Estudantes pedem melhorias para o curso de medicina da FTC
Policiais militares do Batalhão de Choque reprimiram um protesto de estudantes de medicina da Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC) na manhã desta terça-feira, 4. Um grupo de universitários, vestidos de jaleco branco, impedia a passagem de veículos na Avenida Paralela, sentido aeroporto, nas imediações da instituição de ensino.
Para conter a manifestação, os policiais lançaram bombas de efeito moral nos manifestantes. O estudante Bruno Reis da Silva, do 6º semestre de medicina, disse que o Batalhão de Choque "já chegou atirando as bombas. Alguns alunos ficaram machucados, inclusive com fraturas". De acordo com ele, grávidas participavam do protesto.
Uma estudante, que preferiu não se identificar, relata a situação vivida pelos alunos. "Muitas pessoas desmaiaram, foram pisoteadas. Uma menina quebrou o braço e feriu a barriga com uma bala de borracha. Alguns estão em estado de choque, outros com falta de ar ou olhos ardendo", conta.
O supervisor comercial, Fábio Rodrigues, que passava pelo local, presenciou a ação. "A polícia já chegou com cerca de 20 homens com cassetete na mão e jogaram três ou quatros bombas de pimenta em cima dos alunos. Eles saíram correndo e liberaram o trânsito", conta.
Ainda de acordo com Rodrigues, o tráfego estava parado no momento da ação policial, mas após a liberação da via alguns motoristas foram atingidos pelas bombas. "Recebi pimenta no rosto e estou com os olhos e nariz incomodando".
Posição da FTC
A instituição, por meio da assessoria de imprensa, confirmou a intervenção da PM na manifestação dos estudantes. De acordo com a FTC, os policiais e o vice-presidente da faculdade, Reinaldo Borba, tentaram negociar com os alunos, mas eles só queriam falar com o presidente, William Oliveira, que não estava disponível no momento.
Sem acordo, os policiais usaram gás de pimenta e bala de borracha para liberar a via, de acordo com a assessoria da FTC, que confirma que alguns estudantes ficaram feridos. Conforme a instituição, eles tiveram lesões superficiais e foram atendidos por equipes do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu).
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Os estudantes contestam a versão da FTC de que a PM teria tentado negociar com os manifestantes. "A gente já sabia que se a Choque chegasse ia sentar em respeito a eles, mas eles nem tentaram conversar, já chegaram atirando bomba e balas de borracha. Sem dó, nem piedade", disse um dos alunos.
Os estudantes pretendem entrar com uma ação coletiva no Ministério Público do Estado contra o governo estadual.
Polícia Militar
A PM divulgou nota informando que o Batalhão de Choque foi acionado após "esgotar todos os recursos de negociação" com o comando da 82ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM). De acordo com a PM, "a tropa especializada utilizou bomba de gás e balas de borracha como técnica policial necessária no intuito de evitar o uso de força física".
Motivação
Conforme o estudante David Santos, 4º semestre do curso de medicina, a manifestação é por causa da falta de pagamento dos professores e de convênio com clínicas particulares.
Segundo o aluno, a faculdade tem que pegar uma cota aos hospitais para que os alunos possam estudar a parte prática na unidade, entretanto, a FTC não paga essa cota há meses. Segundo o estudante Bruno Reis da Silva, do 6º semestre de medicina, os alunos chegaram a ser expulsos dos hospitais. "Que tipo de médicos que eles querem formar?", questiona.
"Os professores já não recebem há cerca de 2 meses. Alguns já pediram demissão", disse Bruno, que paga a mensalidade de R$ 4.125,00 pelo curso.
A assessoria da FTC confirma o atraso no pagamento do salário dos professores do mês de abril, que, de acordo com a instituição, será pago nesta terça.
A faculdade não se pronunciou sobre a reclamação de falta de convênio com hospitais e clínicas.
Ação policial
Nesta segunda, 3, a Secretaria Municipal de Urbanismo e Transporte divulgou nota informando que iria pedir ao secretário estadual de Segurança Pública, Maurício Barbosa, apoio da polícia "para disciplinar as manifestações que estão ocorrendo diariamente na cidade".
O secretário municipal de Urbanismo e Transporte, José Carlos Aleluia, disse que não pretende impedir os protesto, mas que é necessário ordenamento. "Ninguém quer impedir as pessoas de se manifestarem sobre o que quer que seja. Mas desde que essas manifestações não interrompam a vida da cidade, não paralisem o dia a dia das pessoas. O direito de um termina quando começa o do outro, como diz o ditado", disse Aleluia, em nota enviada à imprensa.