicídios (DH) foram ao Extra da Paralela, onde prenderam Moreira. Depois, eles seguiram ao galpão da empresa, situado no município de Simões Filho, onde detiveram Nascimento.
Nenhum dos dois ofereceu resistência e foram levados à DH, situado no largo dos Barris, onde prestaram depoimento à delegada Inalda Cavalcanti, titular da unidade. Ambos negam o assassinato e dizem sequer conhecer a vítima. “Eu sou cristão, não faria isso com uma criança“, afirmou o chefe da segurança.
Mas os testemunhos levantados pela polícia indicam o contrário. De acordo com informações de testemunhas, o menino estava na orla marítima, entrada do bairro do Imbuí, quando foi chamado pelo chefe da segurança e os dois encarregados a bordo de um automóvel preto. A criança estava acompanhada de outro menino, que fugiu quando os homens se aproximaram.
As pessoas que testemunharam o seqüestro identificaram os três homens como funcionários do supermercado Extra, apelidados de Chaquila (Moreira), Orelha de Mico (o foragido) e Dilton. “O próprio estabelecimento, pelas características dadas pelas testemunhas, deram a indicação de quem eram os funcionários e identificaram eles. O estabelecimento se preocupou em esclarecer o crime“, explicou a delegada Inalda Cavalcanti. Um dos encarregados da segurança, cujo nome está sendo mantido em sigilo pela polícia está sendo caçado por agentes.
O corpo da criança foi achado sem qualquer documento de identificação, no dia 20 de maio em uma terreno no quilômetro 13 da Ba-526, no Centro Industrial Aratu (CIA). Ao lado da criança foi achado um frasco de um perfume importado. “Plantaram o perfume lá para incriminar a criança“, indignou-se a mãe do menino, Solange Conceição Pereira, 46 anos.
O menino foi achado deitada de barriga para cima e exibia uma perfuração no ouvido esquerdo. No local do crime, não foram achados cápsulas de projéteis. O Departamento de Polícia Técnica (DPT) recolheu o frasco de perfume para perícia.
Mãe – A notícia de que os autores da morte de seu filho haviam sido presos foi um susto para a diarista Solange Conceição Pereira, 46 anos, ontem pela manhã. “Não acredito que vai ser feito Justiça“, repetia a mulher, emocionada com a informação ouvida no rádio por um vizinho que a avisou. Mãe de outros seis filhos, Iuri é o segundo filho da diarista assassinado. “Passo por tanta dificuldade para sustentar todos eles. Luto tanto. Não é justo vê-los morrer assim“, emocionou-se.
O primeiro filho de Solange, Cléber Pereira Silva, 19 anos, foi morto no dia 25 de setembro de 2004, na praia da Boca do Rio. O principal suspeito é um morador da Boca do Rio que agora responde pelo crime em liberdade. “Morro de medo de que meus filhos saiam na rua. Já perdi dois, não quero perder mais nenhum“, disse.
É com lágrimas nos olhos que ela lembra do dia do seqüestrado do filho no bairro do Imbuí. Na manhã da morte da criança, comentou com o garoto que havia sonhado com seu mais velho, já falecido na época. “Falei para Iuri que o irmão mais velho queria me dizer algo. Alguma coisa que estava para acontecer muito ruim“, lembrou.
O garoto confortou a mãe e deitou-se em seu colo. “Foi a última vez que meu filho e eu trocamos um carinho“, lamentou. Por volta das 19 horas, o menino saiu, em companhia do amigo, que voltou sozinho para casa. Somente na manhã do dia seguinte, foi surpreendida com a notícia dada pelo amigo do garoto de que sua criança havia sido levado por homens em um carro preto. “Logo depois um vizinho veio me avisar que meu filho passou na televisão morto“, dizia entre um soluço e outro.
Deu-se início o martírio daquela família. Acompanhada pelo Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca), Solange esteve na 8ª CP (Delegacia do Cia) algumas vezes, mas nada foi feito. O caso foi passado à Delegacia de Homicídios (DH) em outubro do ano passado, quando agentes começaram a colher depoimentos de moradores do Bate Facho e da localidade onde o menino foi morto.
Foi na casa simples, com apenas três cômodos, de paredes sem reboco, que ela criou as crianças. “Hoje são eles que me ajudam. O mais velho cortando cabelo aqui mesmo, o outro concertando som e assim vamos levando a vida“, contou a mulher envelhecida pelas perdas. “Um filho não devia morrer antes da mãe“, balbuciou e chorou.