Gilson Nascimento espera a prefeitura concluir obra
Dona Evaneide de Jesus, 49, já perdeu tudo que tinha em casa. Quando o barranco deslizou, a força da água com o barro chegou a arrancar o portão da residência. O alerta de um vizinho fez com que ela, o marido e os filhos conseguissem sair a tempo.
Moradora há 28 anos da rua da Caixa D'Água, em Alto de Coutos, ela temia que a cena se repetisse sempre que a chuva começava a cair. A casa em que ainda mora fica aos pés de uma encosta.
"Tem mais ou menos uns 10 anos. O barro sempre descia, mas dessa vez foi a pior. Perdi sofá, rack, todos os móveis. Fiquei 15 dias tirando lama da casa, que ultrapassou minha altura. Foi um choque, mas pelo menos não perdi ninguém", conta.
Nessas quase três décadas em que mora no bairro, no subúrbio ferroviário, dona Evaneide diz que procurou órgãos oficiais e políticos para que fosse 'feita' a encosta. Mas somente este ano (quando foram registradas 21 mortes por conta de deslizamentos de terra ocorridos durante o período de chuvas) é que a contenção foi realizada e entregue.
"Eu andei muito, tentando, mas só agora resolveram. Cansei de ver o dia amanhecer, com medo da chuva, mas agora vai dar para dormir. Só falta fazer uma escada. Inauguraram a obra, mas não fizeram escada para acesso", afirma.
Programa
A contenção feita na encosta da rua de dona Evaneide é uma das 111 intervenções que estão sob responsabilidade da gestão municipal. Outras 110 encostas estão com o governo do estado.
Do total (221), somente 11,8% (26) estão concluídas (12 pelo estado e 14 pelo município). A previsão é que todo o conjunto dos dois entes só esteja pronto para o período de chuvas de 2017.
"A divisão das encostas foi acordada pelas equipes técnicas da prefeitura e do governo do estado em uma reunião após as ocorrências de abril deste ano. Cada um ficou com sua capacidade operacional de execução", destaca o chefe da Casa Civil municipal, Luiz Carrera.
Conforme o diretor de habitação da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder), Deusdete Fagundes, as soluções mais recorrentes para a contenção das encostas têm sido as técnicas de solo grampeado e retaludamento gramado: "São obras que têm em média 18 meses para se concluir".
Após a obra de contenção feita pelo governo do estado na avenida San Martin, no bairro do Retiro, a aposentada Valmira Carvalho, 68, pôde finalmente utilizar o quintal da casa onde mora para estender roupas e brincar com os netos. Antes da intervenção, o local era tomado por barro e entulho. "Além de não ter mais medo de ver minha família ser destruída por um tragédia, hoje tenho uma casa limpa, sem ratos nem mosquitos que se escondiam no lixo", conta.

Evaneide finalmente está livre dos deslizamentos (Foto: Edilson Lima | Ag. A TARDE)
Já o auxiliar de cozinha Gilson Nascimento, 32, mora há 17 anos no pé de uma encosta na 2ª Travessa do Alto das Pontes, em São Tomé de Paripe (subúrbio), e aguarda a finalização da contenção que está a cargo do governo municipal.
"A vida aqui é tensa. A gente vive preocupado. Teve uma vez que houve um deslizamento de terra e derrubou a parede do meu quarto. A sorte é que eu e meus filhos não estávamos em casa. Eu já pensei em ir embora", afirma.
Entre os moradores da 3ª Travessa do Progresso, no bairro da Liberdade, o clima é de expectativa. Lá, embora a ordem de serviço já tenha sido assinada, as obras ainda não foram iniciadas.
"Enquanto não começa, seguimos rezando para que não chova", diz a aposentada Conceição Santana, 51, que mora em frente à encosta.