Sylvia Verônica
Dodô e Osmar inventaram o trio;
Orlando Campos de Souza, 72 anos, o Orlando Tapajós, não deixou a folia morrer. Em 1956, quando o Tapajós desfilou pela primeira vez no Carnaval de Periperi, no subúrbio de Salvador, Orlando não imaginava que toda sua trajetória estaria ligada ao Carnaval. Seis anos depois, criou a primeira carroceria metálica e independente da estrutura do caminhão. Era o início da evolução que transformaria os trios no que são hoje.
Este ano, o Tapajós comemora 50 anos em grande estilo. Em abril, artistas como Bell Marques, Durval Lélys, Ivete Sangalo e Carlinhos Brown prometem fazer show comemorativo. E o Tapajós desfila na quinta de Carnaval, na Barra, como trio independente, relançando a banda Ouriço de Paulinho Levi, que já esteve a frente do Tapajós anos atrás.
Na sexta, leva o bloco Me Deixe à Vontade, no Centro. Sábado e domingo, apresenta Carla Perez e seu bloco infantil, o Algodão Doce. Segunda e terça, segue independente para o circuito Barra-Ondina com a banda Los Bacanas. Mas o clímax do jubileu do Tapajós será na madrugada da Quarta de Cinzas, no encontro de trios da Praça Castro Alves. Como nos velhos tempos....
HISTÓRIA Em 1945, três anos depois da invenção da guitarra elétrica baiana, o fim da Segunda Guerra Mundial foi comemorada com um bate-panelas em Periperi, pretexto para o jovem Orlando, com 12 anos, tomar mais gosto pela folia. Freqüentava a oficina de Dodô quando, irritado porque o trio que contratou para uma festa não compareceu, resolveu construir seu próprio trio. Nascia o Tapajós, em 1956.
Dodô fez todos os instrumentos da banda. Dodô e Osmar deixaram o Carnaval da Bahia entre 1966 a 1973, então fiquei com a responsabilidade de não deixar a festa morrer. Coloquei trio em micareta, em festa de largo. O Tapajós puxava o cortejo da Lavagem do Bonfim. Subíamos a colina até quando não foi mais permitido. Até hoje não deixo de sair no trio. Não sossego, quero estar no meio da festa, contou Orlando, em entrevista exclusiva a Sotaque Baiano.
Em 1972, depois de construir vários trios, Orlando inventou o mais famoso deles, a Caetanave. Tirei o modelo de uma revista de aeronaves que li durante uma viagem de avião. Fui ao banheiro, rasguei a página e escondi no sapato, brinca o senhor.
Todos os trios que criava, Orlando batizava. Sabia que chamaria aquela criação de nave. A idéia do nome completo foi inspirada por Caetano Veloso, que acabara de voltar do exílio em Londres. A Caetanave foi para as ruas naquele ano e a homenagem emocionou Caetano, que desfilou no trio com uma tripulação de peso: Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia.
Em 1984, o cantor Cid Guerreiro casou-se em cima do Tapajós. Bell Marques, Carlinhos Brown, Luiz Caldas, Gerônimo e Sarajane são alguns dos artistas que passaram pelo trio, presente no Maracanãzinho, em 1972, na inauguração da televisão a cores, no Festival Internacional da Canção. Haja história.
O Carnaval já não é do povão. Os camarotes e os blocos com cordas estão tomando conta da festa. Antigamente, a grande atração eram os trios. E cada um deles tinha sua banda. O povão brincava muito mais. Agora, está tudo elitizado, as pessoas ficam espremidas, lamenta Orlando, memória e lenda viva dos carnavais baianos.
Pé-de-ouvido/FALCÃO, DO RAPPA
Tô amarradão em voltar pro Carnaval de Salvador
Carol Nascimento
A TARDE ON LINE
Falcão é uma figura profissionalmente hiperativa. Está sempre em busca de novos projetos e experiências. Salvador foi assim pra ele. O líder da banda O Rappa se encantou pelo Carnaval baiano quando passou por aqui em 2002 a convite do empresário Cristiano Rangel. Estou fascinado com a energia de Salvador.
Quando você se despe de preconceitos musicais que fariam com que jamais se pudesse gostar do Carnaval, é possível assimilar toda essa festa e sentir o gosto especial do cotidiano popular, de rua mesmo, disse, à época.
