Um erro que teria sido cometido no Departamento Estadual de Trânsito (Detran) – como alegou o diretor-geral, o ex-oficial PM Carlos Roberto Brandão –, resultou em transtorno envolvendo equipe do grupo Visão Noturna (Polícia Civil), e o corregedor-chefe da Polícia Militar, ex-sub-comandante-geral, coronel Wilson Raimundo Dultra Pereira, na noite desta segunda, na Avenida Bonocô. O oficial e o motorista foram parados com um Ecosport do Estado, que tem a placa JLA-0662, de um Gol da Diocese de Ruy Barbosa (município a 308 quilômetros de Salvador).
O coronel afirmou não ter conhecimento de que a placa era “clone”, mostrou autorização de uso emitida pelo Detran e seguiu viagem. No entanto, a consulta aos dados do carro, por rádio, junto à Delegacia de Veículos, e à Central de Telecomunicações da SSP (Centel) – seguido de mensagem do delegado, também via rádio, para que evitassem abordar o Ecosport, “para não constranger o coronel”, tornou o caso público.
Aliado a isso, alavancou protestos de integrantes das polícias, entre agentes (investigadores, detetives, etc.) e praças (soldados e sargentos). Doze pessoas deram declarações no mesmo sentido: “Se fosse um policial qualquer, seria levado à delegacia, ou à corregedoria, para se explicar”, disse um sargento, nesta terça, no centro da cidade. “O delegado tem de se explicar. Ele sempre foi rigoroso com os colegas, principalmente os de cargos inferiores. Não deixa passar nada”, protestou um comissário. Como em outras situações que envolvem superiores hierárquicos, nenhum quis ser identificado, alegando medo de retaliação.
Já o delegado Nilton Tormes, que liderou a abordagem, afirmou ter cumprido normas. “Agimos dentro da legalidade. Após suspeitarmos do carro, consultamos a placa junto à (delegacia de) Veículos, constatamos que ela não era do Ecosport, então fizemos a abordagem”, declarou.
Antes da interceptação, continua Tormes, houve ainda consulta à Centel. “Poderia ser um policial, então verificamos se havia comunicado prévio do usuário do veículo, mas não havia registro”. Tormes relatou que o carro tinha um motorista da PM e o coronel, que identificou-se e mostrou a credencial para uso de placa sigilosa: numerações criadas pelo Detran, que não podem ser de outro veículo cadastrado no órgão, para uso em carros de quem atua “em serviço reservado de natureza policial”.
Segundo Tormes, após o esclarecimento, ele voltou a falar com a Centel: “Pedi que avisasse às equipes, para que não houvesse outra abordagem ao carro. Além de constranger o oficial, poderia haver um mal-entendido, ou mesmo algo de natureza violenta”.
Bispo – Nesta terça, A TARDE localizou um VW Gol (veículo da placa oficial) na garagem do bispo de Ruy Barbosa, dom André de Witte. Surpreso, o bispo disse nem imaginar que isso acontecia. “Claro que devem ser apuradas as responsabilidades”, respondeu. Dom André contou que a igreja comprou o carro há cerca de dois anos, e que, por ser instituição isenta, não precisa providenciar licenciamento a cada ano. “O documento chega pelos Correios”. O bispo disse que nunca recebeu multa.
O diretor-geral do Detran, Carlos Brandão, disse que a placa sigilosa do Ford Ecosport já existia antes do VW Gol ter sido comprado pela igreja. “Em abril, houve o recadastramento anual que cada órgão que usa placa sigilosa deve pedir. Houve alguma falha para não ter sido detectado que essa placa foi atribuída ao Gol. Fizemos uma varredura no sistema e não detectamos outra com o problema”.
O coronel disse estar dentro da legalidade e que, por isso, continua com a placa no carro: “Cabe ao Detran, que errou, substituí-la, não a mim. Hoje mantive contato com o coronel Elísio Carolino, diretor de Veículos, falei do problema, mas ainda não tive retorno”, concluiu.