Professora da Universidade Federal de Pernambuco, Beatrice Padovani ministra palestra
Pesca desenfreada, poluição das águas, superaquecimento dos oceanos, lixo nos mares e a exploração de combustíveis fósseis (petróleo e gás) foram alguns dos temas que estiveram em debate durante a realização da II Oficina sobre Conservação Marinha, que ocorreu essa semana, em Recife (PE).
O evento colocou lado a lado acadêmicos, pesquisadores, instituições e profissionais de comunicação engajados na preservação do ecossistema marinho nacional. Os especialistas expuseram pesquisas que têm sido realizadas há décadas, cujos trabalhos vêm tentando combater a ação predatória do homem.
Organizado pelo Projeto Golfinho Rotador, sediado no arquipélago Fernando de Noronha (PE), o encontro reuniu instituições de preservação que formam a Rede Biomar, composta ainda pelos projetos Baleia Jubarte, Tamar, Coral Vivo e Albatroz, mantidos pelo Programa Petrobras Socioambiental.
Três desses projetos de conservação marinha possuem bases sediadas na costa baiana. O Tamar, assim como o Baleia Jubarte, está situado na Praia do Forte, município de Camaçari (Grande Salvador). Já o Coral Vivo atua no extremo sul do estado, em Arraial d'Ajuda.
Pesca insustentável
Uma das palestrantes, a doutora em biologia marinha do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Beatrice Padovani, destacou que a atividade humana tem causado impactos que extrapolam os limites de pressão nos oceanos.
"A pesca é o maior exemplo. Até 1990, não se discutia o manejo, que, quando bem executado, cria condições para que as populações de peixe se recuperem", avaliou. "Outro problema é o lixo em forma de microplástico, que tem sido ingerido por minúsculos animais e, por tabela, pelos humanos", alertou Padovani.
Também professor do Departamento de Oceanografia da UFPE, o doutor em ecologia marinha Mauro Maida critica a escassez de unidades de conservação, hoje, representadas por apenas 0,05% de reservas ao longo de 4,4 quilômetros quadrados da zona econômica da costa do Brasil.
Restabelecer os pontos que concentram os ciclos de vida para que peixes voltem a se reproduzir, salienta Maida, passa pela necessidade de estabelecer regras para preservar manguezais, estuários e comunidades de corais, que são locais de alimentação e desova.
Para exemplificar, o professor destacou a experiência bem sucedida com o fechamento da Ilha de Tamandaré (PE) para a pesca, por dois anos, o que trouxe os peixes de volta às áreas de reprodução nos corais.
"É preciso endurecer as leis ambientais, mas chamar as comunidades pesqueiras para um acordo e mostrar que a responsabilidade com a sustentabilidade dos ecossistemas é delas, também", concluiu Maida.
*A equipe de reportagem de A TARDE viajou para Recife a convite da organização do evento