JOSÉ CASTRO
Cerca de 15 mil pessoas, de acordo com estimativa da Polícia Militar, compareceram à Praça Castro Alves para mais um encontro de trios na Quarta-feira de Cinzas. Mas nem a comemoração de 30 anos do evento desde que Armandinho, Dodô & Osmar, Novos Baianos e outros decidiram prolongar a maior festa popular do mundo serviu para aumentar a animação ou garantiu a presença de um maior número de caminhões e músicos.
Nem o trio de Armandinho prestigiou o evento e optou por tocar no circuito Barra-Ondina. Apenas quatro trios compareceram e fizeram a festa para os que moram na parte pobre do Centro Histórico, turistas de outros países e do Brasil. Carnaval na Bahia é muito bom, meus amigos foram a Porto Seguro, mas prefiro ficar na capital, espero um dia morar aqui, comentou o inglês Joel Schaun, 33 anos.
E, por falar em Novos Baianos, foi Baby do Brasil (ex Baby Consuelo) quem inaugurou o evento, descendo da Rua Chile em direção à estatua do poeta às 3h20. O gospel virou samba-reggae e a palavra de Jah ecoou na folia. Deus não deixa entrar no céu quem for bunda-mole. Cachaça está repreendida, gritou a artista, com seu peculiar (e escrachado) bom humor.
Se no ano passado foram oito trios, o número caiu pela metade. Além de Baby, a bordo do Tapajós, apareceram Luzia Santhana e Lui Muritiba, dividindo a mesma nave. Domnix, com a cantora Carla, e o trio de Mirela Bastos alimentaram a turba com os clichês da atualidade, além de sons de outros carnavais, como Maimbê Dandá, Dandalunda e Toté de Maiangá. Lui Muritiba sacou velhas marchinhas, como Corre-corre, lambretinha e outras.
Mesmo com pouca gente e paz, houve quem protestasse contra a escassez de ações de política cultural para os encontros na área. Não tem um quinto do que já teve de gente aqui. É esse o encontro? Qualé..., esbravejou a baiana de acarajé Cidália Cruz Côrtes, que sambava com uma meia azul.
A poesia do reggae dominou a celebração a partir do momento em que Nengo Vieira, conceituado expoente do reggae baiano, empunhou sua guitarra Les Paul e roubou a cena de todos, sempre louvando a palavra de Jah pois o artista também é convertido. A praça foi tomada por uma pequena multidão, que, ao contrário do que pensa, teve paz para brincar.
Chamava a atenção a forma educada com que os trios paravam de tocar quando os afoxés passavam no caminho de volta para o Pelourinho. Foi assim, com os Filhos do Congo, Filhas de Olorum, Filhos de Gandhy e Muzenza, dentre outros. Uma chuva, por volta das 6h20, adiantou a debandada dos trios.
O Tapajós fechou a fila e emitiu os últimos decibéis no meio da Carlos Gomes, seguido por Mirella e Luzia Santana. Ao fim, o som que não tinha dado as caras apareceu. O povo delirou e se aplicou no xenhenhém quando um cantor largou piririmpompom, . E foi sob o som do arrocha que dois arco-íris apareceram na Baía de Todos os Santos e os últimos moicanos se despediram. Ou prolongaram a festa lá adiante.