Para o Carnaval 2006, o cantor preparou um repertório de 120 músicas, que traz para o Bloco Skol D+ no domingo e segunda de Carnaval. Estarão com ele a banda Os Loucomotivos e três convidados: o produtor Liminha; o rapper BNegão ex-integrante do Planet Hemp em sua segunda participação; e Lauro Farias, baixista do Rappa. Mas, se Maria Rita quiser vir, será bem vinda, deixa no ar Falcão.
Falcão chega na sexta-feira, 24, e fica até quinta, 2 de março. Em terras soteropolitanas, já tem agenda definida: Praia, praia, praia. Depois do Carnaval, O Rappa volta a cidade para o lançamento do Acústico MTV.
Em entrevista coletiva concedida esta tarde no restaurante Pereira (Barra), Falcão falou como se encantou pela cidade, dos preparativos para o Carnaval, da ausência dO Rappa no Festival de Verão deste ano e das vaias que recebeu no ano passado.
A TARDE - Como você descobriu Salvador?
Falcão - Fui convidado para ficar no camarote de Ricardo Chaves e fiquei impressionado com a democracia. Cheguei sem entender o que estava acontecendo, mas quando passou um trio alternativo comecei a acordar. Vi um trio que era um caminhãozão passando e imaginei que eu poderia passar assim aqui na Bahia, como no clipe do U2.
Por que não fez os ensaios do bloco Skol D+ aqui em Salvador, apenas no Rio?
Por causa da agenda dO Rappa. E nenhum projeto que eu faça pode atrapalhar O Rappa, porque ninguém nunca nos ajudou. O engraçado é que os caras, Xandão, Lobato e Lauro, são os que mais me incentivam a fazer shows sozinho.
Nos ensaios do Rio participaram Maria Rita, Samuel Rosa (Skank), Bi Ribeiro e João Barone (Paralamas), e Bino e Lazão (Cidade Negra). Esse pessoal vem para Salvador?
Se Maria Rita quiser aparecer, Samuel, Bi Ribeiro, Lazão, serão todos muito bem vindos. Dinho [do Capital Inicial] me disse que nunca passou o Carnaval em Salvador. Todos podem aparecer, mas tem uma galera que já faz parte dos Loucomotivos. É uma galera que não é da turma dos mais conhecidos, mas é uma galera que faz.
E por que o Carnaval de Salvador e não o do Rio?
Podia ir pro Rio, mas eu quis vir para cá. Fui convidado pra puxar uma escola de samba, e eu tenho a Mangueira de Jamelão no coração. Mas eu já tenho uma história com o samba, eu e minha família. Então eu vim aqui para somar. E tem lugares que eu me identifico, como Holanda e Noronha, e eu me identifiquei com Salvador. Aqui eu realizei um sonho grandioso de fazer outras coisas além dO Rappa. Não tenho as pernas de Ivete, mas quis trazer a minha música (risos).
E o Rio tem uma hierarquia diferente. Não é qualquer um que pode ir lá e puxar uma escola de samba. Tem a hierarquia do morrão, os patrões que dão as cartas. Se alguém da Bahia quiser ir tocar lá, não dá, porque tem um monte de gente da comunidade na fila.
Como será sábado no Ensaio Geral do Chiclete, onde são esperadas 13 mil pessoas?
13 mil cabeças? Que lindo! (risos) Vamos ter dois repertórios, porque já lançamos o novo disco dO Rappa (Acústico MTV, nas lojas desde outubro) e fizemos shows em algumas cidades.
Por que o Rappa não veio para o Festival de Verão este ano?
Porque estávamos com uma turnê antiga e não dava pra vir com o mesmo show que viemos no ano passado. Pô, eu tava louco pra ver os baianos, mas como cantor não dava. Depois do Carnaval, vamos voltar a Salvador só para lançar o Acústico MTV.
Como foi vir para o Carnaval e trazer uma proposta musical diferente para um ambiente dominado pelo axé?
Eu já estou acostumado, porque quando [Marcelo] Yuka saiu da banda a gente ouviu muito será que o Rappa vai conseguir?. Já passei por isso, via isso nos olhos das pessoas. E a Skol sabia desse risco. Mas a galera acreditou, deu certo e esse ano eu tô amarradão.
