A grávida Alessandra teme que planos de saúde fiquem mais caros
Na Bahia, a repercussão sobre a decisão da Justiça Federal dividiu opiniões. Para o presidente da Associação de Hospitais e Serviços de Saúde do Estado da Bahia (Asheb), Ricardo Pereira Costa, não cabe a Justiça interferir na conduta médica.
"Essa medida é tendenciosa. Ao determinar que o profissional que realiza o parto normal deve receber três vezes mais do que aquele que faz uma cesariana, a Justiça parte do pressuposto de que a conduta médica pode ser pautada por dinheiro. Quem tem que decidir qual o melhor procedimento a ser feito é o médico e não a Justiça", afirma.
Ricardo Pereira também é contra a decisão de obrigar as operadoras e hospitais a credenciar e possibilitar a atuação de enfermeiros obstétricos e obstetrizes no acompanhamento de trabalho de parto e no parto em si. A obstetriz é uma parteira com formação profissional.
"Os hospitais privados já contam com um corpo clínico capacitado para realizar qualquer tipo de parto, incluindo enfermeiras obstétricas qualificadas. Essa medida é completamente desnecessária", comenta.
Obstetra e integrante do Movimento de Humanização do Parto, Marilena Pereira afirma que há estudos que comprovam que o acompanhamento de enfermeiras obstétricas e obstetrizes colabora para reduzir o percentual de cesarianas, além de ajudar a reduzir o tempo de parto, os pedidos de anestesia e o uso da ocitocina sintética, medicamento utilizado para acelerar as contrações uterinas.
Estudante do curso superior de Obstetrícia da Universidade de São Paulo (USP) - único do País -, a baiana Liza Nunes, 33, esclarece que as profissionais priorizam a assistência às mulheres.
"As enfermeiras obstétricas e obstetrizes são formadas para olhar o parto como um evento puramente fisiológico. Somos capacitadas para acompanhar o pré-natal e prestar assistência ao parto intra-hospitalar destas mulheres de risco habitual (ou baixo risco), além de atender juntamente com os obstetras. Acredito que os profissionais do parto terão uma ótima oportunidade de trabalhar em parceria", afirma.
Para ela, a integração entre os profissionais trará benefícios. "Os saberes só tendem a somar e isso, sem dúvida, implicará uma melhoria da qualidade da assistência à mulher e ao recém-nascido, além de resultar numa maior satisfação da mulher que foi acompanhada por eles", acredita.
Defasagem
O presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia da Bahia (Sogiba), Carlos Lino, considera as medidas importantes.
"Qualquer medida que venha melhorar a remuneração paga pelos planos de saúde será sempre bem vinda, pois temos um enorme histórico de defasagem. E a presença de enfermeiras obstétricas e obstetrizes no parto, claro que em parceria com o obstetra, só agrega valor", comenta.
O médico destaca, no entanto, que essas medidas, isoladamente, não resolvem a crise enfrentada pelo setor obstétrico. "Precisamos pensar, urgentemente, em melhorar a ambiência hospitalar com equipes capacitadas, pré-natal qualificado e melhorar a oferta de leitos obstétricos, já que há uma clara tendência de diminuição de leitos obstétricos em nossa cidade", enumera.