Leonício Santos faz questão de entrar na igreja de joelhos
No Santuário de São Lázaro e São Roque, localizado no bairro da Federação, hoje tem festa. Centenas de pessoas deverão assistir a missas e seguir procissão. Outras farão questão de deixar na sala dos ex-votos uma lembrança da cura que acreditam ter alcançado pela intercessão do santo. O entorno da igreja também costuma receber manifestações que têm origem nas religiões afro-brasileiras, mostrando os contornos da riqueza simbólica e diversidade religiosa que cercam essa celebração.
Um exemplo é a Caminhada Azoany, que reúne, principalmente, devotos do candomblé. Em Ondina, logo atrás do Othon Palace, uma gruta conhecida como Casa de Omolu e Obaluaê recebe visitas dos devotos.
"É preciso conservar a sensibilidade de observar a importância desse culto centrado no cuidado com os que sofrem. É uma herança da civilização africana e negra que se juntou à tradição católica e se encontra naquela igreja", destaca o doutor em antropologia e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Ordep Serra.
Para o professor, o cruzeiro que fica em frente à igreja, rodeado da pipoca utilizadas no chamado "banho" que acontece na área externa do templo (visto como forma de purificação), sintetiza o respeito que deve sempre existir entre religiões diferentes que se encontram no mesmo espaço. "A igreja é um monumento de beleza extraordinária a essa devoção popular", diz.
Antiguidade
A igreja de São Lázaro é uma construção do século XVIII, mas pode ser mais antiga. Segundo o livro Santuário de São Lázaro, do padre Marcos Piatek, em um documento de 12 de outubro de 1737 está a expressão "que de novo se pretende fazer". Isso indica que ela poderia existir em versão anterior.
Ao lado da igreja ficava um lazareto, destinado a doentes abandonados, principalmente escravos. Hoje, o prédio abriga a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb).
O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac) registrou o tombamento do conjunto formado pelo casarão, igreja e área do entorno em novembro de 2004.
Esse histórico de amparo a doentes e pessoas que sofrem continua a marcar fortemente a igreja. "São Roque é o protetor contra as doenças contagiosas. A história dele é de união com Cristo e de serviço ao outro. As pessoas vêm aqui buscar alívio e cura e demonstram uma fé impressionante", aponta o padre Cristóvão Przychocki, reitor do santuário.
Como outros sacerdotes que têm contato com a devoção na igreja, padre Cristóvão demonstra compreensão sobre a associação com as religiões afro-brasileiras. Para ele, o que deve imperar é o respeito. "O nosso trabalho é feito na perspectiva católica, mas acolhemos a todos", argumenta.
À esquerda da entrada da igreja fica a sala dos ex-votos, espaço onde os devotos deixam lembranças das graças que acreditam ter recebido. São formas de pés, cabeças e fotografias. Até trabalhos acadêmicos fazem parte do acervo.
"Fazemos uma seleção, pois não dá para deixar tudo exposto. O que não está aqui fica guardado", conta padre Cristóvão. No local também há um livro onde os devotos podem relatar o milagre que receberam por meio de São Roque ou São Lázaro.

Na sala dos ex-votos ficam as marcas da cura (Foto: Marco Aurélio Martins | Ag. A TARDE)