Após dez dias de internamento, o menino Mateus Souza do Carmo Araújo, de 1 ano e 3 meses, recebeu alta nesta sexta-feira, 30. Ele foi internado no último dia 19 no Centro de Referência em Endocrinologia do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), em Salvador, pesando 24 kg, o dobro da média normal de crianças da mesma idade, e retornou um quilo mais magro para Porto Seguro, onde mora com a mãe.
As análises não apontaram problemas associados à obesidade infantil, como pressão alta, diabetes, presença de gordura no sangue e no fígado, segundo informações do coordenador do serviço de endocrinologia pediátrica da unidade, Crésio Alves. Em entrevista coletiva nesta sexta-feira, o médico revelou que há fortes indícios de que Mateus sofra de uma doença genética conhecida como Síndrome de Bardet-Biedl.
É uma doença rara que atinge um em cada 100 mil obesos. O mecanismo da síndrome que acarreta o aumento do peso ainda é incerto, mas a hipótese é que o portador da doença tenha um gasto energético menor do que uma pessoa comum, explica Alves. O diagnóstico seguiu critérios clínicos e levou em consideração alguns sintomas que o menino apresenta, como a existência de um dedo a mais na mão esquerda, o ganho de peso excessivo e diminuição da genitália, conhecida como hipogonodismo.
Os casos de obesidade infantil, como os de Mateus, causados por síndromes genéticas e alterações hormonais, são pouco freqüentes. Segundo Alves, no centro de referência do Hupes, em cada 10 crianças obesas atendidas, nove casos são causados por problemas como o sedentarismo e maus hábitos alimentares.
O tratamento de Mateus requer orientação alimentar e atividade física, como natação. O garoto deverá retornar ao hospital a cada três meses para realizar exames periódicos. Vamos avaliar se ele vai desenvolver doenças associadas à obesidade. Também vamos observar se desenvolveu complicações oftalmológicas ou renais, que podem ser causadas pela síndrome, destacou o diretor do Hupes, Hugo Ribeiro Júnior.
Durante o período de internamento, Mateus emagreceu um quilo, o que é visto como avanço pela equipe médica. A nossa preocupação não é estética. A preocupação é que ele não sofra as complicações associadas à obesidade e continue se desenvolvendo normalmente, frisa Ribeiro Júnior.
O médico destacou ainda a importância de uma alimentação balanceada para o crescimento de Mateus. Uma dieta restritiva pode prejudicar o desenvolvimento da criança e ocasionar doenças como anemia ou perda de zinco, disse o diretor do Hupes. Segundo Ribeiro, o desafio, no caso de Mateus, é diminuir a quantidade de peso que ganha por mês. Enquanto uma criança normal engorda 30 gramas por dia, Mateus chega a ganhar 60 gramas. A disfunção levou o menino de 1 ano e 3 meses a pesar 24 kg, peso que deveria atingir somente aos 4 anos.