Brotas: quatro primeiros meses de 2013 apresentam número de crimes equivalente a sete meses de 2012
O crescente registro de homicídios na 6ª Área Integrada de Segurança Pública (AISP), que compreende nove localidades que integram o bairro de Brotas, em Salvador, assusta moradores e aciona o sinal vermelho na Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA). O órgão comandado pelo secretário Maurício Barbosa registrou na região, no último mês de abril, dez homicídios. O número é 400% superior ao mesmo período do ano passado, quando a zona apresentou duas mortes.
Das 16 AISPs que articulam os procedimentos de segurança na capital baiana, a 6ª está entre as quatro únicas que apresentaram acréscimo no número de assassinatos no mês de abril, em relação ao mesmo período de 2012: Barris (+20%), São Caetano (+27,3%), Rio Vermelho (+100%). Respectivamente, as zonas de Periperi e Pau da Lima, que acumulam altos índices de homicídios, apresentaram decréscimos de 48% e 57% nos registros que envolvem esta modalidade criminosa.
Levando em conta os números acumulados de janeiro a abril de 2013, a região de Brotas confirma a liderança entres os bairros que tiveram uma ampliação no número de homicídios. Nos quatros primeiros meses do ano, a 6ª AISP foi lugar de 35 assassinatos, número 84,2% superior ao mesmo período do ano passado, quando a região registrou 19 mortes. Das 16 AISPs, apenas duas também apresentaram acréscimo no índice de homicídios: Nordeste de Amaralina (+44,4%) e Periperi (+2,3%).
As estatísticas disponibilizadas pela SSP revelam que, nos quatro primeiros meses de 2013, a 6ª AISP já apresenta um número de assassinatos equivalente ao contabilizado nos sete primeiros meses de 2012, quando 36 pessoas foram mortas na região. <GALERIA ID=18292/>
Convívio com a violência - A equipe do Portal A TARDE visitou as nove localidades que integram a 6ª AIPS: Boa Vista, Engenho Velho, Acupe, Brotas, Candeal, Matatu, Vila Laura, Luís Anselmo e Santo Agostinho, e percebeu nas ruas a sensação de insegurança que toma conta dos moradores.
Na Rua Alto do Saldanha, que fica em uma região de Brotas conhecida como Parque Bela Vista, alguns residentes até aceitam falar. Entretanto, como diz uma das pessoas que prefere não ser identificada, "a arte dos honestos, para conviver com o crime, é não se rebelar contra ele". O discurso é comum entre os vizinhos.
Morador da região há 51 anos, um aposentado de 80 admite que aprendeu a se relacionar com os traficantes e usuários de drogas. "Vejo o tráfico ao lado da minha casa, mas até hoje nunca denunciei. Por mal ou por bem, eles respeitam quem mora na rua".
O aposentado interrompe a fala e, com os olhos, pede que a equipe de reportagem veja um homem magro, de olhar e passos desnorteados, que passava pela frente da sua casa. Após cumprimentar o jovem, que aparentava ter uns 25 anos, ele conta que o homem pertencia a uma família de classe média alta e abandonou tudo por causa do vício.
"Essas histórias aqui são comuns. Infelizmente, sabemos que a maioria dos homicídios registrados por aqui envolve estes jovens. Até dou conselhos, mas o crime e as drogas têm a sua lógica perversa".
Toque de recolher - Há 16 anos trabalhando como vendedora de salgados no fim de linha de Campinas de Brotas, Marilene Cerqueira conta que é notório o crescimento da violência na região. Das histórias narradas pela ambulante - como arrombamentos de pontos comerciais e assaltos de pedestres -, a morte de um jovem de 17 anos chama a atenção.
"Há menos de dois meses, um adolescente foi assassinado a tiros aqui atrás, na Rua Botafogo. O crime ocorreu porque ele, desconhecendo um toque de recolher feito por traficantes, acabou saindo de casa", relata Marilena, ressaltando que do ponto de onde trabalha, já presenciou outros homicídios.
Além dos relatos relacionados ao tráfico - modalidade criminosa comum em regiões de Brotas conhecidas como Bariri, Brongo, Baixa do Tubo, Pitangueiras e Engenho Velho -, a equipe de reportagem de A TARDE foi parada na rua por moradores que denunciam frequentes invasões criminosas em uma creche do bairro, que atende a crianças de 0 a 6 anos.
Segundo a mãe de uma das crianças que estuda na creche Ieda Barradas Carneiro, no Parque Bela Vista, o centro municipal de educação infantil já foi invadido em seis oportunidades, em pleno horário de funcionamento. "Já protocolamos ocorrências, solicitamos melhor iluminação para a região, mas até agora nada. Nossos filhos estão expostos à violência", conta a mãe Ananda Kelly de Jesus, de 23 anos.
Procedimentos policiais - O avanço da criminalidade na 6ª AISP, segundo a Polícia Militar da Bahia, é reflexo de uma "migração da criminalidade que busca se estruturar em pontos da cidade". Sobre o assunto, a PM admite que cabe "aos órgãos de defesa social, a adoção de medidas imediatas para o restabelecimento da normalidade".
Dentre os locais que concentram o tráfico de drogas, a PM destaca as localidades do Buraco da Gia (Vasco da Gama), do Brongo (Alta da Terezinha) e da Baixa do Tubo (Vale do Matatu), como as mais preocupantes. O órgão diz que a configuração urbana, aliada a outros aspectos sociais da região, desponta como um desafio para a polícia.
Quanto às ações executadas na região - que está sob a responsabilidade da 6ª Delegacia Territoral (6ª DT/Brotas) e das 26ª e 58ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Brotas e Cosme de Farias), a PM também diz que tem realizado ações sistemáticas para coibir a criminalidade.
De janeiro a maio deste ano, segundo o órgão, foram realizadas na área de segurança de Brotas 33.959 abordagens a pessoas, 9.630 a veículos e 178 a estabelecimentos comerciais.
Destas abordagens, 189 pessoas foram conduzidas à polícia, 64 foram presas em flagrante, 11 adolescentes foram apreendidos, dez armas de fogo e nove armas brancas foram tomadas e 28 veículos recuperados.
Região de atuação da 6ª Área Integrada de Segurança Pública (AISP):
