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Embora exista um número crescente de estrangeiros que procuram o Brasil em busca de técnicas de reprodução assistida, alguns brasileiros também viajam para outros países com o mesmo objetivo.
De acordo com a médica e delegada da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana na Bahia, Gersia Viana, há, pelo menos, duas razões que fazem com que eles cruzem a fronteira: maior disponibilidade de doadores de gametas, como ocorre na Espanha; e o desejo de selecionar o sexo da criança, como é possível em alguns estados americanos.
"No Brasil, não temos um grande número de doadores e muitos casais ficam na fila de espera aguardando por uma pessoa com características físicas parecidas com a deles. Por isso, muitos viajam para outros países na esperança de conseguir mais rapidamente", explica a médica.
Para escolha do sêmen, o interessado recebe uma lista com as características físicas dos doadores (sem fotos e anônima), tipo sanguíneo e perfil social para que possa ser feita uma escolha compatível com as características do casal ou da pessoa interessada.
A prática da chamada sexagem fetal (quando os especialistas escolhem um embrião pelo sexo) é proibida no Brasil. "Existe uma polêmica muito grande em torno desse tema, já que muitos acreditam que se começarmos a selecionar o sexo dos bebês, acabamos por selecionar a humanidade", pontua Gersia Viana.
O especialista em medicina reprodutiva e diretor do Fertility Medical Group, Assumpto Iaconelli, lembra que, apesar de já haver muito brasileiro atento às facilidades oferecidas em outros países, a doação de gametas (células reprodutoras) obedece aos preceitos da gratuidade e do anonimato.
"Nem o doador conhece o casal ou a receptora a quem o sêmen foi doado, nem tampouco os receptores terão acesso à identidade do doador", diz.
O especialista chama atenção para os direitos e deveres entre as partes. "Não haverá a menor possibilidade de reclamação, futuramente, de pensão alimentícia ou responsabilidade social pela paternidade. Esse anonimato só é quebrado em situações muito especiais, em decorrência de motivação médica. Ainda assim, a clínica de reprodução assistida faz toda intermediação nesses casos", diz Assumpto.
Para o médico, as mídias sociais têm estimulado o mercado de doação de espermatozoide. O grupo "Sperm Donors" tem, por exemplo, quase 3.500 membros. "Um desses membros, um jovem gay de 26 anos, afirma ter contribuído para o nascimento de dez bebês de nove diferentes mulheres que buscavam um doador nos últimos 13 meses. A doação direta, sem assistência médica especializada, é perigosa. Toda relação sexual desprotegida implica em alto risco de contaminação por DSTs, incluindo o vírus HIV (Aids)", alerta.