E além do bloco, qual vai ser a sua programação de Carnaval?
Praia, praia, praia e tocar. Adoro praia. E é verdade que Ninha vai parar de tocar?
Ele está saindo da Timbalada para um projeto novo.
Isso é que é maneiro, fazer outras coisas, ter afinidade com outras pessoas. Senão a gente fica sem assunto.
No ano passado, você fez show no Camarote Oceania...
Esse ano aconteceu uma coisa chata. O Camarote Oceania divulgou que eu faria um show lá e eu não fui contatado. Estava no avião e vi numa revista uma propaganda com uma foto da minha mulher (Débora Secco), uma foto minha, e nem eu nem ela fomos convidados. Fiquei muito chateado. Eles perderam uma grande oportunidade.
Como é a energia de tocar num palco e num trio, qual a diferença?
Um tá parado e o outro tá andando. A preocupação é se está dando tudo certo, se o som tá bacana.
Por aí...
Becados
A bloco Eva promete inovar na Avenida este ano, com as becas (nome que dão aos abadás) de marca, que terão design e patrocínio da Lee (segunda-feira) e Chilli Beans (domingo e terça). Será um verdadeiro desfile.
Mundo desigual
Enquanto a banda Chiclete com Banana nem precisa fazer propaganda para vender os ingressos do seu Ensaio Geral, que acontece neste sábado, no Bahia Marina, o ex-integrante da banda, o Cacique Jonne que saiu da banda num lance obscuro de poder e dinheiro, até hoje não esclarecido está tendo que leiloar (a qualquer dinheiro), às vésperas de Carnaval, o disco de ouro que ganhou enquanto era guitarrista do Chiclete. Isso para sobreviver e pagar o tratamento de ataxia cerebelar degenerativa, que comprometeu a coordenação muscular e motora do músico. Nota triste na folia.
Convidados
O camarote Oceania que fica no mesmo prédio do camarote Expresso 2222, de Gilberto Gil , divulgou sua lista de convidados: a cantora Vanessa da Mata, o cantor Seu Jorge, a baterista e também cantora Lanlan, e o vocalista do Skank, Samuel Rosa, além de Nando Reis, que será atração fixa no palco do espaço.
Ensaio de samba
O bloco Reduto do Samba que sai com Dudu Nobre para a avenida, no Carnaval, com o tema De Olho na Copa faz seu ensaio geral hoje, às 20 horas, no Largo do Amparo do Tororó, com direito a convidados.
Feijão
Atenção para as próximas feijoadas: amanhã, é a vez da Feijoada Intertropical, no Hotel da Bahia, a partir do meio-dia, com a banda Os 10 Compromissados; domingo, tem o badalado Feijão Vip da Dadá, no Pestana Bahia Hotel, que já tem, entre as presenças confirmadas, nomes como Isabel Fillardis e família; Preta Gil; Leda Nagle; e Luís Salém.
A estampa da camisa-ingresso é, pelo sexto ano consecutivo, do artista plástico Calazans Neto. E, mais para frente, na sexta-feira de Carnaval, acontece a XIV Feijoada do Hotel Sol Victória Marina, a partir das 11h30, à beira da piscina do Hotel, no bairro da Vitória, com vista para a Baía de Todos os Santos. Faz a trilha sonora da festa uma banda de beat-soca.
Bângala
E as lavagens continuam. Dessa vez, será a 1ª Lavagem da Rua do Bângala, na Mouraria, promovida pelo bloco Clube de Terceira Idade Renascer. O evento será no sábado, às 10 horas, com cortejo que sai da sede do bloco, na rua a ser lavada, número 171.
Expresso social
Depois da bomba da vinda do U2, o Camarote Expresso 2222 segue inovando e, pela primeira vez, traz um projeto social para dentro do espaço vip. Será o Projeto Axé, presidido pelo italiano Cesare la Rocca, que, durante todo o Carnaval, estará no camarote para expor seus produtos, na mesma linha do tema do espaço este ano, Futebol. Além disso, lá será feito um cadastramento das pessoas interessadas nos produtos e em ajudar o projeto.
A coluna Sotaque Baiano sai diariamente neste espaço, até o Carnaval. Correspondência para R. Professor MiltonCayres de Brito, 204 - Caminho das Árvores, Cep 41822-900 ou pelo fax 3340-8712